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quarta-feira, 18 de julho de 2018

Restaurantes no Ginjal

Não sabemos se o leitor já adivinhou que estamos no Ginjal, à beira-rio. O nosso olhar foge-nos para o cenário maravilhoso da cidade, que nos fica em frente envolta numa poalha luminosa de fim do tarde a recortar o seu perfil caprichoso num fundo azul cobalto.

Cacilhas, ed. Manil, 3010 Q.
Delcampe

Depois, ficamos por momentos a observar os pormenores decorativos dos restaurantes típicos de margem: conchas coladas nas paredes, tanques contendo peixes ainda vivos, como nos mercados chineses, crustáceos de várias espécies marinhas, que dariam motivo para sôbre tão expressivo terna se escrever vivas páginas naturalistas... 

Vista aérea do Cais do Ginjal, c. 1960.
OBSERVADOR

Nota-se nos rostos e no ambiente característico que envolve êste lugar de refúgio, certa expressão saudável e de desprendimento. (1)

Cacilhas, Ginjal, década de 1940 (Secretariado de Propaganda Nacional).

A restauração é uma das atividades que mais fama deu ao Ginjal. A notícia que em 1931 [19 de julho] se lê n'O Almadense, sob o título "Os restaurantes do Ginjal vão-se civilizando", mostra que há muito se criara o hábito de aí procurar boa comida e boa bebida [...] 

Êste atencioso servidor e os vermelhos crustáceos tentam...
Um pela gentileza; as lagostas pela gula que despertam

"Os toldos de serapilheira que lhes tapavam as portas noutros tempos e a fila de fogareiros de barro onde se assavam sardinhas e se abria o marisco, tudo isso desapareceu para dar lugar a casas decentes onde decentemente se pode comer"

Uma tabuleta que é uma indicação gulosa aos que apreciam as caldeiradas

Criam-se assim condições para que cada vez mais pessoas se desloquem propositadamente ao cais para apreciar os petiscos preparados nos vários restaurantes da zona. 

Não  se mexam agora...
Riam um bocadinho... pronto...
Vão ficar mais bonitos do que a minha sogra

"Do lado de Cacilhas, estes ocupavam logo os primeiros edifícios"

Á porta do Floresta do Ginjal, 6 de agosto de 1940.
"patuscada de sardinhas e caldeiradas de lulas"
Delcampe, Bosspostcard

"Começando aqui pelo princípio do Ginjal, há o Farol, que era dantes a Fonte da Alegria, que era uma tasca. Foi sempre uma tasca que deu muito dinheiro… Aquilo a vender sandes e copos era um disparate!" […]

Hispano-Suiza de D. José Anadia em Cacilhas de partida para Sevilha, em 1912.
Restos de Colecção

"Depois, onde está aquele restaurante baixinho, era o restaurante da Maria Vagueira."

Aperitivos populares – os burriés e os camarões –
ainda são mais apreciados e, também, os mais acessíveis

Depois a entrada da Floresta era aquela entrada que ia dar a uma tasca lá por cima, pela Rua das Terras" […]

Vai já... Vai já...assim se anuncia, através do
característico "hall" aos impacientes "gourmets"

"Depois a seguir havia um restaurante que era o Pepe" […] 

"Depois ainda havia o Pita, que era o restaurante Abrantino no primeiro andar, [que] ardeu, e por baixo outro restaurante que era a Palmira das Batatas" […]

Cacilhas, uma família em 1940.
Delcampe, Bosspostcard

"Depois ao lado era o Gonçalves […] e a seguir era o restaurante da espanhola. Era a mãe da Madalena Iglésias. Ao fundo do cais ainda havia o Ponto Final."

"O Floresta do Ginjal […] era assim chamado por ser todo tapado com folhas de parreira, permitindo a realização de grandes festas com fados" […] (2)

Cacilhas, Restaurante Floresta do Ginjal.

Para finalizar este pequeno artigo da melhor maneira, aqui se recordam os principais restaurantes que funcionaram no Ginjal, quase todos ocupando então os primeiros edifícios à entrada do Cais e que abriram as suas portas a partir da década de 30, referenciando-se por ordem sequencial, no sentido de Cacilhas para a Fonte da Pipa:

Lisboa vista do Cais do Ginjal, Cacilhas (detalhe), Horácio Novais.

Maria Vagueira / Floresta do Ginjal (Out. 1934) / Os Bagueiras / Palmira das Batatas, (Abril 1935) mais tarde "O Grande Elias" / Tomé Pita (Out° 1934) mais tarde "O Abrantino"

Plano Hidrográfico do Porto de Lisboa, A. F. Lopes e Rodrigues Thomaz, gravura, 1932.
Biblioteca Nacional de Portugal

/ O Gonçalves (Jun 1939) / Conchas do "José da Avó" (Mar° 1939). (3)


(1) Mundo Gráfico, 15 de abril de 1944
(2) Elisabete Gonçalves, Memórias do Ginjal, Centro de Arqueologia de Almada, 2000
(3) Os restaurantes no Ginjal, O Pharol n.° 8, dezembro de 2008

Artigo relacionado:
Na esplanada do forte de Cacilhas
O corredor do Ginjal

Mais informação:
Alexandre Flores no Facebook (O Ginjal antigo e os seus restaurantes...)
Alexandre Flores no Facebook (A famosa «Estrêla do Ginjal»...)

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