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sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Estaleiro de J. A. Sampaio

É este um dos principaes estabelecimentos da cidade de Lisboa, destinado a construcções marítimas, cujos créditos estão de ha muito solidamente conquistados por um trabalho ímprobo e insano.

Vista tomada no porto de Cacilhas, face a Lisboa, Hubert Vaffier,  1889.
Bibliothèque nationale de France

As construcções navaes feitas na doca do sr. Sampaio em Cacilhas, teem merecido as melhores referencias por parte dos technicos d'aquellas especialidades.

O estaleiro tem vastos depósitos onde também se encontra um variado e completo sortimento de materiaes para construcções urbanas e ruraes.

Á frente d'este importantíssimo estabelecimento, encontra-se o nosso velho amigo sr. Eduardo Sampaio, um moço muito activo, intelligente e trabalhador. (1)

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Aproveitando a tradição do local para a prática da querenagem e as condições naturais de um baldio que existia junto à Quinta do Outeiro, uma das sete propriedades que a Casa do Infantado possuía no Alfeite, o industrial António José Sampaio instala um pequeno estaleiro nesse terreno junto ao salgado do rio, confinando a Sul com a referida Quinta do Outeiro, a Poente com a Romeira Velha, a Norte com o Caramujo e a Nascente com o rio Tejo.

Tejo junto à Praia do Alfeite, António Ramalho, 1880.
Alexandra Reis Gomes Markl, António Ramalho, Pintores Portugueses, Lisboa, Edições Inapa, 2004

Este estaleiro, vocacionado apenas para a construção de embarcações em madeira, encontrava-se em plena laboração em 1850.

Plano Hydrográfico do Porto de Lisboa (detalhe), 1847.

Em 1855, o seu proprietário, por escritura notarial celebrada em Lisboa no dia 27 de Janeiro, toma de foro ao Conde de Mesquitela, um pedaço de terreno na praia da Mutela, junto à Margueira, para ali instalar uma caldeira em estacaria ou de pedra e cal, na extremidade da qual projectava construir duas rampas para querenagem de embarcações.

Doka velha, Leitão de Barros, 1916
[eventualmente trata-se da mesma aguarela referenciada como Estaleiro da Mutela (Mutelo) e Casas na Mutela].
Ilustração Portuguesa,n° 567, 1 de janeiro de 1917

Desconhecem-se pormenores da actividade destes dois estaleiros, a não ser o facto de ambos se terem mantido na posse daquele industrial até Dezembro de 1892, altura em que o Governo, pretendendo proceder à reforma dos meios navais, consulta os industriais do ramo, procurando avaliar das condições de que dispunham os seus estaleiros para efectuarem a construção dos navios necessários.

Os documentos da época esclarecem que efectivamente nem o estaleiro de António José Sampaio se encontrava preparado para construir os navios metálicos, nem os orçamentos apresentados pelo seu proprietário mereceram a apreciação favorável das entidades responsáveis da Armada.

Duvida-se que António José Sampaio tenha concluído o projecto da construção das rampas de querenagem segundo o projecto de intenções subscrito em 1855, por duas razões objectivas: a primeira, porque o local aforado na Mutela era extremamente exíguo e em condições semelhantes já aquele industrial possuía o estaleiro da Praia do Outeiro, muito melhor abrigado.

Panorâmica da fábrica William Rankin & Sons na quinta do Outeiro no Alfeite, 1885.
Alexandre M. Flores, Almada na história da indústria corticeira e do movimento operário...

A segunda razão encontra-se relacionada com o facto de em 1865, Sampaio se preparar para dar início à construção de um grande estaleiro na Praia da Lapa, em Cacilhas, dotado de duas docas secas, sendo deste modo previsível que este último projecto o levasse a colocar em segundo plano das suas prioridades o investimento na Mutela [...]

Em 10 de Junho de 1865, António José Sampaio procede à escritura do aluguer de um pedaço de salgado na Praia da Lapa, em Cacilhas, para aí construir um estaleiro de maiores dimensões que aqueles que possuía nas proximidades da Quinta do Outeiro e no lugar da Mutela.

Em 17 de Dezembro de 1872, aquele industrial paga à Câmara Municipal de Almada, pelo foro do referido salgado situado em Cacilhas, a importância de vinte e dois mil e quinhentos réis. (2)


(1) O Defensor do Povo n.° 59, Coimbra, 9 de fevereiro de 1898
(2) Samuel Roda Fernandes, Fábrica de Molienda "António José Gomes", Anexos

Artigos relacionados:
H. Parry & Son, estaleiro no Ginjal
H. Parry & Son, estaleiro em Cacilhas

Mais informação:
Restos de Colecção

Tema:
Construção naval

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