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domingo, 27 de dezembro de 2015

Embrechados (5 de 5)

Embrechados são os mosaicos caprichosos as incrustações variegadas feitas de seixos multicôres, de búzios e conchas, de fragmentos de louças finas, de contas e crystaes coloridos que adornavam as grutas, os nichos e alegretes dos jardins e quintas portuguezas [...]

Praça Duque da Terceira, pormenor da calçada.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

Dorme desde então Almada, perto de dois séculos, na Historia de Portugal, até que accorda em 1833, com a entrada de Telles Jordão, que o Duque de Cadaval, governador de Lisboa, para ah mandara com 3:000 homens, defender esse posto avançado, e fazer face ao Duque da Terceira, que vinha com 1:500 homens sobre Lisboa.

Um desembarque em Cacilhas, ed. Paulo Emílio Guedes & Saraiva, 2, década de 1900.
Imagem: Delcampe, Bosspostcard

A 22 de julho a columna liberal entrava em Setúbal, saltava por Azeitão, descia ao valle de Coina, e marchava pelo Seixal e pelo Alfeite, até á Piedade. 

Ahi, ao entardecer do dia 23, encontrava as avançadas do Telles Jordão. A guarnição miguelista de Almada, vindo ao seu encontro a Cacilhas, e julgando o inimigo muito superior em numero, aterrorisou-se.

Rua Direita — Cacilhas, ed. desc., década de 1900
Imagem: Delcampe, Oliveira

O combate, já de noite, foi uma derrota rápida para os miguelistas, que vinham apavorados, atropelar-se no Caes de Cacilhas. No escuro dessa noite houve forte carnificina.

Telles Jordão, a cavallo, combatendo, forcejava entrar u'uma falua. Abriram-lhe o craneo com uma cutilada, e arrastaram-n'o, quasi morto, emquanto uma grande parte dos seus fugia pelas trevas da noite, em catraios, faluas e barcos cacilheiros.

Pela madrugada do dia 24, o Duque de Cadaval mandou evacuar Lisboa. Foram avisar d'isto o Duque da Terceira á Outra Banda. O castello d'Almada entregou-se-lhe, e a sua columna atravessou o rio, entrando triumphante na capital.

Almada, O interior do castelo, ed. Paulo Emílio Guedes & Saraiva, 7, década de 1900
Imagem: Delcampe

Hoje a figura em bronze do brilhante Conde de Villa Flor, Duque da Terceira, alli no caes do Sodré, sobre o pedestal de pedra, com a cabeça levemente inclinada e pensativa, olha com a insistência immovel das estatuas, para a frente, lá ao longe, a villa de Almada, que se lhe rendeu n'essa linda manhã de julho.

Cais do Sodré e praça Duque da Terceira, 1906.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

E se porventura no craneo de metal ainda palpitasse um cérebro, o seu pensamento correndo ao arripio pelo tempo que já passou, iria recordando, n'uma evocação, as scenas trágicas ou festivas, sentimentaes ou guerreiras, de que foi theatro essa Almada de Frei Luiz de Sousa, dos autos de Gil Vicente, do cerco do século XVI, das façanhas dos cruzados inglezes, e das origens da sua fundação árabe.


Versão integral impressa:
Almada pelo conde de Sabugosa, em 1905 (parte I)
Almada pelo conde de Sabugosa, em 1905 (parte II)

Tema:
Guerras Liberais

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