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quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Nossa Senhora da Piedade

Cova da Piedade, igreja Nossa Senhora da Piedade, década de 1970.
Imagem: almaDalmada

No século XIV há várias referências em Almada, desde pelo menos 1366, ao sítio de S. Simão na Mutela, lugar pelo qual era conhecida a actual Cova da Piedade, contudo esta referência pode ter sido apenas uma imagem, nicho ou cruzeiro.

Em 1402, regista-se a primeira referência que conhecemos da Ermida de S. Simão, que confrontava então com uma Quinta dos Padres de S. Domingos de Lisboa, [Quinta dos Frades] actual Museu da Cidade.

Em 1553, numa Visitação da Ordem de S. Tiago, temos a primeira descrição conhecida da ermida, a qual tinha uma orientação e possivelmente localização diferentes da actual Igreja da Piedade.

Em 1574, toma posse da ermida um ermitão, por nome Frei Fernando, o qual adquire novas imagens para a Ermida de S. Simão e nela manda fazer obras com esmolas dos fiéis.

Entre 1582 e 1595, a Casa de S. Simão da Mutela serviu de pequeno cenóbio religioso de irmãos da Ordem Terceira de São Francisco provenientes do Convento de Santa Catarina de Vale Mourol de Santarém, os quais aqui ficaram até se mudarem para uma nova casa, no Vale dos Cardais em Lisboa, depois Convento de Jesus.

Entre as imagens mais antigas, hoje existentes no espólio da Igreja da Piedade, a mais antiga de todas é a de um Cristo arcaico, imagem popular talvez datada do século XVI, as restantes são já, presumivelmente do século seguinte, nomeadamente as esculturas de Nossa Senhora da Piedade, a de Santo António de Lisboa e a do Cristo crucificado, esculpido em madeira brasileira (recentemente restaurada), havendo também duas pinturas seiscentistas, uma representando a Virgem da Piedade e a outra o Evangelista São Mateus.

Tudo indica pois que, ou por devoção do ermitão, como relatam as memórias setecentistas, ou por influência franciscana, o culto de Nossa Senhora da Piedade, devoção profundamente franciscana, e marcadamente pós-conciliar, tenha sido introduzido na Casa de São Simão de Almada no fim do século XVI, de tal modo que já em 1606, devotos de Lisboa decidem aqui erigir uma Irmandade de N. Sr.ª da Piedade, cujo Compromisso tem entre os seus signatários o mesmo Fr. Fernando.

Frontespício do Compromisso da Irmandade da Virgem Nossa Senhora da Piedade sita na ermida de S.Simão de Mutela termo de Almada.
Ordenada no ano de 1606.
Imagem: Rui Manuel Mesquita Mendes

O Compromisso de 1606 fala da devoção à imagem que estava na Ermida de S. Simão da Mutela, mas também refere uma Igreja de S. Simão, não sendo clara a localização de ambas.

Talvez a segunda estivesse então a ser de novo edificada, pois os relatos do século XVIII dizem que "segundo a tradição passado algum tempo sonhou o Ermitão com huma Senhora da Piedade, e fazendo diligencia pela Imagem, com que tinha sonhado, a fora achar em huma casa da Sé de Lisboa, [hoje Basílica de Santa Maria] e pedindo-a se lhe deu; 

Nossa Senhora da Piedade, escultura do século XVII.
Imagem: Paróquia da Cova da Piedade

e trazendo-a para a Ermida de S. Simão, ahi começara a Senhora a fazer muitos milagres, e com esmolas, que concorrerão se fez o Recolhimento com o nome da Piedade".

De facto o referido Compromisso também determina aos seus irmãos que colhessem esmolas para erigir uma nova Capela de abóbada e arco de pedraria, para aí alojarem condignamente a imagem de Nossa Senhora da Piedade.

Em 1609, um novo ermitão, Pe. Jorge Freire, já aparece como Ermitão da Ermida de S. Simão e N. Sr.ª da Piedade.

Em 1616, funda-se de facto o Recolhimento de Nossa Senhora da Piedade para senhoras Beatas, e em 1620 constroem-se casas para os romeiros e para a irmandade.

A partir da segunda metade do século XVII perdem-se as referências de uma igreja e de uma ermida separadas e as descrições do século XVIII (Dicionário Geográfico) falam de várias edificações e de ermitães, mas são inconclusivas quanto a datas…. a certeza porém que, após o Terramoto, a igreja foi reedificada entre 1762 e 1764, sendo a partir dessa data conhecida apenas como Igreja de N S da Piedade! (1)

Mouth of the River Tagus (detail), page from Gentleman's Magazine, Jan 1756.
Imagem: UNIVERSITY ARCHIVES

Estes e outros elementos sobre a Nossa Senhora da Piedade podem ser encontrados no Centro de Documentação de Instituições Religiosas e da Família.
Este serviço, inaugurado em 4 de Novembro de 2012 e integrado no Centro Social Paroquial Padre Ricardo Gameiro (Cova da Piedade), instituição actualmente dirigida pelo Pe. José Pinheiro, pároco da Cova da Piedade, tem por finalidade apoiar as paróquias e outras instituições sociais do concelho de Almada (tendo para esse fim o acordo do Sr. D. Gilberto, Bispo de Setúbal, e um protocolo com a respectiva Comissão Diocesana de Arte Sacra) no inventário, conservação e digitalização do seu espólio arquivístico e bibliográfico.
É um trabalho feito, na sua larga maioria, por uma equipa de voluntários, da qual faço parte, embora com o apoio de profissionais especializados, coordenados pela Dr.ª Alexandra Figueiredo.
Já se encontram digitalizados a totalidade do espólio conhecido das Paróquias de Cova da Piedade e Monte de Caparica, assim como do Jornal de Almada, e encontra-se neste momento em tratamento e vias de digitalização o espólio do Seminário de Almada e da Paróquia de Almada. Outras se seguirão.
Este espaço está situado na Quinta da Ramalha, Cova da Piedade, antiga propriedade rústica também recentemente restaurada, dotada de uma magnífica capela com origens no século XV e reedificada no século XVII.
Fica aqui o convite para uma visita para conhecerem um pouco da nossa história e património. (2)

Adro da igreja Nossa Senhora da Piedade, 1962.
Imagem: AMVC

No da 18 do corrente, véspera da sua festividade annual, se cantará huma solemne Missa, por múzica vocal e instrumental, pela conservação da Precioza Vida de Sua Magestade o Senhor D. Miguel I, Augusto Protector Prepétuo da mesma Real Irmandade, finda a qual se fará a inauguração das Reaes Armas no frontespício da Real Capella do Apostollo S. Simão, onde a mencionada Irmandade se acha erecta (...) pelas Mercês que o Mesmo Augusto Senhor foi servido liberalizar a esta irmandade declarando-Se seu Protector Perpétuo, e concedendo á mesma, e á Capella, em que se acha erecta, o título, Honras e Privilégios de Reaes.

in Gazeta de Lisboa, 18 de agosto de 1830 (3)


Bandeira nacional de Portugal de 1826 a 1830,
Bandeira de D. João V, usada pelos Miguelistas ou Absolutistas.
Imagem: Wikipédia


(1) Rui Manuel Mesquita Mendes, 19 de abril de 2014
(2) Idem

(3) Centro de Arqueologia de Almada, Cova da Piedade, Património e História, Cova da Piedade, Junta da Freguesia, 2012.

Artigo relacionado: S. Simão das Barrocas

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