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quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O farol de Cacilhas

Em 1886, a lanterna que assinalava a navegação, no pontaleto, foi substituída por um farolim.

Era todo em ferro, pintado de verde, dispondo de luz verde conforme as convenções internacionais e, ao seu lado, numa pequena casa, tinha uma corneta ou "ronca", para sinal de nevoeiro, accionada a ar comprimido. (1)

Farol de Cacilhas, 2010.
Imagem: Wikipédia


No longínquo dia de 15 de Janeiro de 1886, o Farol de Cacilhas iniciou as suas funções como Ajuda à Navegação.

Implantado no pontal [i. e. no pontaleto] de Cacilhas, este dispositivo de assinalamento era constituído por uma torre cilíndrica em ferro, pintada de vermelho com 12 metros de altura por 1,70 metro de diâmetro, dispunha de uma lanterna cilíndrica (espaço onde fica instalado o equipamento luminoso) com 8 vidraças e cúpula esférica pintada de verde, encimada por uma pequena esfera sobre a qual estavam montados um catavento e um pára-raios. 

Pontaleto de Cacilhas, espólio do duque de Palmela, 1885.
Imagem: Delcampe

Foi equipado com um aparelho iluminante de 5ª ordem (0,375m de diâmetro), com candeeiro de 2 torcidas. 

A luz era fixa, branca, alimentada a petróleo, disponibilizando um alcance luminoso de 11,5 milhas e iluminando um sector de 342º.

A partir de 9 de Maio de 1886 ficou pronto a funcionar um sinal sonoro estabelecido a Este do farol, abrigado numa guarita de ferro, constituído por um sino automático de movimento de relojoaria, o qual dava uma batida a intervalos de 5 segundos.

Farolim e moinho de Cacilhas, Plano Hidrográfico do Porto de Lisboa (detalhe), 1932.
Imagem: TV Ciência

Historicamente o Farol de Cacilhas teve diversas combinações de cor entre a sua estrutura e a luz que emitia, sendo que em 1886, quando entrou em funcionamento, a estrutura era de cor vermelha e a luz de cor branca.

Cacilhas, Ao entardecer, Colecção Latina, Colecção Latina, Frederico [Pereira] Ayres, c. 1930.
Imagem: O FAROL - Associação de Cidadania de Cacilhas

Posteriormente (1928) a luz passou a ter cor verde e em 1935 a própria estrutura passou a ser de cor verde, a qual se manteve até ao momento da sua desativação em 1978.

Quando da sua reimplantação em Cacilhas (embora sem funções de farol, apenas como marca histórica), optou-se por recriar as características da sua inauguração, pelo que a estrutura ficou de cor vermelha e a luz (embora de baixa intensidade) de cor branca.

Excerto do esclarecimento prestado pela Chefia do Gabinete de Estudos — Direcção de Faróis, solicitado em Abril de 2012, na sequência da polémica, sobre a actual cor da torre do farol.

Almada, Pharol de Cacilhas, Paulo Emílio Guedes & Saraiva, 03, década de 1900.
Imagem: Fundação Portimagem

Em 1 de Janeiro de 1905, após ter sofrido algumas alterações de natureza técnica, o aparelho iluminante modificou a sua característica, passando a operar por ocultações de 5 segundos espaçadas por 55 segundos.

Cacilhas, Molhe e pharol, ed. Martins/Martins & Silva, 19, c. 1900.
Imagem: Delcampe, Oliveira

Entre Março de 1916 e 26 de Dezembro de 1918 o farol esteve apagado, por imposição de âmbito operacional, resultante da 1ª Grande Guerra. 

Em 1925 o aparelho iluminante foi substituído por outro de 4ª ordem (500mm diâmetro), tendo a característica do seu foco luminoso sido alterada em 01 de Março de 1927, passando de luz de ocultações, para luz de relâmpagos verdes.

Em 1931, foram anexadas duas pequenas câmaras, uma para a instalação do sinal sonoro e outra para acondicionamento das garrafas de gás.

Estes compartimentos viriam a ser ampliados em 1957, recebendo um segundo piso.

Cacilhas, estação fluvial, década de 1960.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

No mesmo ano, o sinal sonoro foi substituído por uma trompa de ar comprimido, tendo o sino sido cedido ao Instituto de Socorros a Náufragos para ser posteriormente instalado na Ericeira.

Em 1957 foi electrificado com energia da rede pública, ficando a utilizar como fonte luminosa a incandescência eléctrica com reserva a gás, tendo sido equipado com uma lâmpada de 500W / 110V e bico de gás acetileno com manga.

Farol de Cacilhas, ed. Passaporte, 20, 1957.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

Aquando da inauguração do monumento ao Cristo-Rei (17 de Maio de 1959), foram montados 3 altifalantes no varandim do farol, para possibilitar a difusão à população de informações relacionadas com o evento.

Em Julho de 1959 o farol foi ligado à rede pública de água e o seu sinal sonoro desactivado em 31 de Março de 1977.

Cacilhas, vista do farol e do Tejo, ed. Cómer, década de 1960.
Imagem: Delcampe

Em 1978, com o aumento do número de cacilheiros e procurando ir de encontro ao conforto das pessoas, enquanto aguardavam o transporte fluvial no cais, evitando que estivessem permanentemente sujeitas a condições climatéricas adversas, foi tomada a decisão de desactivar o farol e, no local correspondente, construir uma gare de embarque de passageiros.

Cacilhas, farol e autocarros da Beira Rio, 1964.
Imagem: Lighthouses of Southern Portugal

Numa primeira fase ainda foi ponderada a colocação do Farol de Cacilhas noutro local, no entanto, a avaliação de que o farol já não apresentava interesse prático e utilidade como Ajuda à Navegação, conduziu inevitavelmente à extinção daquele dispositivo de assinalamento marítimo, tendo sido apagado no dia 18 de Maio de 1978 e iniciada a sua desmontagem nesse mesmo dia.

O último faroleiro a prestar serviço no Farol de Cacilhas, foi o faroleiro de 2ª classe (à data) Edgar Duarte Marques Casaca.

O antigo Farol de Cacilhas acabou por, em 1983, ser deslocado para a Ilha Terceira, nos Açores, com o objectivo de substituir o Farol da Serreta que fora destruído pelo sismo de 01 de Janeiro de 1980 (ler o artigo completo...) (1)

Lanterna instalada no Pontaleto de Cacilhas, Carta hydrographica do littoral de Cacilhas (detalhe), 1838.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal


(1) Pereira de Sousa, R. H., Almada, Toponímia e História, Almada, Biblioteca Municipal, Câmara Municipal de Almada, 2003, 259 págs.

(2) Direção dos faróis, Revista da Armada, setembro/outubro 2009.

Artigos relacionados: 
Na esplanada do forte de Cacilhas

Informação adicional: 
Direção de Faróis

O FAROL - Associação de Cidadania de Cacilhas
Boletim "O Pharol"

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