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terça-feira, 30 de junho de 2015

Empresa de Camionetes Piedense

A empresa Piedense tem uma frota de 44 veículos, a maioria dos quais com base nos chassis Volvo e Berliet de motor frontal.

Cacilhas, Lisboa vista de Cacilhas, ed. Postalfoto, 468, década de 1950.
Imagem: Delcampe

As carrocerias em alumínio foram construídas pela empresa em oficinas próprias, na Trafaria. O material utilizado foi em grande parte fornecido pela Aluminium Union, Ltd., da Grã-Bretanha, e o diretor e gerente geral, sr. Agostinho Ramos Munhá, está satisfeito com os resultados.

Cacilhas, autocarro Volvo, viatura 24 ou 26 da da Empresa de Camionetes Piedense, largo do Costa Pinto (detalhe), Mário Novais, c. 1947.
Imagem: Fundação Calouste Gulbenkian

As taxas de consumo de combustível dos veículos são baixas e uma grande poupança é feita em direitos de importação.

Versatilidade do chassis Berliet PCK 8 adaptável a diferentes carrocerias.
Imagem: Bus America

As carrocerias apresentam-se sem pintura, e têm-se revelado particularmente fáceis de limpar e manter.

Cacilhas, comemorações do centenário da Incrível Almadense, Júlio Dinis, Outubro de 1948.
Em segundo plano, autocarros com cabine recuada e, outros, com a volumetria do motor integrada no habitáculo.
Imagem: Museu da Cidade de Almada

As grandes janelas curvas, à frente e atrás, e as portas de dobrar são características do design. O sistema de entrada de passageiros pela traseira e saída pela frente, com o sistema de portas dobráveis, operadas manualmente, é generalizado em Portugal.

Trafaria, paragem de autocarros, Mário Novais, década de 1940.
Imagem: Fundação Calouste Gulbenkian

Os interiores são revestidos a alumínio natural, com estofos em vermelho. As janelas são de correr, de manuseamento rápido, com cortinas, e as luzes do teto têm painel antirreflexo. As camionetes têm instalado um relógio e um aparelho de rádio porque também são usadas ​​em serviços interurbanos e de turismo.

Berliet PCK 7, autocarro com carroceria do fabricante.
Imagem: Delcampe

Acima do lugar do motorista está um espelho à largura total que lhe dá uma visão completa do interior e, a seu lado, está disponível um assento especial para funcionários da empresa e da polícia, que são transportados gratuitamente.

Berliet PCR 10, interurbano com carroceria do fabricante.
Imagem: Delcampe

São transportados pelos veículos mercadorias, correio e passageiros. As mercadorias são transportadas no tejadilho [...] Na parte traseira do veículo, do lado de fora, há uma caixa de correio [...]

Berliet PCK, viatura 29 da Empresa de Camionetes Piedense, c. 1952.
Imagem: Publi Transport in Portugal

Muitos passageiros obtêm os seus bilhetes nos escritórios da empresa antes do embarque.

Às 62.000 milhas cada veículo é sujeito a uma inspeção geral e revisões pontuais são efetuadas nos intervalos de 42.000, 36.000 e 30.000 milhas. Duas grandes manutenções são feitas a cada mês, de maneira que nenhuma das camionetes trabalha mais de dois anos sem uma revisão completa.

Berliet PCK, viatura 29 da Empresa de Camionetes Piedense, década de 1950.
Imagem: José Luis Covita

As bombas de combustível são recalibrados numa máquina inventada por um empregado da empresa. O seu sucesso é tal que é frequentemente emprestada aos operadores de Lisboa.

Uma nova área de desenvolvimento da empresa é a construção de alguns atrelados de 16 lugares, que serão rebocados por pequenas unidades de tração, para o serviço de curta distância a partir do terminal na Costa da Caparica até à praia, que se está a tornar uma estância de fim de semana favorita dos lisbonenses.

Costa da Caparica, Almada, Largo Comandante Sá Linhares, ed. Passaporte, 08, década de 1950.
Imagem: Fundação Portimagem

Além das carreiras regulares, são também efetuados oito serviços de longa distância pelo sul e centro de Portugal. Estes serviços abrangem uma rota total de 1.020 milhas.

Cacilhas, Berliet PCR, viatura 31 (?) da Empresa de Camionetes Piedense, c. 1952.
Imagem: Publi Transport in Portugal

No total, 2 milhões de passageiros são transportados pela empresa em cada ano e os veículos cobrem 21 milhões de milhas.

Cacilhas, autocarro Berliet da Empresa de Camionetes Piedense, com o pára brisas em lanterna.
Imagem: José Luis Covita

Embora a qualidade dos veículos britânicos seja admirada pelo diretor geral, o mesmo acredita que, por causa do seu preço, não é atualmente possível a compra de veículos britânicos.

Cacilhas, autocarro Berliet, viatura 53 da Empresa de Camionetes Piedense.
Imagem: José Luis Covita

Os veículos franceses e suecos sempre prestaram um excelente serviço. (1)


(1) Commercial Motor (Archive),  Publi Transport in Portugal,  31 de outubro 1952, pág. 41

Artigo relacionado:
Uma empresa que se impõe


Bibliografia:
Covita, José Luis Gonçalves, História da Camionagem no Concelho de Almada, Almada, Câmara Municipal de Almada, 2004

sábado, 27 de junho de 2015

Lisbon South Bay

Sentado ao sol da manhã
Vou estar sentando quando a noite vier
A ver os navios a chegar
Então vejo-os novamente a partir, sim

Cacilhas, ed. Supercor, 1808, década de 1980.
Imagem: Delcampe

Estou sentado no cais da baía
Assistindo ao vazar da maré, ooh
Estou sentado no cais da baía
Perdendo tempo

Rio Tejo, muralha de cantaria junto à Praça do Comércio, Henri Cartier-Bresson, 1955.
Imagem: Pinterest

Deixei minha casa na Georgia
Vim para a baía de Frisco
Porque nada tinha para que viver
E parece que nada vai surgir no meu caminho


Então, apenas vou sentar-me no cais da baía
Assistindo ao vazar da maré
Estou sentado no cais da baía
Perdendo tempo

Lisboa 30, Maluda, 1985.
Imagem: Modus vivendi

Parece que nada vai mudar
Tudo ainda continua o mesmo
Não posso fazer o que dez pessoas me dizem para fazer
Então, acho que vou permanecer o mesmo, ouçam

Vista de Lisboa e do Tejo tomada do castelo de S. Jorge, Henri Cartier-Bresson, 1955.
Imagem: Pinterest

Aqui sentado a descansar meus ossos
E esta solidão não me deixa só, ouçam
Duas mil milhas vagueio
Apenas para fazer desta doca a minha casa, agora

Sarner, Eric, (argumento), Prado, Miguelanxo, (desenhos), Carta de Lisboa, Meribérica/Líber, 1998
Imagem: Casario do Ginjal

Vou apenas sentar-me no cais de uma baía
Assistindo ao vazar da maré, ooh
Sentado no cais da baía
Perdendo tempo (1)


(1) Writers: Stephen Lee Cropper, Otis Redding, 1968; Copyright: Cotillion Music Inc., East Memphis Music Corp.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

O Romãosinho

Quando uma pessoa vae pela primeira vez a Cacilhas, no louvavel e innocente proposito de subir a encosta do Ginjal, para do alto do Castello de Almada se extasiar na contemplação do soberbo panorama da cidade, talvez o mais bello do mundo, fica surprehendida e atordoada no meio de uma horda e selvagens indigenas que a agarram ao desembarcar e não deixam dar um passo sem pagar o pesado tributo de ser transportada.

Panorama de Lisboa visto do Tejo, ed. Costa, 465, década de 1900.
Imagem: Delcampe

Esses selvagens dividem-se em duas tribus, a dos cocheiros e a dos burriqueiros. A primeira aspira simplesmente a desconjunctar-nos os ossos, dentro d'umas caixas immundas a que da o nome de trens; a outra contenta-se em nos bifurcar n'uma enxerga enorme, debaixo da qual apparece a cabeça melancolica d`um burro paciente e resignado; e n'essa posição ridicula e em passo cadenciado passeiar-nos pelas ruas da villa no meio das chufas e dichotes dos seus naturaes.

Trem, veículo de tração animal.
Imagem: Flores, Alexandre M., Almada antiga e moderna, roteiro iconográfico, Freguesia de Cacilhas

Longe porem d'essa turba assustadora, que nos aperta, acotovella, ensurdece e esfarrapa, ve-se um homem alto e magro, figura robusta e valida, os olhos encovados, a côr terrena e palida; os cabelos crespos; a boca negra, os dentes amarellos, como a miniatura do inconsolavel Adamastor, ou como uma personagem transportada para a vida real, d'uma das telas sublimes de Goya.

É o Romãosinho.

E o aspecto d'aquelle todo que desagradavelmente nos impressiona á primeira vista, sem pretenções a homem, sem correcção de postura, sem vislumbres de alegria, sem ambição de adquirir e sem receio de perder, traduz as estancias dolorosas e sentidas que dilaceraram aquella alma candida e pura, quando o tufão da desgraça lhe apagou a estrella luminosa que o guiava na vida sonhadora da sua mocidade.

Aquella barba incorrecta. aquelle olhar abstracto. como quem procura o que já não póde achar, aquella expressão fria e desdenhosa, aquella figura exotica e repellente, aquelle homem, emfim, aspero e rude que afugenta e enffastia, lembra as ruinas amarellecidas e abandonadas d'um formoso edificio que d'antes tivesse abrigado a alma inspirada d'um poeta, ouvindo-o contar os magicos encantos das rubras alvoradas, os longos desmaios  dos crepusculos nas tardes amenas do estio e as indefinidas tristezas das noites frias e luminosas. em que as aves caladas se aconchegam nos ninhos e a lua se revê nas aguas azuladas d'um lago transparente e calmo.

Pobre Romãosinho

De tantos que por ahi passam, poucos ha que fossem capazes e sentir os echos tristes d'esse amoroso coração na hora angustiosa da sua desventura indefinida.

E, se acaso alguem lhes contar a causa da tua desalentada magua, responderão com um sorriso imbecil e desdenhoso por esse grande sentimento do amor que tu possuiste e que elles não comprehendem, porque Deus não o concede aos infimos grilhetas da materia.

E como é simples a historia d'este paria! E como se conta em duas palavras um longo drama de angustias!

Fora de pequeno creado no mar. Aos vinte annos era dos trabalhadores mais estimados e respeitados do sitio.

Pharol de Cacilhas, ed. Paulo Emílio Guedes & Saraiva, 3, década de 1900.
Imagem: Fundação Portimagem

Vestia com um primor e graça pouco usado então na sua classe, e aos domingos nenhum dos seus collegas, assistia com mais donaire á missa parochial, nem passeava depois pelas ruas, attrahindo com e e os olhares sofregos das raparigas d'aguelle tempo, por quem parecia ter uma grande indifferença.

Amava o mar, seu mestre na lucta, e a canóa, a melhor garantia da sua independencia.

Cacilhas, Caes e Pharol, ed. desc., década de 1900.
Imagem: Delcampe

Mas um dia viu descer até elle o olhar meigo e acariciador d'uma formosa mulher que lhe offerecia com os labios sensuaes e sequiosos de beijos os delicados perfumes das flores de laranjeira da sua corôa de noivado, e um rinho futuro de sonhos voluptuosos, de francas alegrias sinceras, de ineffaveis encantos dulcíssimos, de tudo emfim que constitue a felicidade suprema na vida.

E na doce contemplação d'esse formosíssimo vulto elle sentia o seu espirito inundado de toda a santa poeira do ceu.

E o seu braço forte de athleta invencível, e a sua alma generosa embalada desde a infancia pelas infinitas harmonias do mar, uniram-se para dar áquella adorada creatura todo o bem estar e felicidade de que se achava digna. E ella em paga murmurava-lhe ao ouvido com a sua voz enamorada umas phrases tão meigas que lhe fortaleciam o espirito e alegravam o coração.

Pouco durou esse amoroso idyllio.

The Laughing Woman.
Imagem: Skagway Stories
Essa adorada mulher que elle tinha engrinaldado com as mais delicadas flores da santa poesia da sua alma, desappareceu-lhe um día. inesperadamente... como viera... qual branca visão d'uma ballada de Ossian!...

O que se passou então n'aquelle coração dilacerado, não ha palavra humana que o exprima. Elle proprio não o soube contar; d'aquelles labios contrahidos nunca sahiu uma queixa... d'aquelles olhos abstractos nunca rolou uma lagrima.

O mundo passou a ser para elle um arido deserto, onde se sentia morrer á mingua d'uma consolação e d'uma esperança.

O mar,  o seu velho amigo, a quem d'antes contava os segredos íntimos se sua alma, radiante de felicidade, ao percorrer-lhe o dorso dourado pelas tremulas scintillações do sol; a aragem que lhe enfunava o latino branco de seu barco, os amigos íntimos que encontrava, os perfumes dos campos por onde vagueava dias inteiros, os murmurios das aguas, os cantos das aves, a felicidade dos ninhos, o sussurro do vento, os echos sonoros das grandes solidões, as emanações balsamicas das flôres que se misturam na athmosphera, tudo emfim que a natureza nos offerece nas alegres palpitações da vida, tudo lhe trazia á memoria essa divina imagem de que jámais se podia esquecer.

Ás vezes entrava no templo, e os cirios fulgorantes dos altares, e os canticos tristes das cerimonias e as preces cadenciadas que sobem ao ceo entre nuvens de incenso, e toda aquella uncção religiosa, combinava-se já tão pouco com a sua descrença atroz, que sentia o coração estalar mais, fibra a fibra, como as cordas metallicas d'um salterio em tristes vibrações harmoniosas.

Cacilhas (Portugal), Largo do Costa Pinto (detalhe), ed. Martins/Martins & Silva, 18, década de 1900
Imagem: Delcampe

Um dia bebeu, e o vinho fel o perder por alguns momentos a consciencia da sua desgraça.

Desde então nunca mais deixou de pedir a esse liquido que alegra e entristece. que inspira e desvaira, que arrebata e narcotiza, o lenitivo supremo d'uns minutos de inconsciente alegria, prologo de horas beneficas de descuidado e profundo adormecimento.

E assim se vae finando dia a dia, n'um suicidio lento, esse grande desgraçado. Como eu te comprehendo bem, meu pobre Romãosinho!

Vista tomada no porto de Cacilhas, face a Lisboa, Hubert Vaffier,  1889.
Imagem: Bibliothèque nationale de France

Tu és uma bella estrophe realista do eterno poema da desgraça e do amor. (1)


(1) Ferreira, Libanio Baptista, O Occidente, n° 562, 1894

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Lagoa de El-Rei

Porto Brandão, em frente de Belém. Magnifica vista para a margem opposía do Tejo. Arvores — coisa rara — nas visinhanças. Soffriveis casas a preços módicos. Um bello passeio de cerca de três léguas pela charneca até á Lagoa de El-Rei, o retiro predilecto de D. Pedro V.

Mappa das vizinhanças de Lisboa (detalhe), 1842.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

O pequeno e modesto prédio da casa real, de um só pavimento ao rez do chão, fica á beira do lago, na solidão da charneca.

Hum projecto para a casa de rendez-vous das caçadas reais na Lagoa de Albufeira (detalhe), J. Possidónio Silva, 1854.
Imagem: Arquivo Nacional Torre do Tombo

A paizagem é de uma grande melancholia sympathica, de um encanto profundamente penetrante. A agua tranquilia da grande lagoa, o áspero aspecto da charneca, a grande solidão, a planice, o profundo silencio, infundem uma pacificação e um sentimento de serenidade ineffavel.

D. Pedro V, William Corden sobre original de Winterhalter.
Imagem: Palácio Nacional da Ajuda

A lagoa é muito povoada, mas a pesca é prohibida sem licença expressa do individuo que a arremata em cada anno. Não obstante, o auctor d'estas linhas na ultima vez que ali foi apoderou-se de um polvo, fisgando-o contra uma rocha com uma navalha americana que o seu amigo Eça de Queiroz lhe mandou de presente das margens do Niagara.

Planta da Lagoa de Albufeira, 1849.
Imagem: Arquivo Nacional Torre do Tombo

Fundamos o nosso direito a este polvo na circumstancia de que a rocha não é agua mas sim terra firme. Em todo o caso aproveitamos esta occasião para desencarregarmos a consciência pedindo humildemente perdão a sua excellencia o arrematante da lagoa e a sua magestade o proprietário d'ella. Estamos prontos a dar outro polvo, se a coroa assim o exigir.

Planta da Lagoa de Albufeira e do terreno adjacente, 1849.
Imagem: Arquivo Nacional Torre do Tombo

Os contornos do lago são habitados por óptimos coelhos, magros, mas de um especial sabor salgado e bravio. O snr. D. Pedro V matava-os na carreira, á bala, com notável pericia.

Projecto de ampliação da casa da Lagoa de Albufeira (detalhe), J. Possidónio Silva, 1854.
Imagem: Arquivo Nacional Torre do Tombo

A caça não tem arrematante e é permittida ao publico. Além dos coelhos, que são abundantes, ha massaricos, patos e outras aves marinhas. (1)

Lagoa de Albufeira, ex Lagoa de El-Rei.
Imagem: HDBeachcam

Sua Alteza o Duque de Bragança [príncipe D. Carlos] e vários convidados foram hontem caçar na lagoa de Albufeira.

Conductor, embarcação a vapor construida em 1880.
Parceria dos Vapores Lisbonenses de Frederico Burnay.
Imagem: ALERNAVIOS

Sua Alteza embarcou ás 5 horas da manhã a bordo do vapor "Conductor" no caes de Belém. (2)


(1) Ortigão, Ramalho, As praias de Portugal; guia do bahista e do viajante, com desenhos de Emilio Pimentel, Porto, Magalhães & Moniz, 1876
(2) Diário Illustrado, 24 de dezembro 1886

terça-feira, 23 de junho de 2015

O incendio da fabrica da Margueira

A nossa gravura de hoje representa o incendio da fabrica da Margueira, visto de Lisboa, na noite de 18 [de março de 1883], e illuminando o Tejo com os seus clarões sinistros. (1)

Incendio na fábrica de cortiça Henry Bucknall & Sons, 17 de março 1883.
Imagem: Hemeroteca Digital

Hontem, pelas 11 horas da manhã, o vento soprava rijo do sul, espalhou pela cidade denso fumo, não tardando em cair uma chuva de cortiça carbonizada.

Correu logo a noticia de que havia na Outra Banda um incendio pavoroso. De facto os curiosos que correram a extensa cortina do Aterro viram elevando-se do lado do sul uma enorme columna de fumo, por entre a qual surgiam grandes labaredas. Parecia que se achava em chammas toda a casaria de Cacilhas.

A força do vento e a violencia do incendio eram taes que não só caiam grandes bocados de cortiça queimada no caes do Sodré, ruas do Alecrim e immediações, mas até muitos bocados foram a enormes distancias.

Na rua do Sol ao Rato, no Campo de Sant'Anna e até na estrada de Palhavã foram cair pedaços de Cortiça.

Praça do Comércio e Rio Tejo, Francesco Rocchini (1822 - 1895), c. 1868.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

O sr. visconde de Coruche, voltando da Charneca, encontrou na estrada, muitos pedaços de cortiça que tinham sido lançados até ali.

Averiguou-se emfim que o fogo era na Margueira, na grande fábrica de cortiça dos srs. Henri Buchnal & Filhos [Henry Bucknall & Sons], de Londres. Sabe-se que era aquella uma das maiores fabrica porque havia ali mais cortiça do que toda a que ha em todas as outras fabricas do reino, e que empregava um pessoal de 400 pessoas. Ocupava uma area immensa, sendo a parte já incendiada de nada menos de 3:000 metros.

Além dos grandes armazens bem providos, existiam n'essa area grandes pilhas de cortiça em bruto, que se tornaram em outras tantas montanhas de fogo.

O fogo manifestara-se ás 10 horas e meia em uma das grandes pilhas, assumindo logos as mais assustadoras proporções.

Os primeiros socorros foram logo prestados pelas proprias gentes da fabrica, que pouco ou nada podia faser, em rasão dos seus esforços serem destruidos pela força do vento.

Quando chegou a primeira bomba, que foi a do Vasco da Gama, acompanhada por um contigente d'esse navio, já o fogo se comunicara a um grande numero de pilhas, ameaçando devorar toda a fabrica.

Couraçado Vasco da Gama, gravura, J. Pedroso, O Occidente, 1880.
Imagem: Hemeroteca Digital

Apóz essa bomba compareceram as das corvetas Rainha de Portugal, transporte de guerra África, bomba a vapor do arsenal de marinha, a dos voluntarios de Lisboa e Junqueira,  Almada, bombas municipaes de Lisboa 1 e 17, pessoal dos carros 21, 23 e 24, um piquete de 60 praças de sapadores etc.

Desenvolveu-se a maior actividade no ataque, funccionando todas as bombas e pessoal á proporção que iam chegando. Na inteira possibilidade, porém, de se salvar a fabrica, convergiram as atenções para a rua principal de Cacilhas, cujos predios do lado do nascente, desde o n° 91 até 150 se achavam em grande risco. Em alguns d'elles e na igreja chegou mesmo a pegar o fogo. Aos grandes esforços no entanto empregados pelo pessoal encarregado da defeza d'essas propriedas, e principalmente aos dos marinheiros da armada, deve-se a salvação, póde assim dizer-se, de toda a rua de Cacilhas.

Rua Direita — Cacilhas, ed. desc., década de 1900
Imagem: Delcampe, Oliveira

Era admiravel a coragem, a valentia desenvolvida por aquelles bravos, que por sobre os telhados, corriam a um e outro ponto a apagar o fogo que começava a lavrar.

Os marinheiros do Africa, sabendo que no predio n.° 107 existe um importante deposito de enxofre, correram ali, tratando de remover todo o conteúdo do deposito, que foi uma das casas onde primeiro se communicou o fogo.

No ministerio do reino, recebeu-se, pouco depois de se ter manifestado o incendio, o primeiro telegramma, que, apesar do seu laconismo, não podia ser mais aterrador: "Acudam-nos, que morremos todos queimados."

É que já n'essa occasião, caiam sobre os telhados da rua Direita de Cacilhas montões de faulhas, começando a manifestar-se o incendio em diversos pontos. Quando nós desembarcamos em Cacilhas, vimos muitas familias, percorrendo as ruas por terem, receiosas abandonado as casas, e montes de mobília, roupas, etc. disseminados por diversos pontos. Parecia o dia do juízo.

Não nos foi possivel aproximar do local do incendio; era mesmo impossivel, não só para nós, como para a gente do trabalho qualquer aproximação d'aquella fornalha immensa.

Ás 2 horas da tarde ardiam os moinhos, vinhas, mattos, arvoredo, apresentando toda aquella enorme area incendiada, um espectaculo admiravelmente horrivel. Ás 4 horas começou funccionando a bomba de vapor, tendo por alvo o laboratorio de productos chimicos e as casas proximas. O laboratorio, não obstante todos os esforços empregados, ficou destruido.

Não se pôde fazer calculo exacto dos prejuisos. Ha porém quem os avalie em uns 900 contos. A fabrica e a cortiça estavam seguras em companhias inglezas com agencias em Londres, em 40:000 libras.

Compareceram no local os srs. ministro do reino e da marinha, commissario geral de golicia, admmistrador do concelho, grande numero de policias, e piquetes de infantaria 2, 5, 7 e guarda municipal.

E bom foi que houvesse essa providencia, porque além de se tomar precisa para que se  garantisse á gente de trabalho a completa liberdade de acção, a policia tinha de se haver com uma enorme quantidade de gatunos, que aproveitando-se do ensejo quizeram pôr em pratica as suas costumadas proesas.

As casas proximas do incendio, por exemplo, que foram abandonadas pelos seus proprietarios, foram saqneadas pela gatunagem, que roubou tudo o que pôde.

O sr. commissario, porém, tomando as suas medidas contra os gatunos, preparou-lhes uma armadilha na ponte dos vapores; foram ali agarrados todos os que são conhecidos, e que evidentemente deram um passeio á Outra Banda para exercerem as suas habilidades.

Ás 7 horas pda tarde o sr. inspector dos incendios mandou refeição para o seu pessoal, que se acha ali na força de cento e tantos homens, que desde que começaram trabalhando até á chegada o sr. Carlos Barreiros foram comandos pelo sr. ajudante Conceição.

Ha suspeitas de duas victimas. Á hora em que escrevemos prosegue a extincção do incendio, que ainda activo. (2)

Durante a noite de sabbado para domingo continuaram os trabalhos de extincção do incendio, trabalhando debaixo de chuva todo o pessoal tanto de Lisboa, como de Almada Belem, Junqueira etc.

O fogo achava-se localisado ás 10 horas da noite. De manhã, pelas 10 horas, chegou mais uma força de 40 bombeiros municipaes de Lisboa e 50 conductores de differentes bombas.

As propriedades das ruas Direita de Cacilhas e d'Oliveira soffreram muito nos telhados. Essas propriedades foram durante a noite refrescadas a cada momento.

Felizmentè o laboratorio chymico não foi destruído, soffrendo, contudo bastante nos madeiramemtos.

Serzedello & Ca., década de 1840
Imagem: documento do acervo de Carlos António Serzedelo Palhares, Lisboa

Á noite ja não havia chamma, mas apenas o enorme brazido. O trabalho do rescaldo deve terminar hoje. (3)

A nossa folha dos dias 18 e 19 do corrente deu jà, com todos os pormenores, que então podémos colher, a descripção d'este pavoroso incendio. É portanto, desnecessario relatar hoje novamente a catastrophe, com um cortejo de detalhes sabidos e de noticias que ninguem ignora.

Toda a gente viu de Lisboa, na manhã e noite do dia 17, aquelle espectaculo ao mesmo tempo magestoso e horrivel, desenrolando-se, como um panno de fundo de magica, na outra banda do Tejo. Não houve quem não presenciasse aterrorisado e cheio de curiosidade aquelle quadro sinitro, que um dia tristonho de inverno tornava ainda mais lugubre e pesado.

O incendio durou dois dias, tendo-se manifestado em uma das grandes pilhas de cortiça da importanfissima fabriea dos srs. Henri Buchnall & Filhos, na Margueira.

Fora impossivel atalhal-o, apesar de todas as diligeneias empregadas, porque o vento sul, soprando com desmedida furia, se encarregava de ateiar as chammas.

O primeiro telegramma recebido no ministerio do reino, dando parte do horrivel sinistro, e pedindo promptos soccorros, dizia assim: "Acudam-nos que morremos todos queimados!"

É que já n'essa occasião caiam sobre os telhados da rua Direita de Cacilhas, montões de faulhas, principiando o incendio a lavrar em diversos pontos.

Pontal de Cacilhas, ed. Alberto Malva/Malva & Roque, 135, década de 1900
Imagem: Delcampe

Quando nós desembarcamos em Cacilhas, vimos muitas familias, percorrendo as ruas, por terem, cheios de pavor, abandonado as casas. Aqui e alí, divisavam-se montões de mobilias, roupas, etc, espalhados ao acaso. Tristissima e pungitiva scena!

A fabrica, e a cortiça estavam seguras em companhias inglezas com agencias em Londres, na somma de 40.000 libras. Os prejuizos ascendem a mais de 400 contos.

Felizmente, ninguem morreu victima do incendio, havendo apenas leves ferimentos entre a gente de trabalho, que prestou serviços relevantissimos.

O sr. Bucknall, proprietario da fabrica incendiada, mandou abonar, no dia immediato ao do sinistro, 300 réis diaríos aos trabalhadores casados, e 200 réis aos solteiros.

Dos 454 operaríos desempregados em consequencia do fogo, metade foi já admittida a trabalho, contando o honrado proprietario da fabrica empregar novamente o resto, dentro de poucos dias.

Cacilhas (Portugal), Largo do Costa Pinto, ed. Martins/Martins & Silva, 18, década de 1900
Imagem: Delcampe

Vê-se, por isto, que o sr. Bucknall, apesar da naturalissima preocupação do seu espirito, em horas de tamanha angustia como aquellas, não esqueceu, nem um momento, os interesses dos pobres operarios. (4)


(1) Diário Illustrado, 31 de março 1883
(2) Diário Illustrado, 18 de março 1883

(3) Diário Illustrado, 19 de março 1883

(4) Diário Illustrado, 31 de março 1883

domingo, 21 de junho de 2015

Mar da Calha

Na grande fortaleza de S. Julião, que cruza os seus fogos com a do Bugio, e nesta torre, marcando e limitando ambas as entradas do porto de Lisboa, estão montados os competentes pharoes.

Uma chalupa armada emergindo da foz do Tejo passado o Bugio, Thomas Buttersworth (1768 – 1842).
Imagem: Bonhams

O pharol da torre de S. Julião data de 1785, e é de luz fixa e branca, com o alcance de 12 milhas. E de 4.a ordem, tem próximo um posto semaphorico, e fica á latitude N. de 38° 42' 22" e á longitude W. de 9° 19' 27" de Greenwich.

A estação semaphorica communica-se com a estação central de Lisboa e com a torre do Bugio por meio de telephone.

Veleiros no Tejo junto ao Bugio, Carlos Ramires, 2014.
Imagem: Cabral Moncada Leilões

Na torre está estabelecido um posto de soccorro a náufragos.

A SW. da fortaleza ha uma restinga chamada ponta da Lage, a qual entra pelo mar dentro, descobrindo na baixa-mar, e que tem cerca de meia amarra de comprimento [1 amarra eq. 120 braças; 1 braça eq. 8 palmos, c. 1,76m].

Plano hydrographico da barra do porto de Lisboa (detalhe), Francisco M. Pereira da Silva, 1857.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Quando, na entrada da barra, se enfia a guarita cylindrica de NE. da fortaleza com a parte leste da muralha da mesma fortaleza, é signal de estar passada a ponta da Lage, a que era mister dar resguardo, e pôde então a navegação seguir sem receio.

A torre do Bugio, ou fortaleza de S. Lourenço, é circular e levantou-se das aguas no século XVII, tendo desde 1755 montado um pharol, que é hoje de luz branca, fixa, com um clarão vermelho de 20'' em 20'', de 3.a ordem, e com o alcance de 15 milhas, illuminando 360°.

Bugio, Defesa maritima de Lisboa, gravura João Pedroso, Archivo Pittoresco, n 30, 1862.
Imagem: Hemeroteca Digital

Foi esta torre construída no logar da Cabeça Secca, separada da torre pela golada do Sul, ou do Bugio, que só dá passagem a pequenas embarcações. O seu apparelho dioptrieo está 26 metros acima do nivel do mar, na latitude N. de 38° 39' 31" e na longitude W. do 9° 17' 52" de Greenwich.

São estas luzes de capital importância para a navegação que demande o porto de Lisboa.

Desde este ponto continua a costa para o S. em uma larga curvatura, e é formada por um extenso areal, e limitada ao longe pela serra da Arrábida e de S. Luiz, que se estende para ENE. do cabo Espichel, e que termina no pico do Formozinho, 500 metros acima do mar.

Linha de costa da Torre do Bugio ao Cabo Espichel (fotomontagem).
Observam-se as elevações moinhos do Chibata, Monte Córdova (Serra de S. Luís) e Serra da Arrábida, conforme descrito no Plano hydrographico da barra do porto de Lisboa, Francisco Maria Pereira da Silva, 1857.
Imagem: AVM

Na serra de S. Luiz, o pico mais elevado é o Monte Córdova, que se apresenta de forma circular, quando é enfiado pela torre do Bugio.

No extremo mais occidental de terra, a partir do Bico da Calha, que é a ponta de areal em que termina a margem esquerda do Tejo, depara se primeiro, a 2 milhas para o S., o forte da Vigia, a 850 metros, e por E. 4 3/4 SE. do Bugio o reducto de Alpena [...]

Fragata HMS Lancaster (F229) na foz do Tejo.
Observam-se em 2° plano a Cova do Vapor e a rebentação das ondas fora da barra.
Imagem: Barcos no Tejo

Barra de Lisboa — A entrada do Tejo fica situada entre as torres de S. Julião e do Bugio, que distam 2:750 metros uma da outra, e entre o Bugio e o Bico da Calha, ou ponta do cabedelo do S. 

Dois grandes bancos se prolongam para o mar na direcção geral de NE.-SW., que se denominam Cachopo do N. e Cachopo do S., ou Alpeidão. 

Formam estes cachopos dois canaes, o do N., ou corredor do N., que fica entre o cachopo do N. e a torre de S. Julião da Barra, e o do S., ou Barra Grande, que fica entre os dois cachopos indicados.

Alem d'estes canaes ha um outro, estreito, pouco fundo e variável em planta, chamado Golada, entre a torre do Bugio e a terra.

O cachopo do N. estende-se naquelle rumo por 5:500 a 6:500 metros. 

O do S. é formado da cabeça do Pato, das coroas de Santa Catharina e do cachopo propriamente dito.

Sobre a primeira parte ha peio menos 10 a 12 metros de agua.

As coroas de Santa Catharina ficam entre a cabeça do cachopo e a do Pato. 

Este cachopo do S., ou Alpeidão. na extensão proximamente de 5:500 metros, é um banco de areia, que descobre em baixa-mar em diversos logares.

O banco, ou barra que liga os extremos dos cachopos pelo W., fica entre a cabeça do Pato e o Espigão, na máxima largura de 3:700 metros, e forma grande escarcéu com ventos do quadrante do SW., levantando ás vezes um rolo do mar, ou arrebentação, que fecha de um lado ao outro o canal da barra e offerece nessas occasiões perigo em arrostar com elle.


Esta barra é descripta pelo distincto hydrographo e geographo Franzini, no seu Roteiro das costas de Portugal, publicado em 1812, nos seguintes termos:
"A barra de Lisboa (a melhor e única da costa de Portugal, que admitte em todos os tempos a entrada dos maiores navios), é formada pelos baixos seguintes:

A S. 35° O. da fortaleza de S. Julião, na distancia de 280 braças, está situado o extremo NE. de um baixo de pedra, a que chamam o Dente do Cachopo cujo baixo se prolonga 2 milhas e 3 décimos a S. 65° O. com pouco fundo, tendo umas 300 varas de largura, e sobre o qual rebenta o mar, quando é agitado pelos ventos do 3.° e 4.° quadrantes.

Chamam Barra pequena, ou Corredor, o canal que fica entre o sobredito Cachopo e a costa do N., o qual tem sempre desde 8 até 10 braças de fundo na baixa-mar.


Plano hydrográfico do Porto de Lisboa e costa adjacente até ao cabo da Roca,
Marino Miguel Franzini, 1806.
Imagem: GEAEM Instituto Geográfico do Exército

Uma milha a SO. do extremo occidental d'este cachopo, e quasi N.-S. com a fortaleza de Santo António da Barra, está a Cabeça do Pato, que é um baixo-fundo, no qual se não encontra menos de 6 a 7 braças de agua em baixa-mar; mas que não obstante se deve evitar, especialmente em tempos borrascosos, podendo acontecer que na descida de uma grande vaga cheguem a tocar nelle as embarcações, que demandam muita agua.

Ao S. 55° E. de S. Julião, na distancia de uma milha e 4 décimos, está a Torre do Bugio, formada por dois corpos circulares concêntricos, no meio dos quaes se eleva uma pequena torre em que está o pharol, na altura de 63 pés.

Os dois recintos são edificados sobre um baixo de areia muito extenso, que se cobre no prea-mar, deixando a torre perfeitamente ilhada.

O dito baixo, ou Cachopo do Sul, denominado também da Alcáçova, ou Alpeidão, prolonga-se 2 milhas ao SO., e forma o do Norte, um grande canal, a que chamam a Barra Grande, cuja menor largura é de uma milha e um decimo, com 10 a 18 braças de bom fundo, a não ser perto dos dois mencionados cachopos, em que só ha 6 ou 7 braças, as quaes diminuem de repente.

A frota francesa commandada por Roussin força a entrada do Tejo, Pierre-Julien Gilbert, 1837.
Imagem: Fortificações da foz do Tejo

A torre do Bugio deve considerar-se como o extremo SO. do Rio Tejo, por que ainda existe, entre ella e a costa da Trafaria, um pequeno canal (que sempre conserva alguma profundidade, e cuja direcção soffre muitas alteracoes); comtudo, é tão estreito, que na baixa-mar quasi se juntam as areias da costa com as do baixo, formando uma vasta praia, até a sobredita torre.

Este grande baixo forma uma semelhança de enseada aberta ao 3., na qual se acham 5 a 7 braças de fundo.

Estes dois cachopos podem considerar-se reunidos por uma espécie de banco, situado 3 milhas e meia ao SO. das torres de S. Julião e Bugio, o qual corre em direcção perpendicular á barra; porem, como o seu menor fundo é de 8 para 9 braças, segue-se que qualquer embarcação poderá navegar afoitamente por elle em todas as circunstancias.

Logo para dentro d'este banco cresce o fundo regularmente de 15 até 20 braças, que conserva pelo meio da mesma barra".

Esta descripção, muito precisa e exacta, é perfeitamente applicavel á actualidade, em que a profundidade da barra e a disposição dos canaes e dos bancos submarinos teem sido modificadas muito pouco, como terei occasião de mostrar [...]

Costa da Caparica, Bairro de Santo António e Foz do Tejo, ed. Passaporte, 2, década de 1960.
Imagem: Delcampe, Oliveira

Na margem esquerda do Tejo, que principia na ponta da costa, ou bico da Calha, existe um grupo de pedras, conhecido pelo nome de Calhaus do Mar, que fica a duas e meia amarras do areal da Trafaria, que é uma povoação de pescadores, hoje muito concorrida na época balnear.

Trafaria — Vista geral da praia, ed. J. Quirino Rocha, 06, década de 1900.
Imagem: Delcampe

O seu bello areal estende-se até o bico da Calha, continuando para o S. na costa oceânica.


(1) Loureiro, Adolfo, Os portos maritimos de Portugal e ilhas adjacentes, Vol III parte 1, Lisboa, Imprensa Nacional, 1906

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