Fica a "troupe" embasbacada.
Almada, Uma das muralhas do castelo, Paulo Emílio Guedes & Saraiva, 06, década de 1900. Imagem: Delcampe |
Viram a vista de fama,
Do esplendido panorama.
E o padre pondo-se a pé,
E abrindo o olho baço,
Gritava: "Lá está a Sé...
Mais o terreiro do Paço...
A Penha de França... o Monte...
A Graça ao lado... e defronte,
O zimborio da Estrella...
Ih! Jesus! que vista aquella!
Todos, todos... "ai, que encanto!"
O Gamboa, diz: "Oh! mana,
Olhe o forte de Monsanto,
Onde esteve o Gungunhana...
Que vista esta tão bella...
Lá está acolá... Palmella.
E ali assim... Belem...
Até se vêem os omnibus!
A egreja dos Jeronymos.
Lisboa, Panorama do Rio Tejo, Alberto Malva, 14, c. 1900. Imagem: Delcampe |
A Inglaterra não tem, jóias,
Nem a França nem a Suissa,
Uns panoramas eguaes,
De tão completa cubiça!
Olhem para todo este rio...
Que belezas naturaes! ...
Olha a torre do Bugio,
E a bahia de Cascaes!"
Notem que o rapaz dos burros,
Esta, pois que não esqueça,
Levava ás costas, no pau,
Enfiada uma condessa,
Com a petisqueira... mau!
Era o farnel: Carne assada,
Com batatas, estufada,
E tres gallinhas coradas,
Que é melhor não fallar n'isso,
C'o competente chouriço,
E pescadinhas marmotas,
D'estas de rabo na bocca;
Em quatro vidros, compotas,
Porém, fructa, muito pouca;
Porque dizia o Gambôa:
"Na Outra Banda ha á toa."
Chafariz do Pombal, Almada, ed. desc., década de 1900. Imagem: Delcampe |
Segue o cyrio triumphal,
Para o "Joaquim dos Melões",
Pelo sitio dos Pombal,
Onde os nossos figurões
E o padre no seu macho,
Começam nas libações,
Copo cheio, copo a baixo.
O Gambôa com a pressa,
De saltar do albardão,
Cai, e bate co'a cabeça,
Logo ali no meio do chão!
O rapaz, p'ra lhe acudir,
Por bregeiro e maganão,
Deixa cahir a condessa,
Ao pé do caramachão,
E tudo desata a rir
Na maior animação.
Logo aquella boa gente,
Lá do "Joaquim dos Melões",
Excellentes creaturas,
Que são todas attenções,
E deff'rências as mais puras,
Que eu amo sinceramente,
Logo todos mui afflictos,
Acudiram ao Gambôa,
Chapinhando-lhe a cabeça,
Com agua-ardente bem boa.
No Lazareto de Lisboa, Joaquim dos Melões, Rafael Bordalo Pinheiro, 1881. Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal |
Limpa-lhe o padre a poeira,
E diz com sua voz fina:
"Deixe provar a piteira,
Sôra Dona Carolina,
Eu também soffri abalo...
E ella cheira... cheira... cheira...
Cheira que é mesmo um regalo!"
Não faço d'isto segredo,
Em Cacilhas agregou-se,
A este rancho decantado,
O senhor Julio Azevedo,
Um cavalheiro estimado,
De bondade todo cheio,
Em companhia também,
Do illustre senhor Feio
Um puro homem de bem.
A Caminho do Pic Nic... Imagem: Delcampe |
Iam os dois na charrétte
A trote na egua baia,
Com o Sousa e o Rodrigues,
Para a quinta d'Atalaya.
Mas como era o Gambôa,
Amigo d'este quartetto.
Lá foram todos na pandega,
No cyrio q'rido e selecto.
Amora Avenida Marginal Lado Sul Manuel Henriques Jr 01.jpg Imagem: Delcampe |
Pouco mais de meia hora,
Com grande jovialidade,
Tudo foi da Piedade,
Até ao logar d'Amora:
E tudo na melhor ordem,
Sem ninguém dar uma raia,
Abancou rindo e folgando,
Lá na quinta d'Atalaya. (1)
(1) Diário Illustrado, 10 de agosto de 1896
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