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terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Margem esquerda

A Joseph Fortuné Séraphin Layraud (1834 – 1912)

Vista do Tejo tomada do palácio da embaixada de França, Joseph Fortuné Séraphin Layraud, 1874.
Image: Musée Saint-Loup, Troyes, no flickr

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

Vista de Lisboa tomada da margem esquerda do Tejo, Joseph Fortuné Séraphin Layraud, 1874.
Image: Musée Saint-Loup, Troyes, no flickr

O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.

D. Maria Pia de Sabóia, Palácio Nacional da Ajuda.
Image: Wikipédia

O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.


Família real portuguesa em Queluz, Palácio Nacional da Ajuda, 1876.
Image: Wikipédia

E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.


A manhã seguinte, Joseph Fortuné Séraphin Layraud, 1884.
Imagem: LAPHAM'S QUARTERLY

Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.


O artista no seu estúdio, 1899.
Imagem: artnet

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele. (1)



(1) Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos — Poema XX"

Informação relacionada:
Catalogue des tableaux exposés au Musée de Troyes fondé et dirigé par la Société académique de l'Aube (1907)

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