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sábado, 6 de setembro de 2014

Torre e Fonte Santa

No reinado de D. João III foi donatário de uma propriedade chamada "Torre d'el Rei" o fidalgo D. João da Silva de Meneses.

Admitimos que esta torre d'el Rei seja aquela que existiu no lugar dito da Torre ou sua proximidade imediata. 

Da fábrica que falece à cidade de Lisboa (i. e. construções que faltam à cidade de Lisboa), detalhe, Francisco de Holanda, 1571.
Na imagem a Torre d'el Rei (Torre, Torre de Caparica) sobre a arriba, acima da Torre Velha, frente à torre de Belém
Imagem: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de S. Paulo

Porque nada mais há no Concelho ou no seu antigo termo, com o nome de torre (no singular) remontando ao Século XVI, admitiremos que esta Torre d'el Rei é aquela que os topónimos Torre e Torrinha e a gravura do Século XVI indicam.

O sítio da Torre é aquele ocupado pelo Largo da Torre, no cruzamento da estrada Monte da Caparica — Trafaria com a estrada Fonte Santa — Casas Velhas e onde termina a antiga azinhaga Torre — Fonte Santa, hoje Rua Carvalho Araújo.

Torre de Caparica, casa onde residiu Bulhão Pato, construção de finais do século XIX.
Imagem: ed. desc.

0 nome do sitio provém da existencia de uma torre medieval que nos aparece em gravuras dos Séculos XVI e XVII.

Da fábrica que falece à cidade de Lisboa (i. e. construções que faltam à cidade de Lisboa), Francisco de Holanda, 1571.
Imagem: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de S. Paulo

A sua funçao era provavelmente a de atalaia. A torre abateu em consequência do terramoto de 1755.

Carta chorographica dos terrenos em volta de Lisboa (detalhe), 1814.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Segundo o Conde dos Arcos a Quinta da Torre, aquela que se situava a sul do Largo, era totalmente limitada por caminhos públicos que a separavam das vizinhas Quintas, da Torrinha, Outeiro, Possolos e Formiga.

Carta dos Arredores de Lisboa — 68 (detalhe), Corpo do Estado Maior, 1902.
Imagem: IGeoE

[Torrinha] Quinta entre o lugar da Torre e Costas do Cão. Um dos seus proprietários, João António Gonçalves (1835-1906), foi vice-presidente da Câmara Municipal de Almada.Informação relacionada: ISSUU - Al-Madan Online 14 by Al-Madan

A Quinta do Outeiro, fica na encosta de Pera sobre o Vale de Marinhos, a poente do cemitério da freguesia de Caparica.


[Possolos] Quinta entre o Rafael e a Caneira, às Casas Velhas.
A Quinta de Possolos pertenceu a D. Álvaro Abranches da Câmara e aos descendentes, Condes de Valadares.
No século XIX era propriedade de Rafael Alves da Cunha que foi em Almada presidente da vereação.

A Quinta da Formiga situa-se entre o Monte de Caparica e as Casas Velhas, do lado norte da actual rua Alfredo da Cunha.
Tem entrada por um portão do século XVIII e uma casa ampla a que se ligavam adega e lagares antigos e curiosos.
Em 1833 a quinta pertencia a Miguel Martinho Manuel Ricaldes da Silva Azevedo que era Tenente da 1.a Companhia do Batalhão Nacional da Vila de Almada e seu termo.
Era pois um liberal, embora fosse afilhado de D. Miguel [...]

Do lado Norte do Largo da Torre o novo proprietário da Quinta que está entre a Rua Carvalho Araújo e a Rua dos Trabalhadores Rurais colocou na fachada uma inscrição chamando-lhe "Quinta da Torre”, nome que nunca teve.

O Conde dos Arcos, D. José de Alarcão, proprietário então da verdadeira e única Quinta da Torre, mandou apor nesta uns azulejos com a inscrição "Quinta da Torre, 1570".

D. José Manuel de Noronha e Brito de Meneses de Alarcão, 12° Conde dos Arcos.
Imagem: Homens e Mulheres vinculados às terras de Almada

[Fonte Santa] Pequeno aglomerado urbano a meio caminho entre o Largo da Torre e o Porto Brandão, cujo centro é o Largo Carlos da Maia na confluência da azinhaga que vem da Cruz da Granja.

O nome aparece com frequencia no plural "Fontes Santas", entre os Séculos XV e XVIII. o que denuncia a existência de mais que uma fonte e não apenas aquela que abastecia o fontenário público que parece ser construção do século XVIII e foi reconstruído pela Câmara Municipal em 1874.

Na encosta que margina a azinhaga para a Cruz da Granja captou-se água em fins do Século XIX para abastecer o lazareto obra do famoso engenheiro almadense Liberato Teles.

Todo o vale desde a Quinta da Torre ao Porto Brandão era abundante de água.

Junto ao Largo da Torre existe um antigo poço e frente à ermida de S. Tomás de Aquino descobriram-se duas cisternas quando se libertou a ermida, que se encontrava soterrada até ao nivel da verga da porta.

A ermida e obra atribuida ao Século XVI e tem portal e alguns elementos que se podem considerar manuelinos mas o facto de ser constituida por dois pequenos corpos semelhantes a morábitos e as cisternas parecerem ser construção árabe faz-nos suspeitar que sejam mais antigos os seus fundamentos.

Fonte Santa, Ermida de S Tomas de Aquino, 2003.
Imagem: Almada, Toponímia e História

A ermida pertenceu aos Condes dos Arcos que naturalmente lhe introduziram os elementos manuelinos.

Fonte Santa, Ermida de S Tomas de Aquino, década de 1970.
Imagem: Divagando sobre Caparica

Quando se pôs a descoberto a fachada e se escavou o adro fronteiro, das cisternas libertou-se água em grande abundância sendo necessário encaminha-la por uma vala para um esgoto de águas pluviais.

Deve salientar-se que entre o Largo Carlos da Maia e o Porto Brandão fica a Quinta da Azenha, assim chamada por nela certamente ter funcionado um engenho desse tipo.

A Ermida de São Tomás de Aquino foi classificada de interesse concelhio em 1996.O pedido de classificação datava de 1982, mas atravessara um confuso processo burocrático.(1)


(1) Pereira de Sousa, R. H., Almada, Toponímia e História, Almada, Biblioteca Municipal, Câmara Municipal de Almada, 2003, 259 págs.

Artigo relacionado: Ermida de S. Tomás de Aquino

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