O prazer geral requinta.
Uma barraca de comes e bebes, J. Novaes Jr., c 1900. Imagem: Internet Archive |
Debaixo de alto pinheiro,
Todo o rancho prazenteiro,
Se sentou: e a condessa
Logo aberta foi depressa.
Grupos de arraial, J. Novaes Jr., c 1900. Imagem: Internet Archive |
Tiraram pois as colheres,
Garfos, facas e palitos,
Riam-se immenso as mulheres...
Grande chuva de bons ditos,
Com retumbantes risadas...
As tres gallinhas assadas...
Alli logo devoradas...
Muita pilhéria e laracha...
Para lavar o estomago,
O nosso padre Luiz,
Todo galhofa... n'um triz...
Lá se atirou á borracha.
O dia da espiga, J. Novaes Jr., c 1900. Imagem: Internet Archive |
(Grita Gambôa)
"Isto é melhor do que em casa!
Viva a geral alegria!...
As alegrias eternas!"
E cada filha pedia...
Que lhe dessem uma ása,
Comendo o Alfredo as pernas.
Dona Francisca, o pescoço...
Outros o peito... um destroço!
E tudo ria animado...
E o Canastro era offertado,
Ao burriqueiro, e ao moço.
Ora a mana que já estava,
Com o Feio, de derriço,
Sem saber que era casado,
Toda delambida e bella,
Dá-lhe, sorrindo, a moella,
E uma roda chouriço.
N'esta jovial cantata,
Era tremenda a berrata,
E grande era o borburinho!
Todos de puc'ra na mão,
A gritarem: "Venha vinho!"
A creada rindo então,
Fazia ao padre gaifonas,
A comer as azeitonas,
E a carne assada com pão.
Gambôa fez um discurso,
Monumental, e d'escacha,
O padre com a borracha,
Não qu'ria passar por urso...
Já com a penca encarnada,
Era golada... e golada...
Dizendo: "Isto vai assim!"
E com a vista turvada,
Berrava já em latim,
Que nem na missa cantada!
Nas hortas. À sombra de arvores, J. Novaes Jr., c 1900. Imagem: Internet Archive |
Que belleza!... que belleza!...
Finda a boa sobremeza,
Saberão os meus leitores,
Que todos alli ficaram...
Tal e qual com os... "amores",
E lá riram, e dansaram.
Formou-se uma contradança,
Bem de pressa, ao pé do tanque,
Tocava a guitarra o Blanc,
o cavaquinho o Bragança.
A mana avançando o passo,
De alegria dá um grito,
E ao seu feio... tão bonito,
Trava depressa, o braço.
Nosso Azevedo expedito,
Que contentíssimo anda,
Põe o charuto de banda,
E dansa com Henriqueta,
Delambida e de luneta,
O nosso Rodrigues tira,
P'ra par "madama" Gambôa,
Que pela dansa suspira,
Na sociedade em Lisboa.
O quarto par é o Sousa,
Que a dar muita gargalhada,
Não se atirou a má coisa...
Pois se agarrou á creada.
Tudo dansa: tudo pula!
Tudo alli se vê a rir...
Só o Gambôa e o padre
Se deitaram a dormir:
Dizendo a rir a creada,
Para a sua querida ama:
"Deixal-os, minha senhora,
Aquella fructa quer cama."
Nas hortas. Debaixo da parreira, J. Novaes Jr., c 1900. Imagem: Internet Archive |
Mas o raio do petiz...
(Os rapazes são uns alhos!)
Accorda o padre Luiz...
Acerta-lhe com dois bogalhos,
Mesmo em cheio no nariz!
Jámais é eterno o gosto!
Gamboa grita: "É sol posto,
Vamos, vamos, minhas filhas,
Que ainda é longe Cacilhas,
Toca a montar a cavallo."
Padre Luiz, logo fal-o;
Mas como estava zaré.
No mofino do estribo,
Quem diz que enfiava o pé?!
Foi preciso o burriqueiro,
Ao vêl-o assim tão borracho,
Pegar-lhe em pezo, e deital-o,
Bumba! p'ra cima do macho!
Nas hortas. À entrada da taberna, J. Novaes Jr., c 1900. Imagem: Internet Archive |
Eis grita o padre a cavallo:
"Vou alegre... vou... deixal-o!
Luduvicus, pater a pé...
Libera nos est dominé!
Arre! burros p'Azeitão,
Que os cazacas já lá vão!"
(1) Diário Illustrado, 11 de agosto de 1896
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