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segunda-feira, 20 de março de 2017

Fonte da Pipa e sua água

LISBOA , em Lat. Ulissipo [phn, Tejo], de que vém a ser cor. voc. o significar "água bôa" em que nada esta Cidade (a maior das conhecidas na Europa, Capital do Reino de Portugal) que há mais pequena escavação, logo apparece: o t. he Árabe; e porque parte desta água apezar de em muitas partes ser minerál, e sulphúrica, como se vê dos banhos das "alcacerias" pertencentes ao Duque de Cadaval, abunda muito Lisboa, de que tóma o nome; mas porque as águas potáveis afóra o antigo chafariz chamado de Elrei na Ribeira Velha, que córre por nove bicas sem cessar, e que se concertou em o tempo da Regencia, que o Sr. D. João VI. retirado no Brazil, deixara em Portugal, óbra prima de hydraulica, sem que o chafariz parasse de correr, e cuja ruína já era espantoza; abasta a Cidade: foi da providencia do Rei D. João V. encanar do Cazal d'águas livres, que rebenta em grandes olhos a água em Bellas a duas léguas de Lisbôa, "Villa de Pedro Correia", assim chamada em outro tempo, por hum aqueducto, que he huma óbra perfeitamente Romana, que nunca cedêu de sua feitúra pelo terremoto, que abastece de água a Cidade, independente do poço chamado d'água sancta , rúa da Prata, que nunca seccou, e em que se recórre em occazião de sêccas graves, e da água da outra banda, de que se faz águáda para os navíos (chamada a da Fonte da Pipa), porque vinha, em pipas vender se ao Cáes do Sodré antes de feito o sobredicto aqueducto — Águas livres.

Fonte da Pipa, aguarela de Álvaro da Fonseca, c. 1915.
Imagem: Almada na Historia, Boletim de Fontes Documentais, 27-28

— Desgraça he que sendo esta água tão bélla, e potavel esteja imprégnada com outras inferiôres em bondade pela concessão mal entendida de deixar tirar do aqueducto pénnas, e anéis d'água com a obrigação de lhe substituir porção igual, que nunca igualára sua primitiva bondade.

Fonte da Pipa, Álvaro da Fonseca, c. 1915.
Imagem: Hemeroteca Digital

"Quem não vío Lisbôa, não vío couza bôa." adag. (1)


(1) António Maria do Couto, Diccionário da maior parte dos termos homónymos, e equívocos da lingua portugueza..., Lisboa, Typ. António José da Rocha, 1842


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