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sábado, 16 de janeiro de 2016

Iconografia de Lisboa (6.ª parte)

Além dos trabalhos já citados: "Theatrum Urbium", de Jorge Bráunio [Georg Braun], da colecção de Dirck Stoop, constituídas por vistas de Lisboa, panorâmicas e de edifícios isolados, e de divertimentos e cerimónias paçãs, podemos mencionar, entre outros, os seguintes autores que coligiram vistas de Lisboa, ou livros em que se encontram coligidas:

Fr. Vincenzo Maria Coronelli (1650–1718).
Imagem: Wikipedia

a) — P.e Coronelli [Vincenzo Maria Coronelli (1650–1718)]. Escreveu: Portugallo delineato e descritto dal P. Coronelli, sem data 1707 (?) [e também, referente a Portugal, Regno di Portogallo e Teatro della Guerra, mapas, globos terrestres etc., hoje verdadeiras raridades], que contém 32 estampas gravadas em cobre, de vistas e plantas de terras de Portugal, das quais 18 são de Lisboa.

Teatro della Guerra di P. Coronelli, 1706 Évora, Arronches.
Imagem eBay

b) — Pierre Vander Aa [v. referência abaixo: Lisboa do século XVII "a mais deliciosa terra do mundo"]; mandou gravar ou coligiu muitas estampas de diferentes terras, trajos, etc., gravuras em cobre, entre as quais figuram 14 de Lisboa, que foram publicadas nas seguintes obras:

"Les delices de l'Espagne et du Portugal", por Don Juan Alvarez de Colmenar, Leide [Leiden], 1.a ed., 1707, em 5 tomos, 2.a ed., 1715, era 6 tomos.

"Beschryving van Spanjen en Portugal", Leide, 1707, em 5 tomos.

"Les royaumes d’Espagne et de Portugal representés en tailles-douces... presenté à Sa Majesté Dom Jean V Roi de Portugal", Leide, s/n., s/d.; album com 16 vistas de Lisboa e vários mapas.

"Les royaumes d’Espagne et de Portugal representés en tailles-douces trés exactes", Leide, s/n., s/d.; album com 166 vistas.

"Annales d'Espagne et du Portugal", por D. Juan Alvarez de Colmenar, Amsterdam, 1741; uma edição em formato in/4.° em 4 tomos, e outra ed. in/8.° em 8 tomos.

c) — Pieter van der Berge [van den Berge, arc.], coligiu 88 (?) vistas de terras de Espanha e Portugal, entre as quais 9 de Lisboa, idênticas às de Vander Aa [umas baseadas outras semelhantes ás de Dick Stoop], e que foram inseridas na obra Teatrum Hispaniae, Amsterdam, 1705 (?). Todas estas estampas têm os títulos redigidos em latim, espanhol, holandês e francês.

Vista do palácio real em Lisboa, Pieter van den Berge, segundo Dirk Stoop, 1662.
Imagem: British Museum

Depois dos emissários de Jorge Bráunio, no último quartel do século XVI, sabe-se que até ao meado do XVIII vieram ou estiveram em Portugal alguns artistas estrangeiros, que, ou em cargos palacianos, ou contratados, ou como simples particulares, escolheram para assunto dos seus quadros, desenhos ou gravuras, vistas panorâmicas, edifícios ou monumentos de Lisboa.

Mencionaremos principalmente os seguintes:

a) — Dirck Stoop, flamengo, que foi pintor da Real Câmara de D. João IV, e do qual já tratámos.

Viaje de Cosme de Médicis por España y Portugal (1668-1669), Pier Maria Baldi.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

b) — Pier Maria Baldi, italiano, ajudante da câmara do príncipe Cosme de Medicis, a quem acompanhou na viagem que este fez por Espanha e Portugal em 1668/69, durante a qual desenhou as vistas de várias terras por onde passaram, entre as quais um panorama de Lisboa, o palácio real de Alcântara e Mosteiro das Flamengas [v. 5.ª parte desta série], e o Convento dos Jerónimos e Torre de Belém, que se guardam, com a relação da viagem, na Biblioteca Laurenciana de Valência, tendo sido reproduzidas cm fototipia já no século corrente [XX].

Viaje de Cosme de Médicis por España y Portugal (1668-1669), Pier Maria Baldi.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

c) — Quillard (Pierre Antoine) esteve em Lisboa, onde gravou uma estampa representando a antiga Ribeira das Naus [Arsenal], e o lançamento ao mar da nau Lampadosa, em 1727, na presença do rei D. João V e da rainha sua mulher.

Lisboa, Nau de guerra Nossa Senhora da Lampadosa, Pierre Antoine Quillard, 21 de Janeiro de 1727.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

d) — Guilherme F. L. Debrie e seu filho António Debrie, que gravaram em cobre várias vistas relativas a Lisboa, entre as quais 3 do convento do Carmo, para ilustrarem os 2 volumes da Chronica dos Carmelitas (1745 e 1751), por Frei José Pereira de Sant'Ana, a reprodução dum selo de lacre, no tomo IV (1788) da História Genealógica, por D. Manuel Caetano de Sousa; 

Chronica dos Carmelitas, Guilherme Francisco Lourenço Debrie, 1745.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

uma vista da Torre de Belém, que acompanha o "Almanach de Lisboa" para o ano de 1789; 

Chronica dos Carmelitas, Guilherme Francisco Lourenço Debrie, 1745.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

e uma cerimónia de lava-pés, efetuada por D. João V no Paço da Ribeira.

Lisboa, Paço da Ribeira, Lava pés aos pobres por D. João V, c. 1748.
Imagem: Wikipédia

e) — Olivarius Cor, que em 1746 gravou uma vinheta-cabeção contendo a Torre de Belém e mais dois fortes da Barra do Tejo [assim como letras capitulares com motivos de Lisboa], que se encontra na "Vida do Padre António Vieira", pelo P.e André de Barros; 

Lisboa Arte Gravura Vida do Padre António Vieira Olivarius Cor 1746
Imagem: Internet Archive

e em 1747 uma estampa de propaganda para a canonização do rei D. Afonso Henriques.

D. Afonso Henriques, Conquista de Lisboa, Olivarius Cor, 1747.
Imagem: Pedra Formosa (Sociedade Martins Sarmento)

Temos a convicção de que, afora os já mencionados, nenhum outro artista estrangeiro veio a Lisboa, ou aqui esteve, até ao fim do 2.° quartel do século XVIII, que se dedicasse a copiar "de visu" o panorama ou edifícios da cidade, e que as numerosíssimas vistas de Lisboa que até então apareceram no mercado foram pelos seus autores compostas nos seus países, copiando-as de outras que as precederam, quer para livros, quer para folhas soltas, nas quais introduziram modificações de pormenores e de formato, conforme lhes sugeria a sua fantasia, para lhes dar um falso cunho de originalidade.

A lista completa destes artistas estrangeiros, especialmente holandeses, alemães, ingleses e franceses, é muitíssima extensa, e fica reservada para outro lugar, assim como os títulos dos livros de que as estampas fazem parte, ou locais onde se acham situadas. (1)

Com efeito, faltaria mencionar ainda, pelo menos, Alain Manesson Mallet (1630–1706), cartógrafo e engenheiro francês ao serviço do rei de Portugal, Afonso VI, desde 1663 até à assinatura do tratado de Lisboa em 1668.

Mallet, Alain Manesson, Les Travaux de Mars, ou l'art de la guerre, 1. Ed., Paris, 1671, 3 v.

Publicou a Description de L'Univers em 1683 (e em 1686 a versão alemã), em 5 volumes, e Les Travaux de Mars ou l'Art de la Guerre, em 1684, em 3 volumes.

Alain Manesson Mallet, Description de L'Univers, 1683 (1686 DE ver.).

Mallet fortificou as fortalezas de Arronches (1666) e de Ferreira (1667) e fez reparar os sistemas defensivos de Évora e Estremoz.


(1) Vieira da Siva, Augusto, Iconografia de Lisboa, Revista Municipal n.° 32, Câmara Municipal de Lisboa, 1947
 
Artigos relacionados:
Da fábrica que falece à cidade de Lisboa
Delícias ou descrições de Lisboa
Panorâmica de Lisboa em 1763

Leitura adicional:
Lisboa do século XVII "a mais deliciosa terra do mundo"

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