Canoa do Tejo, desembarque de passageiros. Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa |
Fazem serviço aos navios, de uns para outros e de ligação com a terra, para passageiros e carga, Além dos que andam empregados na pesca do rio. Pondo de parte o incaracterísticos escaleres, reservados ao serviço próprio dos barcos grandes, ficam-nos à vontade da observação todos os mais [...]
Embarcação (canoa) Zinha, Costa da Caparica, passeio de barco, 1922. Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa |
Da beira dos cais de Lisboa ou dos magníficos miradouros da Cidade, a míudagem do rol de barcos do Tejo impressiona pelo número, todavia menos do que seria preciso para gozar a beleza do rio e em atenção à massa de habitantes das duas margens fronteiras. para um e outro lado, isolados, só por si, muito senbores das suas capacidades, ou a reboque de fragatas, varinos, traineiras e mais exemplares da mediania fluvial, cruzam o rio, atravessam-no, passeiam-no, e pairam na espera longa da pescaria.
Pequenas embarcações do Tejo junto a navio de guerra. Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa |
Ao longo do cais da Ribeira Nova, no descanso horário e na expectativa de serviço formam pela policromia garrida das cores, a parada sugestiva das canoas, a que se associa, uma ou outra chata, emparelhada com elas.
Canoas do Tejo. Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa |
Bateira, batel, batela, bote, canoa, canoeira, catraia, chata, lancha, são barcos pequenos bem conhecidos, uns com quilha, como o bote e a canoa, outros de fundo chato, como a bateira e a chata, do que a esta provém a sugestão do nome, reforçado ainda pela baixeza do bordo.
Embarcações na Doca do Bom Sucesso, 1966. Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa |
Na Ribeira Nova a multidão de barcos carenados, com o seu tipo (canoas), e às chatas, que se associam às vezes na alongada pitoresca, dão os maritimos a designação geral de "canoas", porque estas dominam e as demais são visitas [...]
No Tejo, melhor que os varinos, procedentes da zona marítimo-fluvial de Aveiro, manifestam essa ascendência os batéis de pesca, de bordo elegantemente recurvado, a prolongar-se ao alto nas duas pontas extremas, as bicas. Há os mais pequenos, a oeste da Torre de Belém, margem adiante, e maiores para montante de Lisboa; avista-os do combóio quem se dirija a Cascais, para os primeiros, ou tome a linha do Norte, para os segundos, em pleno Ribatejo; e continuará a encontrá-los, tanto na pesca do rio, como na travessia ao longo da linha de leste, Barquinha arriba — os "barcos" [...]
Embarcações no Cais da Misericórdia. Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa |
As canoas da Ribeira, humildes, de dimensões e de ascendências, não têm pontas proeminentcs, mas terminam em ponta bem definida na proa, e ficaram rasas na quadratura da popa. São construidas com quilha, bem abauladas.
Lisboa, canoas junto ao cais da Parceria. Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa |
Bordo direito, proa em continuidade, sem levantamento, aguçada; popa quadrada; flancos boleados. Tábuas lisas: bordo saliente e uma ou mais molduras, paralelas, de segurança e decoração; movimento a remo longo e a pequena vela, quando a monta e é precisa.
Canoa do Tejo a recolher a vela. Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa |
Estes barcos têm o esquema decorativo de faixas e filetes ou listéis com colorido forte, sempre em disposiçâo paralela, em que não conta a simetria: tudo recebe cor. Os filetes. salientes ou simplesmenle representados a pincel, são pintados muito diferentemente das faixas contíguas.
A variedade e o número das cores empregadas no mesmo barco lembram em alguns deles balões de iluminação de arraial. Há, todavia, os que reduzem a policromio de três, quatro e cinco faixas com os seus listéis; e alguns, o que denota sensibilidade mais calma e dominada, fogem aos coloridos berrantes e às cores fundamentais ou primárias, para utilizarem o azul, o lilâs, o cinzento, de tons leves, que mais se vão suavizar com o branco, até por vezes com predomínio deste []
Por influência da decoração da proa nos barcos grandes e médios, especialmente das fragatas e dos varinos, que no Tejo dão modelo e sugestão aos outros vizinhos, estes barcos apresentam aí ornatos, na faixa lisa entre o bordo e o filete imediato.
De um e outro lado, a faixa é pintada de cor diferente, com o comprimento desejado, e a toda a altura; o remate, oposto à linha da frente, fica em traço vertical ou curva e recurva em feição de "S" oblíquo e de tromba alongada, ou singelamentc arredondado.
Os ornatos, que dominam, são o losango e a estrela de cinco pontas. Formas e combinações losangulares. O losango simples, comprido, para se estender ao longo da tabela decorativa;
losango prolongado por dois outros muito menores no sentido do comprimento; dois losangos das mesmas dimensões, com um terceiro, menor, de permeio;
dois losangos, cada um deles prolongado por dois; dois losangos iguais, ligados por outro menor intermediário, ligado ou isolado, e ambos prolongados, nos vértices opostos, por um outro, iguais sempre ao intermédio; losango simples, entre dois triângulos pequenos; três losangos iguais, em linha.
Estrelas de cinco raios uma, ou três em linba longitudinal ou em disposição triangular. Quando é uma, está inscrita num disco: branca em vernelho ou azul.
Desaparece depois a estrela e fica o disco, vermelho.
Em outros exemplares, as estrelas são substituídas por circulos, igualmente em linha. Em um caso, estes desenhos deram lugar a três rosetas com a mesma disposição. Os mais simples, que observei, manifestam a exigência do ornato, por uma tabela rectangnlar, dividida cm três quadrados seguidos, todos com relevos indistintos, coloridos, ou por séries paralelas de linhas onduladas, a figurarem as ondas do rio, em que o barco anda. Exemplar mais apurado é o da "Diolinda", com bordados em XX curvos, seguidos, pintados a vermelho, a lembrarem as "plumas" decorativas das carroças de Lisboa.
Os ornatos das canoas. Imagem: Hemeroteca Digital |
A combinação e a difusão das cores avivam este esquema ornanental. Ou o losango é inteiro e uno, ou está dividido pelas suas diagonais. A cor tabelar distingue-se formalmente da cor da faixa em que está pintada a tabela da proa ou esta é aplicada; as figuras sobressaem da tabela pela cor ou pela, mais ou menos variada, ligação de cores.
Assim: losango verde sobre amarelo; vermelho sobre amarelo; branco sobre azul; vermelho sobre azul; grupo de dois losangos e seus prolongamentos pintado. de branco em campo vermelho, vermelhos em campo branco; um preto, outro verde, e prolongamentos vermelhos; ambos vermelhos e os prolongamentos verdes; estas duas composições em campo branco; três losangos, dois brancos laterais, branco o do centro, sobre amarelo.
Se os losangos foram abertos pelas diagonais: em campo amarelo, as quatro zonas colorem de branco, vermelho, preto e verde; preto, azul, branco e verde; vermelho, amarelo, branco e azul. Na decoração, já mencionada, composta de losango entre dois triângulos, o losango é quadripartido de branco, amarelo, verde e vermelho, com os doís triângulos vermelhos [...]
Estas cores são predominantemente fortes, por vezes violentas e rudes, o que toma garrido este selo individual e faz mais vista na simplicidade ou na profusão das cores do barco.
Lisboa, canoas junto ao cais da Parceria. Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa |
Os barcos estão a ser constantemente pintados. A água salgada e o sol destingem-lhes a cor, e os barqueiros fazem gala nos seus barcos como o carroceiro o faz na sua carroça. O colorido torna-os atraentes e forma-lhe o cartaz vistoso a provocar preferências. Todavia, entre essas bandeiras multicores, há bastantes barcos por que os donos não manifestam interesse artístico, para lhes servirem apenas em fainas de pescas fluviais e de tráfego.
Para poente do Cais do Sodré, a seguir ao abrigo das fragatas, dos varinos, das lanchas e dos vapores de pequeno porte para reboques, alinham-se na zona própria estes barcos maneirinhos e policrómicos.
Pairam e esperam como sardões ao sol, estendidos lado a lado, aleuns de borco, ao longo das rampas dos cais, em frente do mercado da Ribeira Nova e do pavilhão dos barcos do Clube Naval. Aí se podem visitar e ver como são tratados. A vizinhança dos barcos à vela é elucidativa. Junto destes avistam-se os' botes de serviço, a arrrmedarem os grandes que servem; são grossos, pesados, negros, nada graciosos como estes de que vimos falando: mas lá têm sua proa: um com ela pintada de verde, em costado preto; outro com pintura de branco e, ao centro, mancha rectangular verde, o terceiro com pintura de branco, todas estas pinturas são de campo triangular, com o vértice avançado na ponta da proa [...]
Canoas junto à Estação dos Vapores Lisbonenses no lugar do Cais da Ribeira Nova. Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa |
Não são muitas as canoas com seu nome à proa: vejamos-lhe as variedades.
Nomes de religião: Fé em Deus, S[enhor].r na prisão, Bamos com Deus, Senhora do Livramento. S.ta Catarina, S. Margarida, S.ta Maria Adelaide.
Nomes masculinos: Amândio José, João Alberto, José, Lazarinho, Salvador.
Nomes femininos: Adelaide, Assunção, Celeste, Cristina, Delfina, Diolinda, Isabel (lzabel). Lídia Marques, Lucilia, M.ria Adelaide, Maria Amélia, Maria Emilia, Maria Gertrudes, Maria Helena, Maria Lucília, Maria do Rosário, Maria Virglnia, Natália, Palmira, Rosa.
Nomes ou evocação de flores: A Flor, Flor d'Assunção.
Nomes históricos: D. Nuno A[lvar].es Pereira.
Nomes de gentileza: Graciosa, Boa Viagem, Flor do Rio, Vai e Volta.
Nomes irónicos: Deixa falar, Foi o Destino, Não se ralem, Não te rales, Sem nome.
Nomes de posse dupla: Dois Amigos, Duas Irmãs.
Nomes estranhos: Piricici [...], Trator (tractor, por quê?), Aberína (A Varina?), Artesina (A Teresinha?).
Canoas salvador e Maria Lucilia. Imagem: Hemeroteca Digital |
A maior parte das canoas, porém, não tem nome. Distinguem-se apenas pelo número e mais sinais da matricula marítima do porto. Algumas ainda ostentam à proa uma ou mais estrelas pentalfas, pintadas ou aplicadas e coloridas, a. distinguirem-se da cor da faixa ou do negrume do barco.
Os nomes, onde os haja, foram desenhados e pintados, melhor ou pior, com erros ortográficos e caligráficos ou correctamcnte escritos, a maiúsculas ou minúsculas, na faixa cimeira, sobposta ao bordo; em alguns casos foram postos em tabela de madeira, pregada, excepcionalmente apurada com esmero, rectangular, com duas presilhas nos extremos.
Numa tarde de maré cheia, percorrendo mais uma vez a faixa dos cais da Ribeira, vi alguns barcos, acoitados ao molhe e nas águas mansas. Nunca até então os tinha aí encontrado. São do tipo dos que já foram aqui mencionados, e costumam pairar para oeste da Torre de Belém. Esguios, estreitos, de proa e ré bem pronunciados, são utilizados na pesca do camarão e do caranguejo. Chamam-se canoeiras. Alguns deles, como os de Pedrouços e Algés, não têm qualquer pintura: negros, falta-lhes o gosto dos canoeireiros para os pôr a par da garrida policromia dos seus similares: utilitários e nada mais.
Canoeiros, barcos de pesca do camarão e do caranguejo. Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa |
Os botes das fragatas e dos varinos, mais de uso de bordo que de gala, apresentam-se pretos e breados; muitos deles, porém, embelezam-se com simples adorno, que lhes quebra o mau aspecto, já de si grossos e pesados; mercê de sugestão dos painêis da proa dos barcos a que servem, têm aí também um canto colorido: verde e branco em combinação mais ou menos vistosa; um deles é assim: forma com o canto da linha de bordo e da saliência da roda da proa um painelzinho triangular: dois triângulos concêntricos, o interior verde, e a faixa periférica, entre eles, branca; em cada vértice desta faixa cabe um triângulozito vermelho. Há-os pintados de azul e proa branca, e pretos de proa azul (como ficou dito já).
Barcos junto ao Cais do Sodré. Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa |
Estas canoeiras do camarão (camaroeiros) aparecem por vezes listradas como as suas parceiras as canoas, e certamente por influência estética, delas recebida. São elegantes na sua curvatura alongada, e com os vivos alegres e as cores, menos numerosas e mais sóbrias do que nas canoas.
Canoeiras são canoas grandes, de pesca no rio; movem-se a remo e içam vela; o fundo é chato; as pontas ou "bicas" reviram. Vêm de Setúbal ao Tejo Os "saveiros" sadinos, abertos em crescente, sem a elevação das pontas extremas dos "saveiros" e das "meias-luas", da Trafaria, Caparica e mais alongamento da costa entre os rios Tejo e Sado.
Verifiquei certa hesitação enlre os barqueiros da Ribeira Nova, quando os interroguei sobre os nomes dos barcos ali à vista. Um deles, como já ficou atrás anotado, chamou "canoas" à série de canoas e chatas ali varadas; chamei-lhe a tenção para a presença de chatas entre as canoas, e respondeu-me secamente que tudo aquilo eram "canoas". Outro apontou-me as "canoeiras", nome que dias depois foi substituído pelo de "pios", realmente do mesmo tipo, se não os mesmos de dias atrás.
Embarcações junto ao Cais da Ribeira Nova. Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa |
A catraia tem os caracteres essenciais das canoas, mas de menores dimensões; é uma canoa pequena, como a canoeira, é uma canoa grande. Fixo-me às próprias elucidações dos marítimos interrogados. Estas canoeiras, a que também ouvi chamar canoeiros, estes talvez maiores, pelo que me pareceu compreender, andam no rio, são de fundo chato e movem-se a remo, podendo levantar vela.
Pela margem de Pedrouços adiante se vêem, em fila como as canoas na Ribeira; mostra-os uma das fotografias, que ilustram estas notas. A "bateira" dá o tipo destas embarcações pequenas de pesca fluvial; mas, nos exemplares à vista, junto do paredão e dos embarcadores do Cais do Sodré, é mais curva, mais larga, e vai também a remo e à vela.
No panorama geral destas pequenas embarrações da Ribeira Nova, as canoas são decorativamente os brincos da multidão, na policromia e no arranjo das cores. Há-as sem ordem na coloração, pois estão apenas manchadas inglóriamcnte com borrões de tintas diíerentes, a mais parecerem paletas sujas e abandonadas; outras têm apenas o negrume breado da conservação. Dos outros tipos, só algumas canoeiras, conforme ao que se apontou, apresentam listas coloridas, todavia com maior parcimónia. Tudo o mais é negro e sombrio.
Lisboa (Portugal), Rampa e embarcadouro Ribeira Nova, ed. Martins/Martins & Silva, sn, década de 1900. Imagem: Delcampe |
Um aforismo, à maneira de D. Francisco Manuel de Melo, e talvez por ele algures utilizado, juntou assim a gente do mar e a com ele relacionada: — Em mulher de Alfama, homem do mar e relógio das Chagas, há pouco que fiar.
Note-se que a igreja das Chagas, sobranceira ao Tejo, era de uma confraria de gente do mar; foi construida em 1542 e pertencia à Confraria das Chagas de Cristo, que Fr. Diogo de Lisboa instituira numa capela do convento da Trindade em 1493; sómente podiam fazer parte dela os marítimos das carreiras da lndia e do Ultramar; a imagem era conhecida por Nossa Senhora da Piedade das Chagas de Cristo; trouxe-a um mercador da tndia; a igreja foi dcstrulda pelo terramoto de 1755 e reedificada mais tarde.
Panorâmica de Lisboa e do rio Tejo vendo-se a igreja das Chagas de Cristo, 1905. Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa |
A origem dos nomes típicos dos barcos miúdos compreende-se bem: o batel, barco pequeno, do latim batellum; dele vêm batela, barco pequeno, de fundo chato, usado no Alto Minho, e batelão, aumentativo, grande barca; à famllia pertence a bateira. barco pequeno sem quilha; bote, barco pequeno para serviço fluvial, deriva, segundo Cândido de Figueiredo, do verbo botar, baixo latim, por influência germânica; canoa, do castelhano canoa, id. do germânico, de onde onde também veio canot em francês, e este do mesmo tipo geral elas nossas; chata, nome procedente da própria estrutura do barco, baixo, de fundo chato, isto é, sem quilha.
De alguns destes nomes derivaram.se termos usuais: batelada é carga de batel, mas em atenção a grande carga de batel cheio (batelada de qualquer coisa e, com aumento admirativo, "grande batelada"); canoa aplica-se a qualquer coisa grande ou larga e a mulher gorda (os sapatos grandes são canoas; banheira grande é canoa, etc.); catraia, por ser miúda, é, em gíria corrente, rapariga; catraio é paralelamente rapaz. Ou deram a expressões como "ir no bote", que quer dizer ir no engano, deixar-se alguém ludibriar (F. foi no bote).
Canoas, José Artur Leitão Bárcia. Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa |
O condutor do batel chama-se "bateleiro"; o da canoa é "canoeiro"; em geral, o do barco é "barqueiro". Alguns anexins formam a filosofia popular do barco e do seu barqueiro. — Barco parado não faz viagem. — De barco roto, salve-se quem puder. — Deus adiante, o mar é chão. — Outubro, Novembro, nem Dezembro, não busque pão no mar. — Se não for nesta barqueta, irá noutra que se calafeta. — Por velho que seja o barco, sempre passa o vau. — Quem não entra no mar, não se afogará.
Canoas de transporte de passageiros junto à Praça do Comércio, Augusto Bobone, anterior a 1910. Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa |
Os marítimos de Lisboa formavam várias irmandades com suas capelas e os respectivos oragos: — a da Senhora das Necessidades, cm Alcântara, que deu o nome ao Palácio, construido no lugar da capela por D. João V; — a do Senhor dos Navegantes e de Nossa. Senhora da Caridade, na igreja do mosteiro da Esperança, de onde as imagens foram levaclas para uma barraca do Mocarnbo depois de salvas da derrocada do mosteiro por obra daquele mesmo terramoto, e, mais tarde, construído novo templo, ficaram ao culto na Capela dos navegantes» (Senhor dos Navegantes), sita na rua do mesmo nome, no bairro da Lapa; — a da Senhora dos Remédios, em Alfama. venerada pela gente do mar da Ribeira Velha; — a de S. Pedro, na Ribeira das Naus, para os homens das construções navais, etc. E tinham culto especial pela Senhora da Penha de França e pelo Senhor dos Paços da Graça, em cujas igrejas, o atestam numerosos, ex-votos de feição marítima.
Procissão da Nossa Senhora da Atalaia em Lisboa antes da travessia do rio para a Outra Banda. Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa |
Em frente de Lisboa, na Outra Banda, ainda os marítimos veneram suas invocações marianas, protectoras da azáfama e dos perigosos em que vivem o dia a dia: — Nossa Senhora do Rosário, no Barreiro e na Costa da Caparica; — Nossa Senhora dos Navegantes, em Cacilhas; — Nossa Senhora do Bom Sucesso, em Cacilhas e em Porto Brandão; — Nossa Senhora da Boa Viagem, na Moita; as festividades, prindpalmente a da Costa da Caparica, têm características predominantemente marítimas.
Lisboa, Vista tomada de Cacilhas, ed. Martins/Martins & Silva, 7124, década de 1900. Imagem: Delcampe |
Do lado de cá enumeram-se: — Nosso Senhor ou Jesus dos Navegantes, em Paço de Arcos, tão da estima dos "lobos do mar" desta praia, ja tão próxima da foz do Tejo; — Nossa Senhora do Porto Salvo, acima de Santo Amaro de Oeiras, com uma capela de alpendre e fachada guarnecida de dois painéis de azulejos de Policarpo de Oliveira Bernardes, construída num cómoro, que se avista da entrada da barra: — Nossa Senhora da Guia, em Cascais, antes de entrar no Tejo.
Cascais, praia dos pescadores. Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa |
E basta apontar estes, não esquecendo, todavia, a "Senhora do Cabo" de Espichel, para se considerar a devoção dos marítimos de Lisboa ou de à sua beira.
(1) Revista Municipal, n.° 62, Lisboa, 1954
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Informação adicional:
Carlos Mateus de Carvalho, Memórias de fragateiros, As embarcações tradicionais do rio Tejo
The Tagus Estuary Traditional Boats
Delcampe (Ribeira Nova)