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terça-feira, 17 de junho de 2014

H. Parry & Son, estaleiro no Ginjal

Vista dos Jardins e Palácio do Conde Burnay e do Tejo (detalhe), Francesco Rocchini, finais do século. XIX.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

Ha no destricto desta Freguesia dous pórtos de mar, hum he о da Fonte da Pipa, com seu Forte para a banda do Poente, com huma praya como a deu a natureza sem artificio algum, frequentado de muitas embarcações, especialmente lanchas, que a ella vem fazer aguadas, e pode admittir até dezoito désta casta de embarcações.

Cacilhas, Praia da Fonte da Pipa e Olho-de-Boi, João Vaz.
Imagem: Casario do Ginjal

O outro porto he o do Cubal, com huma praya mais espaçosa, que a do primeiro, assim no comprimento, como na largura, tambem sem artificio, frequentado de varias embarcações, como são; bateiras, e fragatas, e as que o frequentão todos os dias fao dezasseis, e tem capacidade para admittir até cincoenta embarcações, como barcos de Cassilhas, que em muitas occasioens do anno vem amarrar nella, pela causa de ser abrigado das tormentas dos Nordestes, e Lestes, que por aqui correm com grande violencia. (1)

Almada, Ginjal, Paulo Emílio Guedes & Saraiva, 21, década de 1900.
Imagem: Fundação Portimagem

1852 — Os caldeireiros Hugh Parry e George Oakley chegam a Lisboa para trabalhar no Arsenal de Marinha.

1855 — Hugh Parry e George Oakley estabelecem-se por conta própria em Lisboa na Boa Vista. Nasce a H. Parry & Son.

1860 — [início da década de] Estabelecimento da Parry no Ginjal, no Cubal. Lançamento à água do Alcântara, vapor para transporte de passageiros, seguir-se-iam o Progresso o Lisbonense e o Belém — usavam como meio de propulsão rodas laterais, mediam cerca de 30 metros de comprimento, o casxo era em ferro e tinham uma lotação de cerca de 200 passageiros. 

Vapor da carreira de Cacilhas, 1890, Óleo, Alfredo Keil
Imagem: Casario do Ginjal

A sua construção era de tal forma resistente que estiveram ao serviço no Tejo mais de 30 anos.

1864 — Lançamento à água do Belém, o primeiro barco construído no estaleiro da Parry no Ginjal.

Navio a vapor Belém, o primeiro lançado ao mar em 1864
Imagem: Restos de Colecção

1866 — Associa-se à Parry Francis Churchill Cannell, genro de Hugh Parry.

1869 — Lançamento do Vapor n° 1 da Alfândega de Lisboa tendo como meio de propulsão a hélice.
[...] ahí por Fevereiro de 1874, [...] Começava n'essa ocasião o assentamento da linha de Carris de Ferro Americanos, do Terreiro do Paço ao Conde Barão, e existia, não havia muito, a carreira de vapores de rodas para Alcântara e Belém, de cuja opulenta frota fazia parte o roncador e cuspinhento vapor Progresso, com seu simbólico titulo de arrojado meio de transporte, e no qual tantas vezes embarquei.
in Prólogo do auto da Lisboa Velha, Affonso Lopes Vieira.
1876 — Morre Hugh Parry. Francis Cannell assume a gerência da empresa.

1890 — Ultimatum inglês.

1893 — Promessa de venda do estaleiro do Sampaio na Praia da Lapa em Cacilhas à firma H. Parry & Son pela importância de 90.000$000 réis.

1895 — Lançamento à água das lanchas canhoneiras Diogo Cão e Pedro de Annaya, encomenda da Subscrição Nacional em consequência do Ultimatum inglês. Também no mesmo ano foi construída a lancha canhoneira Honório Barreto.

1898 — Lançamento à água da canhoneira Chaimite.

Estaleiro no Ginjal, H. Parry & Son.
Imagem: Restos de Colecção

1899 — Concretização da venda do estaleiro do Sampaio de Cacilhas à H. Parry & Son.

1903 — Lançamento à água da canhoneira Tete.

Lancha canhoneira Tete.
Imagem: graptolite

1904 — Lançamento à água da lancha canhoneira Sena.

1938 — Fim do contrato de arrendamento do estaleiro da Parry no Ginjal e transferência de todos os serviços para Cacilhas. (2)

Embarcação de passageiros das carreiras do rio Tejo.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

Na praia do Cubal [Cubalinho], naturalmente inclinada, estavam montadas as carreiras de construção, em madeira.

A murallha do cais era aí interrompida por uma ponte que se elevava quando havia lançamentos 

Estaleiro de construções navaes, H. Parry & Son, Cubal, Ginjal, 1890
Imagem: Museu de Marinha

"Quando a gente passava havia um sítio onde se metiam lá os batelões. Levantava-se aquela madeira para o batelão entrar, depois pousava-se a tábua. Era da Parry." (3)


(1) Cardoso, Luís, Diccionario geografico, ou noticia historica de todas as cidades..., Lisboa, na Regia Officina Sylviana e da Academia Real, 1747, 2 vol.

(2) Luzia, Angela, Esteves, Joana, Santos, Maria José E., A indústria naval em Almada: na rota do progresso, Almada, Câmara Municipal, 2012, 97 págs.

(3) Gonçalves (coord.), Elisabete, Memórias do Ginjal, Almada, Centro de Arqueologia de Almada, 2000, 88 págs.

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