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segunda-feira, 3 de julho de 2017

Cronologia breve da Torre Velha (1 de 3)

Torre Velha ou Fortaleza de São Sebastião de Caparica

Torre Velha, John Thomas Serres, c. 1801.
Imagem: Catarina Pires no Facebook

c. 1385-1390 (D. João I)

A fortificação dos lugares marítimos começou neste Reyno mais tarde; porque como naquelle tempo havia poucas mercancias, e comércios com os Estrangeiros, não tinhão os Corsarios em que fizessem suas prezas; com tudo El Rey D. João I. começou a fortificar os portos de Lisboa, e Setuval, fazendo no Tejo ao pé da Villa de Almada a Torre Velha [atalaia]; porque não tivessem abrigo os inimigos daquella banda, assim como o não tinhão da de Lisboa. 

A mesma diligencia fez em Setuval, edificando a Torre do Outão sobre o Canal do porto [...] (1)

O Mestre de Aviz, advertido pela experiência, escolheu o sitio, aonde as duas margens do Tejo se apertavam mais, e levantou na do sul uma bateria ao lume de agua. É provável que o seu plano fosse construir outra na margem do norte, mas não chegou a realisa-lo, e D. Duarte e D. Affonso V, não se occuparam d'esta obra.

c. 1490
(D. João II)

D. João II, mais cuidadoso, augmentou o forte de D. João I com uma bateria alta, e determinou erguer na ponta fronteira de Belém a torre de S. Vicente, cuja planta riscara o chronista Garcia de Rezende, a fim de cruzar com os d'ella os fogos da Torre Velha de Caparica. (2)


Foram tam temidas no mar as caravellas de Portugal muito tempo que nenhuns navios por grandes que fossem as ousavam esperar, atee que se soube a maneira em que traziam os ditos tiros e se trouxeram depois como agora trazem geralmente em todas partes o que dantes nam era; e el-rey foy o primeyro que o enventou. E assi mandou fazer entam a torre de Cascaes com sua cava com tanta e tam grossa artelharia que defendia o porto.

E assi outra torre e baluarte de Caparica defronte de Belem em que estava muita e grande artelharia, e tinha ordenado de fazer hüa forte fortaleza onde ora está ha fermosa torre de Belem que el-rey Dom Manoel que santa gloria aja mandou fazer, pera que a fortaleza de hüa parte e a torre da outra tolhessem a entrada do rio.

A qual fortaleza eu per seu mandado debuxey e com elle ordeney aa sua vontade; e ele tinha ja dada a capitania della a Alvoro da Cunha seu estribeiro-mor e pessoa de que muito confiava; e porque el-rey logo faleceo nam ouve tempo pera se fazer. (3)

1571 (D. Sebastião, fortaleza de S. Sebastião de Caparica)

Com o mesmo cuidado e providencia que a cidade de Lisboa deve ser fortalecida de novo Castello e de Muros e Torres, e Portas e Baluartes e De Bastiães, ao modo das fortalezas modernas, que hoje se custumam por toda a cristandade. E se posivel for cercada toda de novo e forte muro: inda que os velhos que lhe fez El Rei Don fernando, sejam ao seu modo honestamente fortes pela boa argamassa e entulhos que tem (que foi a melhor obra. que nenhum Rei fez em Lisboa. depois das Igrejas).

Da fábrica que falece à cidade de Lisboa (i. e. construções que faltam à cidade de Lisboa), Francisco de Holanda, 1571.
Imagem: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de S. Paulo

Assi mesmo deve ser fortalecida, repairada e acabada a fortaleza de Belém E a de São Gião pois que tem tanto custado sem estar bem acabada. 

E isto, com alguns baluartes fortes que lhe respondam da outra banda da Trafaria e da área da Adiça; hum de fronte da Torre de Belem, onde esta a torre velha e o outro de fronte de S. Caterina de Ribamar que he a mais segura fortaleza de Lisboa ali onde acabam os Montes D almada e começam a área da ponta da Trafaria ou cachopo. (4)

1572

Neste Anno de 572 se acha que se entregou a Lourenço Pires [de Távora] a fortaleza de S. Sebastião de Caparica chamada comunmente a Torre velha situada em oposição da de Belém da outra parte do Rio com o intento de ajudar a empedir a entra do porto de Lisboa aos imigos que o intentassem, tinhalhe ElRey [D. Sebastião] prometido a Capitania della desde quando se principiava, e foi o primeiro Capitam que teve logrou a pouco, mas conserva-se em sua casa que anda de juro. (5)

1580 (D. António, prior do Crato, perda da independência de Portugal)

Retrato do sitio e ordem da batalha dada entre o senhor dom António, nomeado rei de Portugal, e o duque de Alba, tenente e capitão general do rei católico dom Filipe II, diante de Lisboa por mar e por terra, num mesmo dia, 25 de agosto de 1580. Palmela 5 leguas de lisboa; Almada; Armada de dom António; galeras de sua magestade; Torre Velha que estava por dom António [...] (6)

Batalha de Alcântara, 1580, representação c. de 1595.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Quasi seguro de vencer pelo oiro todos os corações [Filipe II de Espanha], mandara ao seu ministro [D. Cristovão de Moura], que alem de alliciar para o seu serviço o comitre [oficial das galés] hespanhol Contreras, que recebia soldo a bordo das galés de Portugal (ajuste que se realisou sem custo), procurasse attrahir os governadores das fortalezas de S. Julião e de Caparica [...]

O embaixador, sempre diligente, não se demorou em o satisfazer [...] Caparica dava-lhe pouco cuidado [...]

Batalha de Alcântara (detalhe), 1580, representação c. de 1595.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

O governador era um dos Tavoras, Ruy Lourenço, seu primo, e de ha muito, asseverava elle, que lhe dera a sua palavra; como porém fosse moço e inexperiente, o ministro promettia chama-lo de novo, e assegurar se da sua deslealdade á pátria, e da sua fidelidade aos interesses castelhanos. (7)


(1) Manoel Severim de Faria, Noticias de Portugal Tomo I, Lisboa, Off. A. Gomes, 1791
(2) Rebello da Silva, História de Portugal Tomo V, Lisboa, Imprensa Nacional, 1871 
(3) Garcia de Resende, Vida e Feitos D'El-Rey Dom João Segundo, 1545
(4) Da fábrica que falece à cidade de Lisboa, Francisco de Holanda, 1571
(5) Ruy Lourenço de Tavora, Historia de varoens illustres do appellido Tavora..., 1648
(6) Portraict du sitie et ordre de La bataille donnee entre Le sr. don Antonio nommé roy de portugal et Le duc dalbe...
(7) Rebello da Silva, História de Portugal Tomo I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1871

Artigos relacionados:
Torre Velha por dom António
Líricas de Melodino
Importância relativa

Leitura adicional:
Catarina Oliveira, IGESPAR, I.P./ Maio de 2012
Linhas de Fortificação da Margem Sul
Fortificações da foz do Tejo
À descoberta das sentinelas...
Forte de São Sebastião de Caparica (fortalezas.org)
rossio. estudos de lisboa n. 7 dez 2016
A (abandonada)Torre de São Sebastião de Caparica

Bibliografia:
Sousa, R. H. Pereira de, Fortalezas de Almada e seu termo, Almada, Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Almada, 1981
Sousa, R. H. Pereira de, Pequena história da Torre Velha, Almada, Câmara Municipal de Almada, 1997
Júnior, Duarte Joaquim Vieira, Villa e termo de Almada: apontamentos antigos e modernos para a história do concelho, Typographia Lucas, Lisboa, 1896
Cid, Pedro, A Torre de S. Sebastião de Caparica e a arquitectura militar do tempo de D. João II, Lisboa, Ed. Colibri, 2007

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