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segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Moinho do Mesquitela

Designava-se por Mesquitela o moinho de maré e respectiva caldeira, situados entre a Mutela e o Caramujo.

O Tejo em frente do Caramujo, Revista Illustrada, fotografia de A. Lamarcão, gravura de A. Pedroso (editada), 1892.
Referencia: Toscano, Maria da Conceição da Costa Almeida, A fábrica de moagem do Caramujo património industrial
Imagem: Fernandes, Samuel Roda, Fábrica de molienda António José Gomes

Mais precisamente, a caldeira ocupava o espaço hoje tomado pelo ultimo quarteirão do lado nascente da rua Manuel Febrero, ficando o Moinho sobre a actual avenida Aliança Povo M.F.A..

Carta Topográfica Militar da Península de Setúbal, José Maria das Neves Costa, 1813 (detalhe)
Imagem: Instituto Geográfico do Exército


A sul da caldeira ficavam as valas alimentadas pelas águas do ribeiro da Mutela (o que corre pelo vale de Mourelos) e pelas águas de maré. 

A passagem entre as valas e a caldeira era "a ponte", nome que ainda hoje é lembrado.

Cova da Piedade, Arnaldo Fonseca, 1890
Imagem: Boletim do Grémio Portuguez d’Amadores Photographicos *

Desde o século XVII, e até fins do século XVII, moinho e caldeira diziam-se dos Costas, por pertencerem aos Costas, armeiros mores do reino.
O moinho de maré só funcionava na vazante. Nas enchentes os três rodízios estavam parados, e a comporta abria com a força da água que entrava na caldeira.
A água da caldeira mantinha-se represada, aguardando o período da vazante para que os rodízios se colocassem em movimento. Abertos os acessos aos rodízios, estes giravam produzindo energia para as mós triturarem os cereais.

in Flores, Alexandre M., Almada antiga e moderna, roteiro iconográfico, Freguesia da Cova da Piedade, Almada, Câmara Municipal de Almada, 1990, 318 págs.

O moinho de maré da Mutela já existia pelo menos no século XV, com base numa carta de venda datada de 1497, de umas casas e marinhas na praia da Mutela [...]

in Flores, Alexandre M., António José Gomes: O Homem e O Industrial (1847 -1909), Cova da Piedade, Junta da Freguesia, 1992, 175 págs.


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Barcos dos Moinhos
Barques elles transportent des molins de l'autre côté
de l'eau les farines pour la Ville
Imagem: Souza, João de, Caderno de Todos os Barcos do Tejo, Sociedade de José Fonseca, 1785
Passaram a designar-se por Mesquitela após a atribuição em 1787 do Título de Visconde de Mesquitela ao Armeiro-Mor D. José Francisco da Costa e Sousa, que casara coma filha primogénita e herdeira do 1.° Visconde de Mesquitela.

Em 1883 o inglês Jorge Taylor, maquinista da moagem do caramujo, aforou aos Mesquitela a caldeira e terrenos vizinhos. 

Este mesmo Jorge Taylor, em 1907, fez doação de parte da propriedade ao seu patrão, António José Gomes, o industrial da moagem do Caramujo, recebendo em troca uma pensão de 10.000 réis por mês.
Quando em 1907 Jorge Taylor fez doação da propriedade, declarou na escritura que trabalhava na moagem havia mais de quarenta anos.
Sendo ele o conductor da máquina a vapor da moagem muito provávelmente desde a instalação, conclui-se que a moagem dispunha da máquina desde cerca de 1866.
A propriedade, cedida a António José Gomes, destinava-se, em parte, à construção da escola primária.

 A escola, a primeira que teve a Cova da Piedade, foi inaugura da em 1911, e tem o nome de António José Gomes, então já falecido.

Escola Primária António José Gomes, inaugurada em 1911, projecto do arquitecto Adães Bermudes.
Imagem: Flores, Alexandre M., António José Gomes: O Homem e O Industrial

A caldeira e o moinho estavam em 1910 na posse de Manuel de Jesus Silva que pagava 50.000 réis de foro aos herdeiros do conde de Vila Franca; depois, cerca de 1911, foram arrendados ao industrial José Alves da Silva, por nove anos.

A caldeira desapareceu, por entulhamento, cerca de 1920 e o moinho foi demolido quando se abriu a estrada de Cacilhas à Cova da Piedade [a partir de 1947]. (1)

O Tejo em frente do Caramujo, Revista Illustrada, fotografia de A. Lamarcão, gravura de A. Pedroso, 1892.
Referencia: Toscano, Maria da Conceição da Costa Almeida, A fábrica de moagem do Caramujo património industrial
Imagem: Fernandes, Samuel Roda, Fábrica de molienda António José Gomes



(1) Pereira de Sousa, R. H., Almada, Toponímia e História, Almada, Biblioteca Municipal, Câmara Municipal de Almada, 2003, 259 págs.

Leitura adicional:

Toscano, Maria da Conceição da Costa Almeida, A fábrica de moagem do Caramujo património industrial, Vol I , Lisboa, Universidade Aberta, 2012, 16.37 MB.


Fernandes
, Samuel Roda, Fábrica de molienda António José Gomes, Lisboa, Universidade Lusíada, 2013.


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