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domingo, 30 de novembro de 2014

Torre Velha por dom António

E assi mandou fazer entam a torre de Cascaes com sua cava com tanta e tam grossa artelharia que defendia o porto.

A barra do Tejo baseada no Regimento de Pilotos de António de Mariz Carneiro de 1642, reprodução de 1673.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

E assi outra torre e baluarte de Caparica defronte de Belem em que estava muita e grande artelharia, e tinha ordenado de fazer hüa forte fortaleza onde ora está ha fermosa torre de Belem que el-rey Dom Manoel que santa gloria aja mandou fazer, pera que a fortaleza de hüa parte e a torre da outra tolhessem a entrada do rio.

Da fábrica que falece à cidade de Lisboa (i. e. construções que faltam à cidade de Lisboa), Francisco de Holanda, 1571.
Imagem: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de S. Paulo

A qual fortaleza eu per seu mandado debuxey e com elle ordeney aa sua vontade; e ele tinha ja dada a capitania della a Alvoro da Cunha seu estribeiro-mor e pessoa de que muito confiava; e porque el-rey logo faleceo nam ouve tempo pera se fazer.

Torre Velha em 1767, Conde dos Arcos.
Imagem: Caparica através dos séculos

E a sua nao grande que foy a mayor, mais forte e mais armada que se nunca vio, mays a fez pera guarda do rio que pera navegar.

Que posta sobre ancora no meo do rio ella soo o defendera, quanto mays a fortalleza e torre, porque era a mayor e mais forte e armada nao que se nunca vio. (1)

Lisbona citta principale nel regno di Portogallo fu presa dall'armatta con l'esercito del re catolico all ultimo d'agosto l'anno 1580, Mario Cartaro.
Imagem: Universität Salzburg

Retrato do sitio e ordem da batalha dada entre o senhor dom António, nomeado rei de Portugal, e o duque de Alba, tenente e capitão general do rei católico dom Filipe II, diante de Lisboa por mar e por terra, num mesmo dia, 25 de agosto de 1580.

Batalha de Alcântara, 1580, representação c. de 1595.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Palmela 5 leguas de lisboa; Almada; Armada de dom António; galeras de sua magestade; Torre Velha que estava por dom António;

Batalha de Alcântara (detalhe), 1580, representação c. de 1595.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

rio Tejo; naus de sua magestade;

Entrada no estuário do Tejo da armada espanhola comandada por D. Alvaro de Bazan, sala de Portugal, palácio de El Viso del Marqués.
Imagem: Barcos, mar y arte

Lisboa; castelo; arrabal de Santa Catarina; portugueses; moinho; italianos; italianos; Burgo; Santo Amaro; quinta; Belém; Torre de Belém; S. Bento; 

portugueses que fogem; portugueses que fogem; ponte de Alcântara; italianos e ; alemães; alojamiento do exército de sua magestade; 

campo de dom António; tendas de dom António; portugueses; ribeira de Alcântara; 

D. António Prior do Crato.
Carta de Jodocus Hondius (detalhe), London, 1592.
Imagem: Map History

artilharia de sua magestade; espanhois; artilharia de sua magestade; quintas; 

portugueses de dom António; portugueses;

duque de Alba; alemães; cavalaria de sua magestade; Sancho de Avila; arcabuzeiros espanhois que vão acometer cavallos ligeiros; o prior don Fernando; arcabuzeiros a cavalo e ginetes (2)

O ano da batalha maldita.
Animação: Expresso


(1) Resende, Garcia de, Vida e feytos d'el-rey Dom João II, Liuro das obras de Garcia de Resende, Lisboa, Luis Rodrigues, 1545
(2) Biblioteca Nacional de Portugal

Leitura relacionada:
Coral, Carlos Jokubauskas, O último Avis: D. Antônio, o antonismo e a crise dinástica portuguesa (1540-1640), 2010, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, São Paulo.
Castelo Branco, Camilo, D. Luiz de Portugal neto do Prior do Crato, 1896, Chardron — Lello, Porto.
Archivo Pittoresco, vol. II n° 4, 1858, págs 30 — 32.
Archivo Pittoresco, vol. II n° 4, 1858, págs 37 — 39.
Archivo Pittoresco, vol. II n° 4, 1858, págs 52 — 55.
Archivo Pittoresco, vol. II n° 4, 1858, págs 59 — 61.
Archivo Pittoresco, vol. II n° 4, 1858, págs 74 — 76.
Archivo Pittoresco, vol. II n° 4, 1858, págs 91 — 93.
Archivo Pittoresco, vol. II n° 4, 1858, págs 107 — 109.
Archivo Pittoresco, vol. II n° 4, 1858, págs 138 — 141.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

A pequena tocha do mar

[...] ou o verdadeiro guia dos pilotos costeiros. 

O rochedo, distância 2 léguas, John Thomas Serres (desenho), Joseph Constantine Stadler (gravura), 1801.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Do Cabo da Roca a Cascais vão duas léguas ESE, onde se podem encontrar diversas enseadas de areia e fortalezas, onde os navios se podem proteger quando perseguidos pelos turcos.

Cascais está numa grande enseada que se retira para norte. Aí está uma boa citadela no ponto oeste que ordena a estrada e o mar para oeste.

A ancoragem é a ENE da citadela, em doze ou catorze braças, sondadas em fundo de areia. Pode apanhar aqui um piloto, se preferir, para o conduzir a Lisboa.

De Cascais a S. Julião vão duas léguas ENE.

Existem cinco fortalezas entre Cascais e S. Julião, e a costa é desimpedida até um curto quarto de légua para oeste de S. Julião, onde estão rochas encobertas por água, com doze ou treze pés na maré baixa. 

Ficam entre os Cachopos e a terra, mas mais próximo dos Cachopos que de terra.

Lisboa, o mais espaçoso e mais seguro porto do reino de Portugal. Latitude 38.42 N. Longitude 9.5 W a partir de Londres.
John Thomas Serres (desenho), Joseph Constantine Stadler (gravura), 1801.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

O castelo de S. Julião está construído num ponto rochoso que avança um pouco para dentro do mar, e é uma das fortalezas mais fortes em Portugal; 

O rochedo de Lisboa, distância 4 milhas, John Thomas Serres (desenho), Joseph Constantine Stadler (gravura), 1801.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

fica a cerca de um tiro de mosquete do ponto este dos Cachopos, e quando falha entrar entre eles é necessário contornar pelo castelo tão perto quanto neccessário for para falar com as pessoas que aí estão.

O rochedo, distância 2 milhas, John Thomas Serres (desenho), Joseph Constantine Stadler (gravura), 1801.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Vindo de oeste, ou do sul, não deve aproximar a terra demasiado perto, até ter o ponto de Cascais por Cabo da Roca, depois vire ESE, até ter os dois conventos já mecionados, juntos, e percorra estas marcas, que são NE e NEN, até ao castelo S. Julião, e depois percorra junto à margem norte até ao castelo de Belém.

Cidade e Castelo de Bellisle [Belém, ilhéu] no rio Tejo; o palácio do rei; Lisboa está atrás deste ponto.
John Thomas Serres (desenho), Joseph Constantine Stadler (gravura), 1801.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

É maré alta neste rio ás três e meia ou quatro, na lua nova e cheia. (1)


(1) Bougard, R., Serres (desenho), John Thomas, Stadler (gravura), Joseph Constantine, The little sea torch : or, true guide for coasting pilots... (Le Petit flambeau de la mer, ou Le Véritable guide des pilotes côtiers), London, pub. for the author, J. Debrett, 1801, [126 MB].

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Conde dos Arcos

D. José Manuel de Noronha e Brito de Meneses de Alarcão, 12.° Code dos Arcos de Valdevez, 11.° Conde de S. Miguel e 4.° Visconde de Trancoso, nasceu em Lisboa a 12 de março de 1899.

D. José Manuel de Noronha e Brito de Meneses de Alarcão, 12° Conde dos Arcos.
Imagem: Homens e Mulheres vinculados às terras de Almada

Foram seus pais D. Henrique José Brito de Meneses e Alarcão e D. Maria do Carmo Giraldes Borba de Noronha e Brito de Meneses.

Armas de Noronha chefe, livro do Armeiro-Mor.
Imagem: Wikipédia

Investigador etnográfico e publicista, que muito contribuiu com os seus trabalhos para um melhor conhecimento do concelho.

Descendendo de nobre familia proprietária da Quinta da Torre foi no século XVI que seu antepassado, D. Tomás de Noronha, aio do principe D. João, filho de D. João llI, instituiu em Caparica um morgado de capela, aprovado em 1570, tendo a Quinta da Torre como principal propriedade e sendo constituido pelos bens imoveis que possuia na freguesia.

Este seu antepassado fez parte do primeiro Conselho de Estado, acompanhou a missão ao Concílio de Trento (1545 — 1563) e foi, em visita de cortesia, como embaixador de D. Sebastião, ao rei Henrique III, de França.

Após quatro séculos, o último descendente desta família, D. José de Alarcão, é um simpático ancião que muito se interessa pela história do nosso concelho.

Para além de vária colaboração em jornais e revistas, o Conde dos Arcos é autor de dois livros de interesse para o estudo desta parcela da margem esquerda do Tejo: Caparica através dos séculos I e Caparica através dos séculos II (Roteiro), publicados pela Câmara Municipal de Almada, em 1972 e 1974, respectivamente.

Capa do livro Caparica através dos séculos, Conde dos Arcos, 1972.

Há ainda um volume, Caparica através dos séculos III (Ecos de Antanho) que aguarda publicação.


(1) Correia, Romeu, Homens e Mulheres vinculados às terras de Almada, (nas Artes, nas Letras e nas Ciências), Almada, Câmara Municipal de Almada, 1978, 316 págs.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Margens do Tejo

Saindo do Terreiro do Paço em um vapor, chega-se com poucos minutos de viagem ao caes de Cacilhas, do outro lado do Tejo;

Plano Hidrográfico do Porto de Lisboa, A. F. Lopes e Rodrigues Thomaz, gravura, 1932.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

ahi inúmeros rapazes vos offerecerão burrinhos, que é a viatura ordinária d'este sitio, e são seguros, fortes e tão bons como os do Egypto; 

montareis, e deixando pelas costas o magnifico Tejo e o soberbo panorama da cidade que orla a outra margem, o caes de Cacilhas onde foi assassinado o general Telles Jordão em 1833, e o pequeno fortim adjuncto, ireis por entre casas de mais ou menos formosa apparencia, lindos jardins e valiosas quintas, disfructar a óptima vista do castello de Almada, ou a Fonte da Pipa, d'onde se fornecem de agua muitos navios, e também dos preciosos vinhos encerrados nos armazéns contiguos;

ahi perto é a fabrica da Margueira, bello estabelecimento fabril, e mais longe fica o Pragal, e o Caramujo, e a Cova da Piedade, ludo logares pittorescos, de ares salubres e abundantes comestíveis.

A morada e quinta real do Alfeite é de todos o mais agradável, e depois a quinta da princeza, na Amora.

Palácio e Quinta Real do Alfeite, João Ribeiro Cristino, in Occidente Revista Illustrada, março, 1887.
Imagem: Hemeroteca Digital

Quem do alto do castello de Almada, lança a vista para o outro lado do rio, e abraça n'um relancear toda a senhoril Lisboa, desde Xabregas até Belém, e até á barra, pode dizer que viu um dos mais grandiosos quadros que a Europa apresenta no seu género.

E se alongando a vista pelo Tejo abaixo, transpozer com os olhos a torre do Bogio, enxergará lá fora o Oceano em toda a sua magestade e inúmeros barcos de vários tamanhos e estruturas, que se confundem no horisonte, como uma pequena mancha do firmamento ou do mar.

Saindo de Cacilhas e Almada pela margem sul do Tejo, encontram-se algumas insignificantes povoações para o Occidente, encravadas em areiaes, Porto-Brandão, a Trafaria, Caparica, e outras ainda menos importantes;

para leste do pontal de Cacilhas ha as povoações de pescadores do Barreiro, Seixal e Arrentela, o paiz vinhateiro do Lavradio, Valle de Zebro, e muitos outros logares até Alhos Vedros e Aldeagallega.

Vista de Lisboa tomada de Almada
Imagem: Byron, George Gordon, Childe Harold's Pilgrimage..., London, John Murray, 1869

Nos dias das festas particulares de cada uma d'estas terras o seu aspecto é risonho, as suas galas brilham á luz do sol ; no resto do anno é miserável a apparencia das pobres villas e aldeias, não pagam em graças ao forasteiro o trabalho da jornada. (1)


(1) Novo guia do viajante em Lisboa, Lisboa, J. J. Bordallo, 1880.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Caramujo, 24 de setembro de 1831

É noite. A lua em todo o seu esplendor illumina a praia do Caramujo, que se estende por detrás da longa fileira das casas que formam a povoação.

O Tejo em frente do Caramujo, Revista Illustrada, fotografia de A. Lamarcão, gravura de A. Pedroso, 1892.
Referencia: Toscano, Maria da Conceição da Costa Almeida, A fábrica de moagem do Caramujo património industrial
Imagem: Fernandes, Samuel Roda, Fábrica de molienda António José Gomes

Da esquerda o quadro vae terminar no agudo Pontal de Cacilhas.

Vista da Quinta do Outeiro, Caramujo e enseada da Cova da Piedade, Francesco Rocchini, anterior a 1895.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

Da direita vê-se a meio da praia a pequena ponte que dá facil desembarque para os armazens de vinhos;

mais além ainda a praia e os rochedos, depois o terreno encurva-se, e apresenta a vista, como um alvo lançol, o estabelecimento de Valle de Zebro, e mais em distancia as casinhas do Barreiro, como outros tantos pontos esbranquiçados sobre o fundo escuro do horisonte.

Vista de Almada e Cacilhas (detalhe), Caramujo, enseada da Cova da Piedade, Charles Landseer, 1825.
Imagem: Instituto Moreira Salles

A noite está serena. O silencio é apenas interrompido pelo ruido das vagas, que magestosamente se desenrolam na areia.

Quem áquella hora e com aquelle luar escutasse o rouco marulho do patrio Tejo, facilmente imaginaria a voz de um velho acalentando uma creança.

Caramujo, ed. Paulo Emílio Guedes & Saraiva, 15, década de 1900.
Imagem: Fundação Portimagem

Mais perto percebe-se que ao rumor das aguas se reune o vozear baixo e entrecortado, que sae de um pequeno grupo de pessoas sentadas á porta do pateo da tanoaria de Jeronymo. (1)

Plano Hydrográfico do Porto de Lisboa (detalhe), 1847.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal


(1) Silva, Avelino Amaro da, O Caramujo, romance histórico original, Lisboa, Typographia Universal, 1863, 167 págs.

sábado, 15 de novembro de 2014

Salão das carochas

Também, como qualquer hagiotopónimo, desapareceram o Calváro, que é topónimo perdido, e esqueceram por completo o Largo e a Ermida do Espírito Santo.

Planta do Rio Tejo e suas margens (detalhe), Largo e Ermida do Espírito Santo, 1883.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Igreja de Espírito Santo. É uma das mais antigas de Almada, datando de pelo menos do século XVI.

Está agora totalmende despida interior e exteriormente, com delapidações e alterações absurdas.

O brasão que decorava a fachada, simbolizando o  Espírito Santo foi instalado a despropósito na igreja da Misericórdia e o pórtico sineiro provavelmente na Igreja de Sant'Iago!... (1)

Largo do Espírito Santo (fotomontagem), ed. J.Lemos, década de 1940?
Imagem: Flores, Alexandre M., Almada antiga e moderna, Freguesia de Almada

A Ermida do Espírito Santo, templo de uma só nave, é um edifício baixo, fortemente contrafortado, apresentando-se bem apoiado nas respectivas paredes laterais autoportantes.

[...] a existência desta ermida remonta ao ano de 1478 [pelo menos], encontrando-se documentada no registo de uma visitação da Ordem de Santiago a Almada na qual, para além da enumeração dos seus ornamentos, é apontada a sua localização relativa: "Vesitaram os ditos vesitadores ha hermida de SSanto Espirito que he dentro na ditta vila d’almadaa".

Almada, Ermida do Espírito Santo, 1897.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal
VESSITAÇAM DA IRMIDA DE SANTO ESPÍRITO SITUADA EM A DITA VILLA D’ALMADA [1488]

Vessitamos a dita Irmida de Santo Espírito a qual tem as paredes da capela moor de pedra e caall e o tepto de cima he forrado de bordos boons e o altar mor he d’alvenaria com huua lagea grande em çima e nelle estaa huum retavollo veelho de Espírito Santo quando veio sobre nosa senhora e os apóstolos e a imagem de santiago e de nosa senhora com ho minino Jhesus no colo e no meio da dita capela estaa huua alampada e tem de comprido cinquo varas e de largo tres varas e meia...

E o corpo da dita irmida o arco da capelamor he de pedraria e as paredes do corpo da igreija sam de pedra e barro cuberto de telha vãa e o portal da porta primcipal he de pedraria velho com huuas portas nelle velhas e rotas e na parede da parti de ponente estaa huua canpainha pequena antre duas pedras e tem de comprido oito varas e meia e de largo cinco varas E pegado na dita irrmida da banda do sul estaa uma casinha pequena de pedra e barro cuberta de telha vãa em que ora vive hua Maria Alvarez que tem a chave da irrmida.

ANTT. Ordem de Santiago e Convento de Palmela, Livro 177
[...]Ainda pertença da Igreja Católica, abandona a função religiosa em finais de século XIX, passando a funcionar, através de arrendamento, como sede da Academia Almadense entre 1919 e 1942. (2)

O antigo Salão de festas da Academia Almadense tem uma história curiosa: começou por ser a Ermida do Espírito Santo, construída no século XVII, famosa e de grande devoção, pois dela saía no Domingo de Ramos, uma faustosa procissão de onze andores.

Esta cerimónia veio a terminar, porém, em 1890.

Pouco depois, fechou ao culto, sendo o salão arrendado pela direcção da Academia para efectuar as suas festas.

Ermida do Espírito Santo, ed. J.Lemos, década de 1940?
Imagem: Flores, Alexandre M., Almada antiga e moderna, Freguesia de Almada

No início dos anos vinte [do século XX] esta colectividade explorava o espectáculo cinematográfico conhecido pelo Animatógrafo do Pratas. 

Este foi o segundo cinema que existiu em Almada. O primeiro foi um barracão próximo do Jardim do Castelo, nas traseiras do prédio Queimado.

Prédio Queimado, Tenda Moderna, Almada
Imagem: Delcampe, Oliveira

Durante 21 anos aqui se realizaram muitas e variadas festas, fruto do poder criativo e de muito trabalho dos associados.

Em 1942, após a inauguração da nova sede-teatro-esplanada (em Setembro), a Academia abandona o Salão das Carochas, como era depreciativamente conhecida pelos almadenses a velha ermida.

Ermida do Espírito Santo, Júlio Diniz, década de 1950.
Imagem: Museu da Cidade de Almada

Após o 25 de Abril nasceu uma nova colectividade, o Centro Recreativo e Cultural de Almada, que ocupou o edifício, cuja data de fundação é de 1 de Julho de 1974. (3)


(1) Pereira de Sousa, R. H., Almada, Toponímia e História, Almada, Biblioteca Municipal, Câmara Municipal de Almada, 2003, 259 págs.

(2) Al-Madan Online IIª série, n.º 17, Tomo 1

(3) Correia, Romeu, Homens e Mulheres vinculados às terras de Almada, (nas Artes, nas Letras e nas Ciências), Almada, Câmara Municipal de Almada, 1978, 316 págs.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Retiro dos Frades

Vista panorâmica do antigo largo da Piedade e do início da subida das Barrocas, por volta de 1900.

As burricadas na "Outra Banda" eram bem conhecidas dos lisboetas, pelo seu ambiente típico e folgazão, pois nos vários percursos proliferavam os retiros de "comes e bebes", onde se cantava o fado e, de vez em quando, se armava zara­gata ...

[Cova da Piedade], Uma Burricada, ed. Paulo Emílio Guedes & Saraiva, 14, década de 1900.
Imagem: Delcampe, Bosspostcard

Defronte do "break" (do lado direito) situava-se o famoso Retiro ou Adega dos Frades, também conhecido (no início do século) por taberna e casa de pasto do João Guerreiro.

Os burros entravam no pátio com telheiro e os cavaleiros (na sua maioria, alfacinhas) iam beber uns copos de vinho ou comer qualquer coisa.

Ironicamente, os burros quando se sentiam sem o peso dos cavaleiros, na maioria dos casos, tomavam sozinhos o caminho de Cacilhas (pela estrada da Mutela), à procura dos seus "burriqueiros".

Uma burricada de Cacilhas à Cova da Piedade chegou a custar 120 réis.

Os passeios em caleches, chegaram a custar 120 réis de Cacilhas para Almada, e 500 réis de Cacilhas para a Cova da Piedade, podendo-se ir até ao portão do Alfeite.

As pessoas mais abonadas serviam-se de caleches.

Outras pessoas, vindas de Lisboa, alugavam um carro até à Cova da Piedade por 100 réis, visto que o mesmo levava 5 passageiros. (1)


(1) Flores, Alexandre M., Almada antiga e moderna, roteiro iconográfico, Freguesia da Cova da Piedade, Almada, Câmara Municipal de Almada, 1990, 318 págs.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Sociedade de Pedro Marques de Faria

A rua da Judiaria em Almada foi sempre, como ainda é, uma rua feia e immunda, com a diferença de que hoje varrem-na mais amiudo do que antigamente, e é illuminada de noite a azeite de peixe;

Lisbon from Almada (edited), Drawn by Lt. Col. Batty, Engraved by William Miller, 1830

mas apesar d'isso era ali, n'uma casinha de primeiro andar, que se reunia a rapaziada fina de Almada e dos logares próximos.

O dono da casa, Pedro Marques de Faria, era um velho folgasão, em cujo animo nunca entrou a tristeza, ainda mesmo nos momentos mais graves da vida. 

Dizidor e peteiro, sempre tinha alguma nova anecdota que contar, alguns versinhos que recitar, algum caso notavel de que ouvira fallar em Lisboa, ou as novidades politicas falsas e verdadeiras de que a epoca era abundante. [...]

O terror miguelista: os caceteiros, aguarela de  Alfredo Roque Gameiro, publicada em1932.
Imagem: www.roquegameiro.org

Era pois a época em que florescia em Almada a sociedade de Pedro Marques de Faria, e era vespera de S. João do anno de 1831. [...] 

Na tarde do dia seguinte corriam-se touros em S. Paulo.

A esta funcção não concorria Pedro Marques que a detestava; mas ia lá Espanta-maridos, e quasi toda a sociedade de Pedro Marques. [...]

Em consequencia, annunciando-se um cavalleiro, que havia de tourear mascarado para não ser conhecido, todos se perdiam em conjecturas ácerca de quem seria, chegando-se a fazer algumas muito despropositadas, e as mais razoaveis eram de que algum grande fidalgo tinha tido este devaneio, mas que naturalmente se daria a conhecer se saísse airoso do combate. [...]

Toureiro mascarado, anúncio ou ingresso relativo a corrida de touros na praça do Campo de Sant'Ana, 1881.
Imagem: Fórum Touradas

Era o touro claro, e arremetteu direito ao cavalleiro. Este desviando o cavallo evitou a marrada de frente; mas quando na corrida ia enterrar a farpa, o cavallo afocinhou, e o touro apanhando o cavalleiro pelas pernas, arrancou-o da sella e deu com elle em terra, levando-lhe toda a parte trazeira dos calções e mais roupas sob-postas, deixando-o n'um estado indecente. [...]

Era o caso que sendo Gomes costumado a ir tourear com os fidalgos, e sabendo da paixão de Diniz por este divertimento, tinha imaginado conquistar n'aquelle dia uma grande preponderancia no animo de Diniz, e por consequencia os affectos de sua filha: feliz ou infelizmente saiu mal do intento.

Mas o populacho era inexoravel e gritava com grande algazarra — fóra! fóra porco! fóra porco!


Ainda Diniz e outros, condoidos do infortunio de Gomes, lhe bradaram – Animo! Torna a picar! (1)


(1) Silva, Avelino Amaro da, O Caramujo, romance histórico original, Lisboa, Typographia Universal, 1863, 167 págs.

Artigo relacionado:
Praça de touros do campo de S. Paulo

sábado, 8 de novembro de 2014

Os amantes suevos

Paisagem no castelo de Almada, José Malhoa, Album de desenhos (17),  1870.
Imagem: Museu José Malhoa

Mas a Imagem, sepulta entre as ruinas,
Delias surgiu em tempos mais ditosos.
Os devotos Christãos lhe consagraram
Nos cimentos da antiga nova Ermida,
A tradicção vetusta conservando
Seu adro verdes Alamos circumdam,
E o lugar da Piedade guarda o nome.
N'um alto torrião Emilia habita,
E da janella sua ao longe a vista [...]

Silva, José Maria da Costa e,  Emilia, e Leonido...
Imagem: Internet Archive

Onde o Tejo, bojando, mais se alarga,
Sua sinistra margem corcomendo
Com suave pendor se eleva hum Teso,
Alfeite o nome seu, e hoje he famoso
Pela Quinta Real, que o veste, e cobre
De ampla verdura, espessos arvoredos
De latadas de vinha, amenas fontes,
Onde os muros ás nuvens levantava [...]

Real quinta e residência do Alfeite, 1851.
Imagem: António Silva Tullio, A Semana.

Olhos fictos no Alfeite, a quem fronteiro
O rápido Batel entào passava,
Ao passo, que se alonga, vam fugindo
As muralhas, as torres, e mais débil [...]

Vue de Lisbonne prise de Alfeite, Celestine Brelaz (Lenoir), c. 1830.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Á meia noute c'hum Batel me espera
Consente o velho, indica-lhe, não longe,
Pequeno azado porto, a quem chamaram
Do Marisco, em que abunda, Caramujo:
Denso pinhal cobria-o nessas eras,
Cobrem-no hoje armazéns abarrotados
Do espumante licor do Deos Thebano [...] (1)

Paisagem Praia do Alfeite, José Malhoa, Album de desenhos (18), 1870.
Imagem: Museu José Malhoa


(1) Silva, José Maria da Costa e,  Emilia, e Leonido, ou os amantes suevos, Lisboa, Typographia de A. S. Coelho & Comp.a, 1836.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Tarde de abril

Panorama de Cacilhas (Ginjal, Fonte da Pipa, Olho de Boi, Quinta da Arealva), 1967.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

Já lá vão bastantes annos depois d'essa tarde de abril, em que Antão Diniz, de sobrecasaca azul com botões amarellos, galões de major nos punhos, chapèo redondo, e guarda-sol ao hombro, levava pelo braço D. Francisca Rosa de Lima, sua mulher, a santa senhora, como lhe chamava a tia Libania;

Oficial do Regimento de Infantaria n° 2, 1834.
Aguarela de Ribeiro Arthur.
Imagem: Colecção de Postais de Ribeiro Arthur

adiante sua filha Mathilde, linda mocinha de l6 annos, com seus sapatos de fitas traçadas, e vestido de seda cor de canella, toda peralta, como tambem dizia a tia Libania;

e á esquerda de D. Francisca, o joven Luiz Franco, a cara mais sympathica de rapaz que eu tenho conhecido.

La se ía este ranchínho na direcção da Arealva, por aquella empoeirada estrada, para onde a brisa impellia os aromas de mil odoriferas plantas.

La Merveilleuse odyssée d'Olivier Rameau et de Colombe Tiredaile,
Dany et Greg, éd. Le Lombard, 1970.
Imagem: Anita Blake

Sobre elle o nosso bello sol meridional projectava a sua cor doirada d'entre o azul da abobada celeste.

O Passeio ou A Mulher da Sombrinha, Oscar-Claude Monet, 1875.
Imagem: Wikipédia

Ao longe ouvia-se a chiada dos carros e o saudoso ulular dos moinhos.

Ó cidades que ostentaes vossos templos, palacios, carroagens e oiros!

Por maior que seja a vossa pompa e grandeza, não conseguireis que eu esqueça uma hora passada nos amenos logares da Outra-Banda.

Lá vão pois estrada fóra; e para fazerem o passeio mais longo, ao chegarem ao poço de Cacilhas sobem a Almada, 

Lisbon from Fort Almeida [sic], Drawn by C. Stanfield from a Sketch by W. Page, reprodução alemã.

contemplam Lisboa, cidade que d'ali parece como feita de marfim, e a que só faltam os minaretes para se afigurar ao viajante uma cidade mahometana, tão branca e phantastica se apresenta á vista com seu hello porto, vasto, e ermo de navios n'esta época da decadencia de Portugal...

Cacilhas, Praia da Fonte da Pipa e Olho-de-Boi, João Vaz.
Imagem: Casario do Ginjal

Depois descem á Bocca do Vento, dirigem-se a Olho de Boi, e percorrem o longo caes que conduz á entrada da Arealva.

Quinta da Arealva, Margarida Bico.
Imagem: Panoramio

Eil-os na quinta d'este nome, nos bancos de pedra, junto ao portão, debaixo das velhas arvores. (1)


(1) Silva, Avelino Amaro da, O Caramujo, romance histórico original, Lisboa, Typographia Universal, 1863, 167 págs.

sábado, 1 de novembro de 2014

Furiosa batalha

Trafaria, 1750

Vista do Tejo e da Trafaria, The river Tagus at Trafaria, John Cleveley Jnr, 1775.
Imagem: Bonhams

Era uma tarde do ardente Junho, na era da era deste, quando já o rasante Zéfiro declinava os seus relevantes sopros com o grande incêndio dos caniculares que naquele dia deram cabal indício da sua breve chegada, tempo em que fazendo já o dia paroxismos e já do Sol os brilhantes raios, tremulando, se encaminhavam para o ocaso;

quando já as montanhosas aves, pondo termo aos seus harmoniosos cantos, só procuravam cuidadosas, entre os copados freixos os seus ninhos;

a esta hora, pois, quando as ondas do aprazível Tejo, com os mais sossegados movimentos se estendiam nas suas arenosas praias, aonde, desfazendo-se em cristalinas pérolas, se multiplicavam os brilhantes cristais, apareceu, em Travessia do Cabo Espinhel [Espichel], a bombordo da nossa barra de Lisboa, uma armada de embarcações do Algarve, que constava de três lanchas guarnecidas, cada uma delas, com bastantes algarvios, vinte e tantos chuços, dezoito bicheiros, nove facas flamengas, vinte e cinco navalhas de dez réis e setenta e tantos cachimbos, entre velhos e novos;

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Cayque
Batiment pecheur de l'Algarve qui vient
souvent à Lisbone

e assim vinham preparados para o que pudesse suceder, pois esta gente do Algarve, como são ali confinantes com os Mouros, por isso todos são arrenegados e mais arrenegados vinham por ser no tempo do figo verde que quando lá não se passa, não podem eles passar; e por conta disso, saíram de suas terras jurando pelas almas dos capachos e pelas tripas dos atuns que haviam de sacar dinheiro, mas que roubassem algum.

Astérix le gaulois, Uderzo et Goscinny, Dargaud, 1961.
Imagem: BD Central

Vai senão quando vindo estes piratas do presente, por lhes faltar o contrato do passado, já dentro do nosso Tejo, tomando o rumo da parte colateral do Bugio, chegaram à frente daquela formosa terra da Trafaria, para donde se botam os lazarentos como os cavalos para o almargem, e subindo o gajeiro acima a descobrir terra, divisou por entre o colombo do nariz e a cabeça do cachimbo, a boiar, uns vultos no meio da água;

Torre do Bugio na Barra de Lisboa, João Pedroso, gravura
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

e entendendo ser atum ou golfinho deu logo parte ao seu comandante, e mandou este que voltassem por estibordo e que fossem a provar a natureza daqueles monstros marinhos.

Entra logo toda a confraria a gritar uns com os outros com o maior desassossego nunca visto e, entendo ser empresa em que pudessem tirar os ventres de miséria, entraram a remar com toda a força e chegando aos ditos vultos, acharam-se engasgados com as bóias de uma rede que ali tinham botado os ditos Saveiros. 

Fizeram consulta entre si e votaram para que se levantasse a rede e saqueasse o peixe e tudo o mais que pusessem agadanhar para saciarem a desesperada fome das suas negregadas barrigas.

Porém, estando todos nesta diligência, sucedeu vir um dos Saveiros saindo da costa que fica ao sul da Trafaria, aonde adiantados bosques fabricou entre as margens do mesmo Tejo e recôncavos daquelas penhas uma celebrada enseada em que os ditos Saveiros vivem a maior parte do ano aquartelados em suas cabanas;

A topographical chart of the entrance of the river Tagus (detalhe), W. Chapman, 1806.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

e vendo este que ao redor da rede se divisavam três embarcações, supôs logo serem piratas e remando para trás com toda a força, foi logo dar parte aos companheiros que se achavam emboscados na dita enseada. 

Estes, que também não são moles pelo rústico modo de viver que têm à maneira de feras, sem conhecerem mais Deus que ao Deus Baco, nem terem outra lei que a da sua conveniência, desassossegados com o aviso, deram logo ordem, a toda a pressa, a botarem as suas embarcações ao mar; 

armando-se de cacheira, chuços, paus e facas se embarcaram valorosos, influindo neles não menos a arrogância de Baco que o valor de Marte e remando com inexplicável ligeireza chegaram a avistar as embarcações dos Algarvios que já a esse tempo tinham saqueado a rede com todo o peixe.

Transporte da sardinha na Trafaria, Joshua Benoliel, início do século XX.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

Porém, como estes estavam cuidando no modo como haviam de meter o peixe na barriga, pouco se lembraram que era furto para a cautela de fugirem e, assim, chegando os Saveiros a tiro de cachamorra e certificando-se de que eles lhe tinham furtado a rede com todo o peixe, renovaram os incendiados ânimos e travando-se uns com os outros de bestiais razões, deram princípio à mais furiosa batalha que se tem visto cá nestes tempos.

Pois juntando-se os Saveiros, que eram sete, todos em fileira, fizeram cerco às três embarcações dos Algarvios e estes, vendo-se no meio, lançaram mãos aos chuços e travando-se a dura guerra de parte a parte, tão grande era o marcial estrépido junto com o furiosos alarido daquelas bárbaras e rústicas línguas que toda a gente da Trafaria saiu a campo, sem que ficasse velhas no canto da chaminé nem moça na porta da rua que não acudisse à praia, aonde se avistava o lugar da batalha;

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Saveiro da Costa fig. A e do Tejo fig. B
Petits Batiments pêcheurs Ceux de la fig. A
pêchent hors du Tage

aqui já soavam as vozes de que tinham morrido cinco e dois que caíram ao mar afogados e trinta e tantos feridos de uma e outra parte, certificando-se a notícia com o sangue que era já tanto que chegava a tingir as brancas areias das cristalinas praias e qual outro Mar Vermelho apareceu o nosso Tejo nesta ocasião, que faltando já as forças a uns por feridos e as vidas a outros por mortos, metendo-se de permeio a obscuridade da noite, deram fim à batalha com grandes destroços de parte a parte.

E indo-se já recolhendo a justiça que teve notícia do sucesso, saltando-lhe ancas, prendeu tudo fora uns poucos que fugiram e, passando-se só alvará da soltura aos que ficaram mortos, levaram trinta e tantos para a Torre do Bugio e vinte e sete que se encontram no troco desta cidade.

H.M.S. Victory (?) na embocadura do Tejo, Thomas Buttersworth (1768 - 1842).
Imagem: Bonhams

Porque parte ficasse a vitória desta batalha não corre notícia certa e só se suspeita com certeza que esta passará por dez réis para a mão de qualquer curioso que Deus guarde para sustento dos cegos e amparo das tabernas. (1)

Astérix légionnaire, Uderzo et Goscinny, éd. Albert René, 1966.
Imagem: Ecole Edouard Vouagnat


(1) Guevarz, Francisco, Nova relação da batalha naval, que tiveram os algaravios com os saveiros nos mares, que confinão com o celebrado paiz da Trafaria, Catalumna, 1750.