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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Persistência da memória

Estamos a 24 de setembro de 1831. É noite. A lua em todo o seu esplendor illumina a praia do Caramujo, que se estende por detrás da longa fileira das casas que formam a povoação.

Persistência da memória, Salvador Dali 1931.
Imagem: WikiArt

Da esquerda o quadro vae terminar no agudo Pontal de Cacilhas.

Viata da Quinta do Outeiro, Caramujo e enseada da Cova da Piedade, Francesco Rocchini, anterior a 1895.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

Da direita vê-se a meio da praia a pequena ponte que dá facil desembarque para os armazens de vinhos;

Cova da Piedade, Arnaldo Fonseca, 1890
Imagem: Boletim do Grémio Portuguez d’Amadores Photographicos *

mais além ainda a praia e os rochedos, depois o terreno encurva-se, e apresenta a vista, como um alvo lançol, o estabelecimento de Valle de Zebro, e mais em distancia as casinhas do Barreiro, como outros tantos pontos esbranquiçados sobre o fundo escuro do horisonte.

Memória, René Magritte, 1948.
Imagem: WikiArt

A noite está serena. O silencio é apenas interrompido pelo ruido das vagas, que magestosamente se desenrolam na areia.

O Tejo em frente do Caramujo, Revista Illustrada, fotografia de A. Lamarcão, gravura de A. Pedroso, 1892.
Referencia: Toscano, Maria da Conceição da Costa Almeida, A fábrica de moagem do Caramujo património industrial
Imagem: Fernandes, Samuel Roda, Fábrica de molienda António José Gomes

Quem áquella hora e com aquelle luar escutasse o rouco marulho do patrio Tejo, facilmente imaginaria a voz de um velho acalentando uma creança.

A desintegração da persistência da memória, Salvador Dali, 1954.
Imagem: WikiArt

Mais perto percebe-se que ao rumor das aguas se reune o vozear baixo e entrecortado, que sae de um pequeno grupo de pessoas sentadas á porta do pateo da tanoaria de Jeronymo.


(1) António Avelino Amaro da Silva, O Caramujo, romance histórico original, Lisboa, Typographia Universal, 1863

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