Páginas

domingo, 11 de maio de 2014

Largo do Costa Pinto

Cacilhas (Portugal), Largo do Costa Pinto, ed. Martins/Martins & Silva, 18, década de 1900
Imagem: Delcampe

Com as festas de Afonso XIII encheu-se muita gente.

Um regabofe.

Da iluminação da Avenida diz-se: — Dos Restauradores para cima dirige o Costa Pinto, dos Restauradores para baixo digere o... (1)


Jaime Artur da Costa Pinto
Imagem: Biblioteca Nacional Digital Brasil

Registrando o desastre que reduziu à miséria os pescadores da Costa de Caparica, não podíamos deixar de inserir o retrato do infatigavel e benemerito deputado por Almada, Jayme Arthur da Costa Pinto, a quem se deve a iniciativa dos soccorros tendentes a minorar o infortunio d'aquelles infelizes.

O digno representante do circulo d'Almada é natural de Lisboa.

Arrojado, emprehendedor e honesto como poucos, e tendo meios de fortuna que o tornam independente, entregou-se a vida politica, e ja por tres vezes tem representado em côrtes o circulo d'Almada.

É, ha uns poucos de annos, secretario da junta geral do districto de Lisboa, eleito pelo circulo do Barreiro, Seixal e Cezimbra, e tem ali tomado parte em quasi todas as discussões, prestando os maiores serviços ao districto de Lisboa e muito especialmente ao seu circulo.

Como deputado é incansavel, e nao ha memoria de quem tenha prestado mais relevantes serviços aos seus eleitores.

A elle se attribue a extincção do  grande pantano da Trafaria e as obras que ali se estão fazendo e que vão transformar n'um vasto parque de pinheiros aquella paragem.

Foi tambem por sua iniciativa que se destruiu o famoso forte de Cacilhas, transformando-se n'uma vasta praça aquelle montão de ruinas.

Notícia do jornal O Século em 2 de Março de 1884
Imagem: Antigos Alunos Emídio Navarro

No grande incendio que ainda ha pouco houve n'uma fabrica de cortiça na Margueira, o sr. Costa Pinto foi um dos primeiros a comparecer prestando valiosissimos serviços.

O sr. ministro do reino Thomaz Ribeiro quiz por essa occasiào agracial-o com a medalha de prata que s. ex.a recusou.

Jayme Pinto, durante a ultima legislatura, tomou larga parte na discussão do imposto do sal, defendendo energicamente os interesses dos pescadores e das classes pobres.

Ultimamente, o governo teve de ceder, n'esta questão. ao judicioso e acertado alvitre do illustre representante, que pediu a extincção do imposto do pescado na sardinha e no carapau, em troca do imposto do sal.

Jayme Authur da Costa Pinto foi um dos directores da Exposição Agricola que ultimamente se realisou na Tapada da Ajuda, e um dos que mais contribuiram para o seu exito brilhante.

É editor de uma publicacao agricola, redigida pelo conselheiro João de Andrade Corvo, e fundou em Lisboa a Empreza Industrial e Commercial Agricola, para a venda de machinismos e adubos que ainda hoje existe.

Taes são os traços priucipaes da vida d`este trabalhador honesto, a quem os habitantes da Costa de Caparica tanto devem. (2)

No dia 23 de Outubro de 1892, realizaram-se eleições para deputados.

Apresentaram-se dois candidatos monárquicos: António José Batista, apoiado pelos Progressistas, e Jaime Artur da Costa Pinto, proposto pelo Governo, através do administrador do concelho, Maurício Carlos Martins de Oliveira e apoiado pelos conservadores da cidade, ligados ao Partido Regenerador, a que se juntou o Progressista António Rodrigues Manitto.

Os Republicanos mais radicais não aceitavam apoiar António José Batista por este ser monárquico.

Assim, juntaram-se aos seus correligionários do resto do país, numa tentativa de luta contra os vícios eleitorais instituídos.

Convocaram uma assembleia democrática para o dia 28 de Setembro, na qual elegeram uma comissão com a incumbência de elaborar o Manifesto dos Abstencionistas, que dirigiram a todo o país.

Os ânimos agitavam-se na cidade, uma vez que o candidato governamental era apoiado pelo administrador do Concelho Maurício Carlos Martins de Oliveira, homem muito contestado, face aos incidentes verificados na cidade aquando do Ultimatum Inglês.

Assim, durante a campanha eleitoral de 1892, António José Batista aproveitou a animosidade existente e utilizou aqueles acontecimentos contra o seu opositor.

O resultado, tal como todo o processo eleitoral do círculo, foi amplamente contestado, pois o presidente da Mesa Eleitoral de Alcácer do Sal fora substituído, no momento das eleições, por um homem da confiança do administrador do concelho.

Alcácer do Sal, ed. Martins/Martins & Silva, 139, década de 1900
Imagem: Delcampe

Foram ainda colocados, por detrás da Mesa, dois homens com sacos contendo votos com o nome de Jaime Artur da Costa Pinto, que entregavam a todos os eleitores na altura da votação.

Estes eram obrigados a introduzir o boletim na urna ou a trocá-lo na presença da Mesa.

Poucos tiveram coragem de efectuar a troca.

A própria urna fora feita na véspera das eleições, com fundo facilmente violável e depositada durante a noite, com os votos do dia anterior, numa casa junto à Igreja.

António José Batista comunicou ao Rei estes acontecimentos, assim como a permanência de dois homens (um dos quais era vogal da Mesa) na Igreja, durante a noite, para poderem trocar os votos já introduzidos na urna.

O Rei prometeu fazer justiça e remeteu o caso ao Ministro do Reino, que não tomou quaisquer providências.

No dia seguinte, pelas dez horas da manhã, as autoridades prenderam os dois indivíduos, escondidos na Igreja desde a véspera, mas a burla já estava feita e o administrador do concelho, longe de remeter os prevaricadores ao tribunal, mandou-os para casa, sem qualquer admoestação.

in Vamos viajar no Tempo, Políticos Setubalenses


Em Cascais, inaugurou-se, na tarde de 5 deste mês [setembro de 1954], um monumento a Jaime Artur da Costa Pinto, que foi deputado da Nação e presidente [, desde 1890,] da Cámara Municipal daquela formosa vila e estância turística.

Nascido em Lisboa em 1846, faleceu nesta mesma cidade no dia 10 de Janeiro de 1909.

Foi um homem de coração generoso e um espírito de largas iniciativas.

Deputado em várias legislaturas pelos círculos de Almada, Barreiro, Lisboa, Mafra, Seixal e Sesimbra, nunca, através da sua acção, procurou servir os seus interesses pessoais, mas, sempre, os problemas locais e as obras de assistência.

Gomes Netto
Gomes Netto vs. Costa Pinto
por Raphael Bordallo Pinheiro
Revista Pontos nos ii
104
107
109
112
159

Costa Pinto

Foi provedor do Asilo da Ajuda e da Real Casa Pia de Lisboa.

Como presidente do Municipio de Almada, conseguiu a extinção do pantano da Trafaria e a fixação das dunas, com a plantação de pinhais.

Ao longo de 19 anos, como presidente da Camara Municipal de Cascais [SIPA], realizou obra igualmente notável.

Cascais, Praça D. Luís e Edifício Municipal, ed. J Vianna, 19, c. 1885
Imagem: Real Villa de Cascaes no Facebook

O homem de coraçao manifestou-se em muitas obras: no bairro dos pescadores da Costa da Caparica e na sua qualidade  de sócio fundador da Associaçao Protectora das Crianças.

Cascais, entre outros melhoramentos, deve-lhe a construção da Escola-Monumento D. Luis I.

O seu testamento foi escrito em Cascais, na sua casa da Rua da Alfarrobeira, "tendo por tecto a copa das árvores que ha cerca de trinta anos com as minhas mãos plantei, e as quais são para mim velhos amigos que nunca me deram desgostos, mas sim refrigério e gozo".

Esse homem, bondoso e de espirito empreendedor, (fundou também a Companhia Promotora da Agricultura Portuguesa), foi amigo pessoal de L. Mendonça e Costa, primeiro proprietário e director da Gazeta dos Caminhos de Ferro. (3) 

Companhia Real Promotora da Agricultura Portuguesa, título de uma acção
Imagem: HWPH



(1) Brandão, Raul, Memórias, Vol. I, Porto, Renascença Portuguesa, 1919

(2) Almanach Illustrado do Correio da Europa, revista ilustrada de Portugal e do estrangeiro, n.º 1278, 30 Jun. 1914

(3) Gazeta dos Caminhos de Ferro, n.° 1602, 16 de setembro de 1954

Sem comentários:

Enviar um comentário