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segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Marrare de Cacilhas, casa de pasto e hotel da villa...

Á entrada da casa de pasto vulgarmente denominada do Marrare, estabelecida na rua da Oliveira em Cacilhas, se lê em gordos caracteres, lançados sobre enorme taboleta, o seguinte:

HOTEL DE VILLE.

E por baixo deste lettreiro

CASA DE PASTO!!

A traducção não pode ser mais elegante, nem mais fiel; porém, como seja novissima, julgamos fazer grande e relevante serviço ás pessoas que frequentão aquella villa, em as prevenir de que não obstante significar Hotel de ville, o que em língua Portugueza sempre significou — "Casa da Camara"; também hoje em idioma Cacilhense significa — "Casa de Pasto do Marrare".

Chapeo de castorinho. Sobrecasaca de panno. Calça de casimira.
Bonnet de setim. Sobrecasaca de estamenho. Calça de cassineta dobrada.
Capeo de castor. Colete de sarja de seda. Casaca de panno de senhora. Casaca de cotim.

E não será isto verdadeiro progresso? Sentimos em verdade, que o erudito Barboza [Diogo Barbosa Machado] não alcançasse o nosso tempo para mencionar na interessante Bibliotheca Lusitana [publicada entre 1741 e 1758], que nos deixou, a primorosa traducçâo acima referida, o nome do distincto traductor, o seu ninho paterno, idade e nascimento. (1)


(1) Progresso da lingua franceza, O Correio das Damas, agosto de 1839

Informação relacionada:
Bibliotheca lusitana historica, critica, e cronologica... Volume I
Bibliotheca lusitana historica, critica, e cronologica... Volume II
Bibliotheca lusitana historica, critica, e cronologica... Volume III
Bibliotheca lusitana historica, critica, e cronologica... Volume IV

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Duas Uniões Victoriosas, de Jaime Ferreira Dias

"Duas Uniões Victoriosas" estreou-se, ainda manuscrita, no teatro Garrett, da Cova da Piedade, em 24 de Maio de 1931, de-sempenhada pelo grupo dramático "A Juventude', cujos papeis foram assim distribuidos: Mestre Macedo — Leonel Borges, Angela — Dorinda de Carvalho, D. Martinho — José Coelho, Mario — José da Cruz, Raul —João Miguel Pereira.

Duas Uniões Victoriosas, edição do autor, 1931.
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Sebastião Lopes e Artur Ramos, que representavam respectivamente "O Almadense" e "Republica Social" na primeira representação fizeram ao original e ao seu autor referências extremamente lisongeiras que agradecemos num sincero abraço.

Jaime Ferreira Dias.
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DUAS  UNIÕES VICTORIOSAS

PERSONAGENS

Mestre Macedo, 60 anos, cego,
Angela, 19 anos, operária filha de Macêdo
D. Martinho, jovem rico.
Mario, jovem operario
Raul, 35 anos, ex-companheiro de Macédo.

Actualidade

ACTO ÚNICO

Num quarto andar. Sala pobremente mobilada: ladeada por algumas cadeiras, a desconjuntar-se, uma pequena mêsa coberta por um pano já desbotado, tendo em cima um candieiro acêso, costura e alguns jornais operarios. Uma cadeira de repouso e nas paredes alguns quadros alusivos á causa do proletariado. Dez horas da noite.

SCENA I

MARIO e ANGELA (que estão sentados á mesa conversando).

MARIO — (tomando as mãos de Angela que chorou) — Sim, minha Angela. Verás que havemos de ser felizes. Mas é preciso que afastes de ti esses pensamentos que te entristecem e acredites só, minha querida, no nosso amôr... Ainda duvidas da nossa felicidade?

ANGELA (Reanimada). — Duvidas... dizes-me tu. Como se eu não cresse cegamente no que tu me tens dito... Não és tu, Mário a minha unica esperança, todo o meu amôr?! Eu sei que não és como os outros, que cultivam o amôr como uma banalidade desta época. Nem eu seria também, como tantas das minhas pobres companheiras de oficina, um objecto de frivolidade perigosa. Compreendi desde o primeiro instante os teus sentimetos generosos. E tu, Mário, que és digno, que sofres com a dôr dos nossos irmãos de oficina, compreendes também todo o meu entristecimento. Bem vês. Não tenho mãe, uma irmã.... (Comovida). Resta-me apenas o meu velho pai, trôpego, e cego, a quem tenho que sustentar com o meu magro salario. E só tenho a proteção dele e o teu amor.

MARIO. — E eu não te exijo outra fortuna. Dentro de bem poucas semanas as nossas existencias ter-se-hão ligado no mais enternecido sonho. Viveremos um para o outro e gosarêmos, querida, a felicidade sadia dos pobres. Que aspiras mais?...

ANGELA. — E como havemos de ser felizes!

MÁRIO. — Então não terás que preocupar-te tanto com a exploração de que és vitima nem com o trato grosseiro dos mandões [...]

*
*     *

D. MARTINHO (continuando cinicamente). — Mas, não teem que surpreender-se. Mário, esse fami-gerado socialista que anda a sublevar os meus operários com utopias subsersivas, êsse terá um passaporte para a África. E não me esquecerei de si, descance, sr. Raul.

RAUL. — Canalha! Tudo há a esperar do seu estofo moral. Mas nada receio de si, miserável. Eu tenho, tambem, uma recompensa para esta pobre gente que o sr. persegue. Ei-la: é o seu último recibo. (Entrega-o a Macedo). E agora, miserável, sáia! imponho eu. Sáia!

D. MARTINHO (Fixando o recibo). — E' falso esse recibo. Exijo-o. Você é um falsificador.

RAUL. — É assinado por seu pai e foi o sr. que o perdeu há instantes, colérico, por certo, com o insucesso das suas diligências donjuanêscas.

(já se tem houvido, da rua, o rumar da multidão que canta a Internacional e que passa sob a janela)
.

A pé, ó victimas da fóme!
A pé, famélicos da terra!
Da ideia a chama já consome
A crôsta bruta que a soterra!
Cortai o mal bem pelo fundo!
A pé! A pé! não mais senhores.
Se nada somos em tal mundo,
Sejamos tudo ó produtores!
Bem unidos façamos,
nesta luta final
duma terra sem amos
a Internacional! [...]

*
*     *

MACEDO (Voltado para a plateia). — É a inexoravel justiça da rua, meus filhos. Os burguêses e senhores inventaram-na com os pelourinhos e a igrêja com os autos de fé. E o povo não soube subtraír-se ainda a essa ferocidade, e quere ser tombem juiz. (Vai cessando o ruído e as personagens afastam-se da janela).

RAUL. — Passou, victoriosa, a união dos trabalhadores. E agora meu querido méstre, deixe que eu denuncie uma outra união não menos fervorosa e indivizível que existe há muito entre dois jovens que se amam: Mário e Angela. Graças ao amôr dêles, a virtude triunfou, como nos romances, tornando fortes e arreigadas as convicções emancipadoras d'este moço idealista.

Jaime Ferreira Dias.
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MACEDO. — Mas, meus filhos. Eu sinto-me venturoso por vos saber amados. Sède pois muito felizes, mas com uma condição: não desampareis este velho cego como dois egoistas tontos de felicidade.

ANGELA e MÁRIO. (acercando-se mais dele e afagando-o). — Oh não, meu pai, nunca nos separaremos.

MÁRIO. — Sim. E de hoje em diante, consinta que, em vez de méstre vos chame pai. Seremos cada vez mais unidos.

RAUL. — Pois sim, mas não vão esquecer-se da bôda...

OS NOIVOS (Reconhecidos). — Pois não...

MACEDO (Contente). — Assisto, meus filhos, depois de tantas vicissitudes que tenho sofrido, a duas uniões que tornam felizes os meus últimos dias: — a victória d'ideia libertadora e o triunfo do vosso amôr. Elas viverão em meu coração de pai afectuoso e de velho idealista como duas uniões victoriosas... (Tem-se ouvido rumores da Internacional cantada pela multidão).

TODOS (Dirigindo-se para a janela). — Viva União dos Trabalhadores!... (O pano baixa lentamente, continuando a ouvir-se o cobro até este cair definitivamente).

FIM (1)


(1) InfoGestNet

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La cultura obrera en Portugal, TEATRO Y SOCIALISMO DURANTE LA PRIMERA REPÚBLICA (1910-1926)
Les mythes et les légendes bibliques dans le théâtre portugais à thématique ouvrière

sábado, 8 de dezembro de 2018

Panorama das Margens do Tejo: o Tramoceiro

Pequena rocha de forma curiosa sugerindo um tremoço, que ficava entre o extremo do Ginjal e a Fonte da Pipa, na margem do rio. Só era acessível a pé enxuto na maré vazia e era pesqueiro muito apreciado dos pescadores à linha.

Vistas Stereoscopicas de Lisboa, Panorama das Margens do Tejo.
Delcampe

Um aterro efectuado em 1981, encobriu-a por completo. A expressão pode derivar de tremoço através da forma antiga e popular "tramoço". (1)


 (1) R. H. Pereira de Sousa, Almada, Toponímia e História, Almada, Biblioteca Municipal, Câmara Municipal de Almada, 2003

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sábado, 1 de dezembro de 2018

Praia das Lavadeiras (de passagem...)

Quando o bom tempo e o ciclo das marés o permitiam, a praia era transformada num imenso estendal de roupa branca, tão imaculada como os castelos de espuma que, arrastados pelas ondas, se dispersavam na areia.

Lavadeiras junto ao Rio Tejo (detalhe), Garcia Nunes.
Arquivo Municipal de Lisboa

Tratava-se da "Praia das Lavadeiras", conhecida desde tempos muito recuados pelo povo de Almada e frequentada por gerações de mulhers que ali acorriam por falta de alternativas próximas e acessíveis... (1)


(1) António Neves Policarpo, Mulheres na história da água..., SMAS de Almada, 2003

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La Paloma
O sr. Moreira da fábrica de conservas A. Leão & Cia., Sucessores de Lino & Cia.