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terça-feira, 30 de setembro de 2014

Jardim da Piedade

O jardim da Piedade,

Cova da Piedade, Jardim Público, ed. Papelaria Jubal, 2,  ed. Postalfoto, década de 1960.
Imagem: Delcampe

É pequeno mas tem graça,

Cova da Piedade, Arredores de Lisboa, ed. António M. Ribeiro.
Imagem: Delcampe

Tem um chafariz no meio,

Cova da Piedade, Arredores de Lisboa, ed. António M. Ribeiro.
Imagem: Delcampe

Dá de beber a quem passa. (1)

Cova da Piedade, Rua Tenente Valadim, ed. desc., década de 1900.
Imagem: Delcampe


(1) Quadra popular, no início do século XX, citada em Flores, Alexandre M., António José Gomes: O Homem e O Industrial (1847 -1909), Cova da Piedade, Junta da Freguesia, 1992, 175 págs..

domingo, 28 de setembro de 2014

Graça Divina

Fragata Graça Divina, S. João Baptista (1779-1781)

Fragata de 50 peças e 400 t que foi adquirida pelo Estado em 1779 na Baía.

Incêndio da Fragata Graça Divina S. João Baptista, Joaquim Manuel Rocha (1727 - 1786), 1781.
Imagem: Palácio do Correio Velho

Em 1781 ardeu completamente no Tejo. (1)


(1) Esparteiro, Cmdt. António Marques, Catálogo dos navios brigantinos (1640 - 1910).

Informação adicional:
História Nautica, As fragatas à vela
Marinha de Guerra Portuguesa: Arsenal Real da Marinha de Lisboa

sábado, 27 de setembro de 2014

A sereia

A Costa — a sereia do Sul — tem muitos apaixonados...

Caparica, miradouro do Convento dos Capuchos, 1954.
Imagem: Delcampe, Bosspostcard

Como todos os apaixonados — loucos de amor por ela (sempre o eterno feminino!...), cegos de paixão, egoistamente têm procurado preserverá-la de quantos se possam aproximar, enamorar-se também, e envolver a sereia noutro ambiente que não seja o da primitiva rusticidade.

Exclusivismos de amor... Todos os sinceros amantes são exclusivistas...

Mas o leito da praia tem sete léguas.

A sereia expraia-se por sete léguas do mesmo areal, da mesma païsagem, do mesmo quadro.

Pode aqui formar-se um grupo de admiradores que perturbe o devaneio do poeta, a lucubração do artista, o sonho do azul, o romance da vaga — mas mais adianle, uns quilómefros mais adianíe, no mesmo quadro de séculos, no mesmo areal de sempre, a sereia espreguiça-se à vontade, chamando os seus apaixonados para mais longe... mais longe... e depois ainda mais longe... onde a sós, num mudo colóquio de amor, continue o devaneio, o sonho, o romance de encantamenio e de paixão...

Costa da Caparica, turistas, década de 1950.
Imagem: Cocanha

E entretanlo vem a multidão também extasiar-se perante a maravilha...

O poela e o artista descobriram e bradaram o mistério de beleza — a beleza eterna que só aos eleitos é dado desvendar.

Costa da Caparica, turistas, 1956.
Imagem: Eulália Duarte Matos

E a multidão acudiu a êsse brado e viu a coluna de espuma em curvas de sensual beleza, incensada de aromas, resplendente de luz — e quedou-se maravilhada.

Aquela era a beleza magestosa em que a natureza se diviniza...

Costa da Caparica, turistas, agosto de 1940.
Imagem: Delcampe, Bosspostcard

E a multidão rodeando a imagem, — o sonho, o devaneio, feitos luz, aroma e espaço — completou o quadro.


(1) Praia do Sol (Caparica): estância balnear de cura, repouso e turismo, Monografia de propaganda do Guia de Portugal Artístico, 1934, M. Costa Ramalho, Lisboa.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O farol de Cacilhas

Em 1886, a lanterna que assinalava a navegação, no pontaleto, foi substituída por um farolim.

Era todo em ferro, pintado de verde, dispondo de luz verde conforme as convenções internacionais e, ao seu lado, numa pequena casa, tinha uma corneta ou "ronca", para sinal de nevoeiro, accionada a ar comprimido. (1)

Farol de Cacilhas, 2010.
Imagem: Wikipédia


No longínquo dia de 15 de Janeiro de 1886, o Farol de Cacilhas iniciou as suas funções como Ajuda à Navegação.

Implantado no pontal [i. e. no pontaleto] de Cacilhas, este dispositivo de assinalamento era constituído por uma torre cilíndrica em ferro, pintada de vermelho com 12 metros de altura por 1,70 metro de diâmetro, dispunha de uma lanterna cilíndrica (espaço onde fica instalado o equipamento luminoso) com 8 vidraças e cúpula esférica pintada de verde, encimada por uma pequena esfera sobre a qual estavam montados um catavento e um pára-raios. 

Pontaleto de Cacilhas, espólio do duque de Palmela, 1885.
Imagem: Delcampe

Foi equipado com um aparelho iluminante de 5ª ordem (0,375m de diâmetro), com candeeiro de 2 torcidas. 

A luz era fixa, branca, alimentada a petróleo, disponibilizando um alcance luminoso de 11,5 milhas e iluminando um sector de 342º.

A partir de 9 de Maio de 1886 ficou pronto a funcionar um sinal sonoro estabelecido a Este do farol, abrigado numa guarita de ferro, constituído por um sino automático de movimento de relojoaria, o qual dava uma batida a intervalos de 5 segundos.

Farolim e moinho de Cacilhas, Plano Hidrográfico do Porto de Lisboa (detalhe), 1932.
Imagem: TV Ciência

Historicamente o Farol de Cacilhas teve diversas combinações de cor entre a sua estrutura e a luz que emitia, sendo que em 1886, quando entrou em funcionamento, a estrutura era de cor vermelha e a luz de cor branca.

Cacilhas, Ao entardecer, Colecção Latina, Colecção Latina, Frederico [Pereira] Ayres, c. 1930.
Imagem: O FAROL - Associação de Cidadania de Cacilhas

Posteriormente (1928) a luz passou a ter cor verde e em 1935 a própria estrutura passou a ser de cor verde, a qual se manteve até ao momento da sua desativação em 1978.

Quando da sua reimplantação em Cacilhas (embora sem funções de farol, apenas como marca histórica), optou-se por recriar as características da sua inauguração, pelo que a estrutura ficou de cor vermelha e a luz (embora de baixa intensidade) de cor branca.

Excerto do esclarecimento prestado pela Chefia do Gabinete de Estudos — Direcção de Faróis, solicitado em Abril de 2012, na sequência da polémica, sobre a actual cor da torre do farol.

Almada, Pharol de Cacilhas, Paulo Emílio Guedes & Saraiva, 03, década de 1900.
Imagem: Fundação Portimagem

Em 1 de Janeiro de 1905, após ter sofrido algumas alterações de natureza técnica, o aparelho iluminante modificou a sua característica, passando a operar por ocultações de 5 segundos espaçadas por 55 segundos.

Cacilhas, Molhe e pharol, ed. Martins/Martins & Silva, 19, c. 1900.
Imagem: Delcampe, Oliveira

Entre Março de 1916 e 26 de Dezembro de 1918 o farol esteve apagado, por imposição de âmbito operacional, resultante da 1ª Grande Guerra. 

Em 1925 o aparelho iluminante foi substituído por outro de 4ª ordem (500mm diâmetro), tendo a característica do seu foco luminoso sido alterada em 01 de Março de 1927, passando de luz de ocultações, para luz de relâmpagos verdes.

Em 1931, foram anexadas duas pequenas câmaras, uma para a instalação do sinal sonoro e outra para acondicionamento das garrafas de gás.

Estes compartimentos viriam a ser ampliados em 1957, recebendo um segundo piso.

Cacilhas, estação fluvial, década de 1960.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

No mesmo ano, o sinal sonoro foi substituído por uma trompa de ar comprimido, tendo o sino sido cedido ao Instituto de Socorros a Náufragos para ser posteriormente instalado na Ericeira.

Em 1957 foi electrificado com energia da rede pública, ficando a utilizar como fonte luminosa a incandescência eléctrica com reserva a gás, tendo sido equipado com uma lâmpada de 500W / 110V e bico de gás acetileno com manga.

Farol de Cacilhas, ed. Passaporte, 20, 1957.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

Aquando da inauguração do monumento ao Cristo-Rei (17 de Maio de 1959), foram montados 3 altifalantes no varandim do farol, para possibilitar a difusão à população de informações relacionadas com o evento.

Em Julho de 1959 o farol foi ligado à rede pública de água e o seu sinal sonoro desactivado em 31 de Março de 1977.

Cacilhas, vista do farol e do Tejo, ed. Cómer, década de 1960.
Imagem: Delcampe

Em 1978, com o aumento do número de cacilheiros e procurando ir de encontro ao conforto das pessoas, enquanto aguardavam o transporte fluvial no cais, evitando que estivessem permanentemente sujeitas a condições climatéricas adversas, foi tomada a decisão de desactivar o farol e, no local correspondente, construir uma gare de embarque de passageiros.

Cacilhas, farol e autocarros da Beira Rio, 1964.
Imagem: Lighthouses of Southern Portugal

Numa primeira fase ainda foi ponderada a colocação do Farol de Cacilhas noutro local, no entanto, a avaliação de que o farol já não apresentava interesse prático e utilidade como Ajuda à Navegação, conduziu inevitavelmente à extinção daquele dispositivo de assinalamento marítimo, tendo sido apagado no dia 18 de Maio de 1978 e iniciada a sua desmontagem nesse mesmo dia.

O último faroleiro a prestar serviço no Farol de Cacilhas, foi o faroleiro de 2ª classe (à data) Edgar Duarte Marques Casaca.

O antigo Farol de Cacilhas acabou por, em 1983, ser deslocado para a Ilha Terceira, nos Açores, com o objectivo de substituir o Farol da Serreta que fora destruído pelo sismo de 01 de Janeiro de 1980 (ler o artigo completo...) (1)

Lanterna instalada no Pontaleto de Cacilhas, Carta hydrographica do littoral de Cacilhas (detalhe), 1838.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal


(1) Pereira de Sousa, R. H., Almada, Toponímia e História, Almada, Biblioteca Municipal, Câmara Municipal de Almada, 2003, 259 págs.

(2) Direção dos faróis, Revista da Armada, setembro/outubro 2009.

Artigos relacionados: 
Na esplanada do forte de Cacilhas

Informação adicional: 
Direção de Faróis

O FAROL - Associação de Cidadania de Cacilhas
Boletim "O Pharol"

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Quarentena

Rafael Bordalo [Raphael Bordallo] Pinheiro (1846 - 1905), presença no Brasil de 1875 a 1879.

Rafael Bordalo Pinheiro.
Imagem: Hemeroteca Digital

Meu caro Tejo de Cristal. Cheguei há dias do Brazil.

The Pacific Steam Navigation Company's Royal Mail Steam Ship, John Elder 3,500 Tons, 600 HP. Built by John Elder & Co., Glasgow, 1869.
Imagem: 19th Century Ship Portraits in Prints

Desembarco considerado para todos os effeitos um emissario do Vomito Negro.

Panorama visto da Trafaria, Vista de Lisboa e do Tejo tirada do Lazareto, ed. Tabacaria Costa, década de 1900. .
Imagem: Delcampe

Os quartos de 1.a classe. Os de 2.a. Os de 3.a. isto é: 3 classes distintas e uma só verdadeira.

No Lazareto de Lisboa, o quarto, Rafael Bordalo Pinheiro, 1881.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

A peça de luxo, a melhor peça de architectura do edifício.

No Lazareto de Lisboa, a peça de luxo, Rafael Bordalo Pinheiro, 1881.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal>

No vão inferior desta escada é a hygienica sala de jantar da 3.a classe.

No Lazareto de Lisboa, a sala de jantar da 3.a classe, Rafael Bordalo Pinheiro, 1881.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal


Oh! como eu me recordo do sumptuoso serviço do Joaquim dos Melões, de Cacilhas. (1)

No Lazareto de Lisboa, Joaquim dos Melões, Rafael Bordalo Pinheiro, 1881.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

O namoro da janella abaixo, imprevidente, como não pôde deixar de ser, arrisca uma mulher a ligar-se para sempre a um vadio; ou um homem laborioso a cabir na armadilha que lhe preparou a menina que só via no casamento a possibilidade de assistir na rua dos Condes à representação de uma magica, ou de ir no dia de S. João à Outra Banda merendar a casa do Joaquim dos Melões.
Em conclusão, o namoro da janella abaixo devia ter sido prohibido pelo Código civil como attentato-rio da dignidade da familia, e conductor seguro e rápido do divorcio judicial.

in Galeria de Figuras Portuguezas
 

Montar, galopar, correr, correr ainda que seja n'um jerico de Cacilhas, por essas azinhagas floridas da outra banda do Tejo, gaiato ao couce, sobre um albardão berrante e jaezes polychromos, onde a figa negreja na testeira do jumento entre ourellos de algodão, vermelho como as cerejas de Ceragonte!
Montar, cavalgar, é a preoccupação o pensamento de metade da humanidade, desde o juvenil escolar até ao pacato burguez, que por dias santificados vae divertindo a rotunda esposa até abancarem no Joaquim dos Melões, saboreando a bella salladinha com pimpínella e aipo, e a boa pescadinha frita digna de figurar no banquete, entre as matees e os ganços da Germânia, quando Lucullus jantava em casa de Lucullus!

in Recordando


Ter uma pessoa uns cobres a mais nas algibeiras e desejar divertir-se, não é caso para se surprehender ninguem; é mesmo um caso naturalissimo!
Escolher o outro lado do Tejo para dar uma passeata, é igualmente um caso muito natural! 
Ter fome e ir petiscar, continua a ser o caso mais natural do mundo! Dar a preferencia á antiga casa do defunto poeta Joaquim dos Melões, não é para admirar, pela fama do estabelecimento e, ainda mais, pela fama dos petiscos! 
Mas... fazer um roubo em domicilio proprio, isso é que é realmente um facto digno da maior censura e punido rigorosamente pelo nosso codigo civil. 
Pois é verdade. . . roubamos! 
Mêa culpa, mêa culpa, mêa maxima culpa!!! 
O arrependimento. porém, salva, e aqui vimos depôr o roubo tal qual o encontrámos sobre uma das mesas da casa do poeta, onde petiscâmes no dia 15 de setembro, por occasião da festa no largo da Piedade.
Eil-o sem lhe faltar nada:

"Lista"
Sopa de Masa. 
dita Juliana. 
canga de galina. 
haros. 
came cocida. 
carne hasada de Baca. 
dita porco. 
costa letas panadas. 
Lingoa hagardincira. 
carnes estopada hargerdineira. 
pato courado com haros. 
galina courada. 
Dita d'fricace. 
dita de celbid'la, 
cuello gisado. 
carneiro gisado
pato com feigon carapato 
carne pre fifes
Frangos de fricace.
"sobre mensas"
ceijo falmengo
dito branco al farina
Peras
Pecegos
Larangas
hubas
Macanis
Melons
Toda hacalidade de dose

Se ainda fosse vivo o velho Joaquim dos Melões, diria na sua linguagem pittoresca e metrificada:

É uma coisa nunca vista,
a redacção d'esta lista!
É discipulo o intrujão
Do seu "Brabozá Lião"!
Merece o autor do "menú"

Um pontapé no... etc.

Zé Povinho, Faianças Artísticas Bordallo Pinheiro Lda.
Imagem: Restos de Colecção


in Almanach do Trinta 1881, Lisboa, Typographia Popular, 1880

Alguns dos companheiros de quarentena no Lazareto.
Imagem: Correia, António, Divagando sobre Caparica: pedaços da sua história, Almada, edição do autor, 1973.


(1) Pinheiro, Raphael Bordallo, No Lazareto de Lisboa, Lisboa, Empreza Litteraria Luso-Brazileira Editora, 1881.

Artigos relacionados: 
Lazareto de Lisboa, em 1897
Decauville Cacilhas Lazareto em 1894

Informação adicional:
O Lazareto, Gazeta dos Caminhos de Ferro n.° 1374, 16 de março de 1945
Restos de Colecção, Raphael Bordallo Pinheiro

sábado, 20 de setembro de 2014

Praia do Sol 1934, cliché João Martins

Costa da Caparica, ed. Acção Bíblica/Casa da Bíblia, s/n, cliché João Martins, década de 1930.
Imagem: Fundação Portimagem

João Martins (1878 - 1972)

Filho do capitão António Tiago Martins e de Maria Felismina d’Ornelas Pinto Coelho, nasce em Cabo Verde, onde seu pai se encontrava em serviço. A família intala-se em Lisboa cerca de 1900.

Dedica-se à fotografia a partir de 1916; participa em concursos, colabora na revista Ilustração e no Magazine Bertrand. 

Irá trabalhar como repórter em O Século Ilustrado e na Flama até 1931, ano em que conhece Leitão de Barros, dedicando-se a partir daí à fotografia de cena. (1)

Filho de militar, terá sido fora do seio familiar que João Martins descobriu a fotografia, provalmente pelas mãos do seu padrinho, António Joaquim Ribeiro, co-organizador da I Exposição Nacional de Fotografia, em 1899.

João Martins era um homem fortemente ligado aos valores tradicionais: Deus, Pátria e Família.

Conforme ele mesmo assumia, o seu estilo fotográfico incluia-se na família dos clássicos, "por serem estes senhores da sua liberdade de composição".

A sua participação num concurso literário, em 1927, promovido pela Magazine Bertrand, levou João de Sousa Fonseca a descobrir e querer divulgar as suas imagens.

Em 1930 o seu trabalho foi publicado pela primeira vez — seguindo-se inúmeras outras — sob o tema: "Um Grande Artista da Fotografia, João Martins: Um Apaixonado das Sombras". (2)

Em 1934, a monografia de propaganda do Guia de Portugal Artístico, Praia do Sol, ilustra-se com fotografias assinadas por João Martins.

Praia do Sol, Caparica, ed. Guia de Portugal Artístico, M. Costa Ramalho, 1934.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

A reportagem de João Martins, de temática regional, envolve aspectos humanos e paisagísticos nas recentes transformações do espaço e dos costumes, consequência da classificação da Costa da Caparica em estância de turismo pelo decreto lei n.° 11335 de 9 de dezembro de 1925.

Essa reportagem foi, mais tarde, recuperada e publicada, pela Acção Bíblica, num outro suporte, em diversas edições de bilhetes postais ilustrados, sendo assim distribuídos e comercializados.

Costa da Caparica, Entrando no mar, ed. Acção Bíblica/Casa da Bíblia, s/n, cliché João Martins, década de 1930.
Imagem: Delcampe

Não sabemos se a Acção Bíblica, usou todo o trabalho de João Martins relativo à temática "Praia do Sol" ou, se todos os postais publicados são de sua autoria.

Aliança Bíblica, aliás Acção Bíblica, aliás Casa da Bíblia, o contexto:

A génese da Acção Bíblica esteve na conversão de seu fundador, Hugh Edward Alexander (1884-1957) em 1901 e no desabrochar da sua vocação.
O ano de 1913 marcou o início das campanhas de evangelização na Suíça francesa, onde manifestou-se o reavivamento produzindo as vocações daqueles que constituíram a primeira geração da Acção Bíblica.
Em 1916, a publicação da brochura intitulada "Icabode" (I Samuel 4:1-22) separou os campos pela denuncia e pela condenação enérgica da chamada nova teologia [...]
Ao mesmo tempo Hugh Edward Alexander abriu em Genebra, a primeira Casa da Bíblia [...]
A publicação de "Icacode" suscitou mais oposição religiosa. [...]
Isso preparava o momento em que a Aliança Bíblica iria se tornar Acção Bíblica.

Em 1930 nasceu a "Milícia da Acção Bíblica", hoje "Juventude da Acção Bíblica". [...]
Durante esse período, igrejas locais nasceram e se desenvolveram principalmente na Suíça, na França em Portugal onde o desenvolvimento foi característico.

in Como nasceu a Acção Bíblica

Os nossos missionários abriram também uma pequena loja, com uma sala para encontros evangelísticos, nas traseiras, na Costa da Caparica, então uma aldeia piscatória que começava a ser uma estância balnear bem concorrida [...]
Em 1930 a Costa da Caparica foi varrida por uma tempestade muito forte que destruiu habitações e barcos.
Os nossos missionários lá acorreram para dar ajuda material, apoio e conforto espiritual às vitimas [...]

in 75 anos da Acção Bíblica no Algarve


As primeiras publicações deste editor, do qual identificamos dois objectos assinalados no verso com "Edição da Aliança Bíblica",  são de 1930, não se podendo inferir a autoria das imagens a João Martins.

  • Costa da Caparica, Aliança BÍblica, ed. Acção Bíblica/Casa da Bíblia, s/n, c. 1930.
    Imagem: Delcampe
  • Costa da Caparica, Antes de ir para o mar, Aliança BÍblica, ed. Acção Bíblica/Casa da Bíblia, s/n, c. 1930.
    Imagem: Delcampe
  • Costa da Caparica, Antes de ir para o mar, Aliança BÍblica, ed. Acção Bíblica/Casa da Bíblia, s/n, c. 1930.
    Imagem: Delcampe

O mesmo acontece com outros postais que indicam, no verso, "Edição Casa da Bíblia", e "Costa da Caparica", na frente, em que o enquadramento e a composição se identificam com a qualidade de João Martins, faltando, contudo, movimento e dinamismo às imagens.

  • Costa da Caparica, Casa da Bíblia, ed. Acção Bíblica/Casa da Bíblia, s/n, c. 1930.
    Imagem: Delcampe
  • Costa da Caparica, Casa da Bíblia, Aliança BÍblica, ed. Acção Bíblica/Casa da Bíblia, s/n, c. 1930.
    Imagem: Delcampe

Aparecem-nos ainda imagens soltas que apresentam, por vezes, a descrição cursiva toscamente desenhada.

A Praia do Sol, Um trecho da praia, ed. Acção Bíblica/Casa da Bíblia, s/n, c. 1930.
Imagem: Delcampe

Uma série sequencial numerada, de 101 a 115, não suscita, no entanto, dúvidas quanto à autoria de João Martins, apesar de os originais não estarem assinados.
  • 101 A Praia do Sol, Costa, Caparica
  • 102 A Praia do Sol, Um trecho da praia
  • A Praia do Sol, Um trecho da praia, ed. Acção Bíblica/Casa da Bíblia, 102.
    Imagem: Delcampe, Oliveira
  • 103 A Praia do Sol, Aos Domingos, Um trecho da praia
  • 104 A Praia do Sol, A faiana [sic, faina]
  • 105 A Praia do Sol, O transporte da rede e a faiana [sic, faina]
  • 106 A Praia do Sol, Alando a rede
  • A Praia do Sol, Alando a rede, ed. Acção Bíblica/Casa da Bíblia, 106.
    Imagem: Delcampe, Bosspostcard
  • 107 A Praia do Sol, Panorama dos Capuchos
  • 108 A Praia do Sol, Uma vista parcial
  • 109 A Praia do Sol, O mercado
  • A Praia do Sol, O mercado, ed. Acção Bíblica/Casa da Bíblia, 109.
    Imagem: Delcampe
  • 110 A Praia do Sol, Uma vista parcial, Subida para os Capuchos
  • A Praia do Sol - Uma vista parcial. Subida para os "Capuchos", ed. Acção Bíblica/Casa da Bíblia, 110.
    Imagem: Fundação Portimagem
  • 111 A Praia do Sol, As primitivas barracas dos pescadores
  • 112 A Praia do Sol, Um trecho da estrada para a Trafaria
  • 113 A Praia do Sol, Um trecho da estrada para Cacilhas
  • 114 A Praia do Sol, Estrada do Parque Florestal
  • 115 Trafaria e o Tejo


(1) Wikipédia: João Martins (fotógrafo)

(2) Isabel Dantas dos Reis: João Martins: Convicções por Imagens

Artigos relacionados:
Ed. Acção Bíblica/Casa da Bíblia

Guia de Portugal Artístico


Informação adicional, publicações: Ilustração


quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Lisnave

O novo estaleiro proposto ganha novas perspectivas no quadro económico do Segundo Plano de Desenvolvimento para o período 1959 - 1964, não apenas com a simples perspectiva de atender às necessidades do mercado interno da marinha mercante, mas também com vista à procura de mercado internacional, tirando partido da posição geoestratégica da bacia do Tejo.

Porto de Lisboa, vista aérea de Cacilhas e dos lugares de Ginjal e Margueira, década de 1950.
Imagem: Porto de Lisboa

Em 1960, o Governo Português assume o tema dos grandes estaleiros do Tejo, criando a "Comissão de Estudo para a Construção da Doca e Estaleiro Naval" [Decreto-Lei n.º 42890, 28 de março de 1960], iniciando assim o processo que culmina na adjudicação do estaleiro da Lisnave.

Já sondados ​​em 1958, os estaleiros suecos Eriksberg (Gotemburg) e Kockums (Malmö) decidem avançar com o concurso, concluindo, logo desde início, que a localização preferencial para a área do estaleiro é a Margueira em Almada; a Comissão mantem a posição anterior do Estado, assumindo a viabilidade reduzida da área, para a qual estava previsto um terminal ferroviário.

Vista aérea da variante à Estrada Nacional 10, zona da Mutela e da Margueira, 1958
Imagem: IGeoE

No entanto, as empresas suecas não abandonam o projeto, e, formando um consórcio com o Grupo CUF (empresa Navalis então criada) e dois estaleiros holandeses [El NDSM, Nederlandsche Dok-En Sheepsbouw Maatschappij (Ámsterdam) e Wilton-Fijernoord (Schiedam)], apresentam em 1961 um pedido para o condicionamento industrial, que finalmente é aprovado.

O tema da nova localização do estaleiro é fundamental para o início da Lisnave.

Excluindo Alfeite (devido às limitações militares), a área entre Cacilhas e o mar (de difícil terraplanagem e com correntes e fundos instáveis), e toda a costa norte (devido ao congestionamento), a área Margueira foi considerado a mais favorável, mostrando agora as vantagens: a principal, as melhores condições de segurança para os navios de grande tonelagem [Decreto-Lei n.º 44708, 20 de novembro de 1962], mas também o acesso rápido a Lisboa e à margem sul, os necessários trabalhos de dragagem e terraplanagem e a proximidade aos estaleiros do litoral norte.

Em conjunto com o abandono do projeto do terminal ferroviário na Cacilhas, estes argumentos convenceram o governo que, no final de 1962 [Decreto-Lei n.º 44708, 20 de novembro de 1962], concede à Lisnave a "licença para construir e explorar um estaleiro naval de construção e reparação de embarcações nacionais e estrangeiras na área do porto de Lisboa" na área da Margueira, criando no porto de Lisboa, entre Cacilhas e base naval do Alfeite, uma zona reservada para protecção, construção e futura expansão do estaleiro.

Zona de construção, protecção e expansão do novo estaleiro naval, 1962.
Imagem: D.R.E.

O decreto estabelece que os terrenos do estaleiro seriam desafectados do domínio público e vendidos à Lisnave, que seria a sua proprietária exclusiva, o que acontece em 1963.

A privatização da propriedade dos terrenos justifica-se "pelo elevado preço em que fica a sua preparação e porque, concedendo à sociedade a possibilidade de escolha das oportunidades de amortização dos capitais investidos, estimula a modernização constante do seu equipamento"; esta foi uma medida , entre outras, para apoiar o projeto, para dotá-lo de "condições de concorrência com os seus congéneres, indispensáveis à sua viabilidade".

Ainda em 1962 aprova-se a cessação da actividade do estaleiro da Rocha do Conde de Óbidos, na margem norte do Tejo, com a transferência dos seus equipamentos e trabalhadores para a Lisnave; com isso, as empresas suecas pretendem orientar a Lisnave para a reparação naval (para não competir com o estaleiro naval sueco), especialização que, mais tarde, seria benéfica para a empresa. 

Anúncio na imprensa, Lisnave, estaleiro da Rocha, estaleiro da Margueira.
Imagem: Restos de Colecção

A construção do novo estaleiro começa em 1964, 

Lisnave, Margueira, fecho da ensecadeira, 1965.
Imagem: ed. desc.

depois de superar a questão do financiamento de toda a operação, dez anos após a data da primeira solicitação para a construção de um grande estaleiro em Lisboa; nesse tempo a dinâmica da indústria de construção naval era tal que, durante a construção, até 1966, o projeto do estaleiro é sucessivamente alterado, prevendo a contrução de docas maiores.

Lisnave, Margueira, construção das docas 11 e 12.
Imagem: ed. desc.

Até à primeira crise do petróleo, a volume de trabalho da Lisnave cresce fortemente, beneficiando do período de expansão da economia do petróleo, com fortes reflexos directos na indústria da construção naval, assim como do encerramento do Canal de Suez.

Lisnave, Margueira, à esquerda, Berge Sigval, doca 12;   à direita, Universe Ireland, doca 11.
Imagem: Hank Williams Sr. Listings

Em 1969 decide-se a contrução de uma nova doca seca, de grandes dimensões, que seria inaugurada em 1971 — a doca 13, perto de Cacilhas, com 520 x 90 metros, correspondente a 1 milhão de toneladas.

Lisnave, Margueira, doca Alfredo da Silva, doca 13, inaugurada em 23 de junho de 1971.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

Com este trabalho o recinto atinge a dimensão de 80 hectares com que chega à actualidade.

Lisnave, Margueira, vista aérea, 1972.
Imagem: ed. dec.

A eclosão da primeira crise do petróleo em 1973, com o impacto sobre a situação económica internacional e do país — afecta directamente a construção naval — agravada, alguns meses depois, com a revolução de 25 de Abril de 1974, marcará uma viragem na actividade da Lisnave.

A uma empresa privada que opera no mercado livre internacional, o movimento de nacionalizar a empresa, a fuga dos empresários do país e a profunda instabilidade política e social dos anos seguintes, não foram nada favoráveis​​, situação que se agrava com a segunda crise do petróleo que começa em 1978 — conduzem a Lisnave a um processo de crise profunda. (1)

Lisnave, medalha evocativa da inauguração da doca 13 em 1971.
Imagem: eBay


(1) Costa, Joao Pedro Teixeira de Abreu, La ribera entre proyectos, Formación y Transformación del Territorio Portuario, a Partir Del Caso De Lisboa, Capítulo 2, Barcelona, Universitat Politècnica de Catalunya, 2007.

Leitura adicional:
O Grupo CUF — elementos para a sua história, Estaleiro da Margueira, Lisnave