Praia das Lavadeiras, Ginjal, Alfredo Keil. Imagem: Casario do Ginjal |
Era nestas areias que há séculos as mulheres da vila vinham lavar a roupa.
Almada, Boca do Vento, ed. Paulo Emílio Guedes & Saraiva, 12, década de 1900. Imagem: Fundação Portimagem |
Cavavam com a enxada junto à muralha do cais, e logo a água doce e cristalina borbotava e fazia poça.
Juntavam uma tábua, ou em vez desta uma pedra lisa, mais sabão, água, esfrega que esfrega, bate que bate [...]
Houve ainda o velho espanhol, o sr. Moreira, da fábrica de conserva de fruta, caçador e columbófilo, que vivia amancebado com a menina Teresa, sopeira gordinha e risonha, que lavava roupa na Praia das Lavadeiras, sempre de barriga com um menino dentro, que o velho e achacado Moreira perfilhava e ensinava a parlar espanhol...
Sociedade Mercantil Luso Brasileira, Lda. Sucessores A. Leão & Cia. e Lino & C., Ginjal — Almada. |
Ao chegar à Praia das Lavadeiras havia um grande sarrabulho.
Aproximei-me e dei fé de duas mulheres a agatanharem-se fora das poças.
Outras faziam coro e tomavam partido.
Cá em cima, na muralha, alguns homens riam e galhofavam.
O apito da fábrica La Paloma berrou violento e prolongado, e o pessoal começou a sair para o almoço.
La Paloma, conservas de peixe, anúncio de 1947. Imagem: Gonçalves, Elisabete, Memórias do Ginjal. |
Embrenhei-me entre os operários que fervilhavam no cais, homens, mulheres e fedelhos...
Cais do Ginjal e fábrica La Paloma, Amadeu Ferrari, década de 1940. Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa |
Da fábrica de conserva La Paloma, a da pomba branca, dos buques atestados de sardinha-prata e das varinas chilreantes e brejeiras, além da recordação restam os caboucos, pois um fogo há muito consumiu-lhe tudo. (1)
Romeu Correia no miradouro Luís de Queirós ou Boca do Vento. Imagem: Wikipédia |
(1) Correia, Romeu, O Tritão, Lisboa, Editorial Notícias, 1982, 174 págs.
Bibliografia:
Gonçalves (coord.), Elisabete, Memórias do Ginjal, Almada, Centro de Arqueologia de Almada, 2000, 88 págs.
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