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domingo, 19 de junho de 2016

Crescimento do largo de Cacilhas

Durante a década de 1860, após várias tentativas desastrosas de estabelecimento de carreiras de vapores subsidiadas pelo Estado, a Empresa de Vapores Lisbonenses [empresa de Guilherme Burnay, depois Parceria de Vapores Lisbonenses] conseguiu assegurar o funcionamento de algumas carreiras em barcos a vapor para o transporte de passageiros e mercadorias de Lisboa para Paço de Arcos, Belém e Cacilhas.

Barco a vapor a atracar em Cacilhas.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

A firma dominou os transportes fluviais a vapor no Tejo em toda a segunda metade do século, assegurando a exclusividade no transporte para Cacilhas.

A partir daqui as pessoas deslocavam-se para Almada e outras povoações em burros ou trens especialmente fretados para o efeito, os "chars-à-bancs" [charabans, pop.].


Cacilhas, Molhe e pharol, ed. Martins/Martins & Silva, 19, c. 1900.
Imagem: Delcampe, Oliveira

Nas primeiras décadas do século XX o aumento da população da margem esquerda e o estabelecimento das ligações rodoviárias com o Sul forçaram a um alargamento do cais de Cacilhas a partir de Novembro de 1928, o que permitiu uma atracagem mais frequente dos barcos de diversas empresas que faziam a travessia do Tejo.

A partir de 1925 começaram a estabelecer-se carreiras regulares entre Cacilhas e diversas localidades do Sul do país, o que levou as autoridades marítimas a iniciar o referido alargamento do cais, de forma a permitir o estacionamento dos veículos das empresas que iam tomando as concessões dessas carreiras.

Largo de Cacilhas, 1.a Volta a Portugal a Cavalo, 10 de outubro de 1925.
Imagem: Luís Bayó Veiga, Cacilhas - Imagens d' antigamente, 2011, Junta de Freguesia de Cacilhas, 55 págs.

A intensificação do trânsito rodoviário de ligação ao Sul começou, em meados dos anos 30 [...]

Autocarro da Seixalense no largo de Cacilhas em 1931. No letreiro: Cacilhas-Seixal e vice-versa.
Imagem: José Luis Covita, Memórias de um Século de Autocarros a Sul do Tejo, Scribe, 2013

As obras, no entanto, prolongaram-se até 1933, e durante este período os numerosos auto-cars foram forçados a utilizar apenas a parte antiga do largo, pois a falta de pavimentação do acrescento transformava-o num lodaçal. (1)

Cacilhas, chegada dos concorrentes da prova dos 10 mil quilómetros, organizada pelo Automóvel Clube da Alemanha, 1931.
Imagem: Arquivo Nacional Torre do Tombo

Por esse tempo, Cacilhas parecia uma cobra a mudar de pele. A praia e a rampa onde os barcos de pequeno calado encontravam abrigo, a uma pequena parcela de muralha, o primeiro aterro. Os trens e as carroças foram rendidos pelas camionetes e os taxis, relegando as bestas de tracção para outras tarefas [...] (2)

Pontaleto de Cacilhas, década de 1940.
Imagem: Flores, A. M., Almada antiga e moderna, roteiro iconográfico, Freguesia de Cacilhas

Em 1949 a Autocarros do Sul fundiu-se com a Transportadora Beira-Rio, do Seixal, e constituiu a Empresa de Transportes Beira-Rio, L.da.

A Autocarros do Sul, com sede em Cacilhas foi integrada na Transportes Beira-Rio, Lda. que havia sido constituída em 1943 em Paio Pires, por José Vicente Moreira e Joaquim Ferreira dos Santos.

No mesmo ano o dono da Autocarros do Sul (João Carneiro Zagalo e Melo) vai adquiri-la e mudar a sede para Cacilhas.

Essa empresa é que chegará pela mão da família Zagalo a 1968 e constituirá a Transul ( juntamente com a Piedense).

José Luis Covita
A partir de 1945 passaram a existir apenas duas empresas de transporte de passageiros entre as povoações do concelho de Almada: a Empresa de Camionagem Piedense, L.da, que assegurava as ligações de toda a zona norte do concelho, de Cacilhas à Costa da Caparica, e a Autocarros do Sul Empresa de Transportes Beira-Rio, L.da, com a concessão de todo o eixo de saída para o Sul, englobando a Cova da Piedade, Laranjeiro, Sobreda, Seixal e Paio Pires.

Cacilhas, largo do Costa Pinto, Mário Novais, 1946.
Imagem: Fundação Calouste Gulbenkian

A aceleração da urbanização da zona de Almada, a partir de 1947, e a intensificação do tráfego rodoviário para o Sul do país fizeram com que o Largo de Cacilhas se revelasse novamente insuficiente para a movimentação cada vez maior de autocarros.

Cacilhas, Lisboa vista de Cacilhas, ed. Postalfoto, 468, década de 1950.
Imagem: Delcampe

Em 1950 efectuou-se um novo e decisivo alargamento do largo para a sua dimensão actual [2000], transformando-se num dos maiores centros rodoviários do país [...] (3)


(1) Jorge de Sousa Rodrigues, Infra-estruturas e urbanização da margem sul: Almada, séculos XIX e XX, 2000, 35 págs.
(2) Romeu Correia, Cais do Ginjal, Lisboa, Editorial Notícias, 1989, 188 págs.
(3) Jorge de Sousa Rodrigues, idem


Referências;
José Luis Gonçalves Covita, História da Camionagem no Concelho de Almada, Câmara Municipal de Almada, 1995

Artigos relacionados:
Cacilhas vista do Tejo, em 1847
Na esplanada do forte de Cacilhas

Largo do Costa Pinto
A calheta de Cacilhas

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