Este conto vai a fio,
Que eu não desejo lacunas,
Desembarcaram sem frio,
Todos no caes das Columnas.
Mal pozeram pé em terra,
Se a memoria me não erra,
Com esta o padre se sahe:
"Uma lembrança aqui vai,
Attenção, que fallo eu!
Para o dia ser em cheio,
O final d'este passeio,
Deve ser no... Colyseu."
Alegres, felizes almas!
Proposta de extremo agrado!
As filhas batem as palmas,
E tudo grita: "Apoiado."
A mana, isto olvidou,
Mencionar; mas sempre achou,
Aqui agora o relato,
O negregado sapato,
Que perdeu no Caramujo.
E logo grita: Eu não fujo,
A ir a quaesquer funcções,
Que idéa monumental!
Vamos lá para a geral,
P'r'o logar de dois tostões.
Mas que é isto?! (diz Gamboa,)
Com a maior expansão,
Eu vejo toda a Lisboa,
N'uma extrema escuridão?!...
Dona Francisca: "Ih! Jesus!
A cidade está sem luz!...
Meninas! dêm-me a mão!
Como é que isto se descreve?!
Diga lá quem for capaz..."
Acode o padre: "E' a gréve,
Da companhia do gaz!"
(D. Francisca)
"A caminho, já em frente,
Todos chegados a nós...
Vocês filhas... não vão sós...
Padre José! não se ausente!
Até me tremem as pernas!
A noite está como um breu!
Lá vejo duas lanternas...
Mesmo acolá... vejo-as eu...
Do cor verde transparente...
Não m'engano... não m'engano.
É um carro americano,
Que vai para o Intendente..."
Aqui tropeço... ali cáio...
Aqui subo... ali esbarro...
Todos sobem para o carro...
Que era um antigo pangaio.
Mas ao Coliseo chegados,
Não se dava o espectáculo,
O gaz era o obstáculo,
E muitos grupos zangados,
Também ficaram logrados!
Tudo queixumes e bulha,
Praguejando um tal vaivém!
Uns vieram da Pampulha,
Outros d'Alcant'ra, e Belem!
A discussão era rica,
E tudo ali a gritar,
Tudo contra a companhia!
Uns que vinham de Bemfica,
E outros do Lumiar.
Era enorme a "engresia"!
Todos estavam em brasa!
Os que tinham lá em casa,
Na sua q'rida casinha,
Fogões a gaz na cosinha,
Lastimavam em berreiros,
Contra a companhia então,
A falta dos fogareiros,
Do clássico carvão!
Furiosos grupos vários!
Gritavam os emprezarios,
A protestarem ufanos,
Já contra perdas, e damnos.
Apostrophava-se ao sério,
A policia, o ministério,
E a camara municipal!
Quando o Gamboa então diz:
"Vamos já padre Luiz,
Tudo ao Príncipe Real."
Eis começa a discussão,
(Estas scenas idolatro!)
Se haviam d'ir ao theatro,
Ou se para casa então.
(P.S.)
N'esta historia verdadeira,
Que aqui conto toda inteira,
Uma surpreza verão,
E não é nada pequena...
Vai-lhes appar'cer em scena,
Um illustre figurão.
Será algum deputado
Será ministro d'Estado?
Algum militar ousado?
Africanista notado?
Leitor, tenha paciência,
Espere Vossa Excellencia,
Que ficará inteirado,
De tudo que é... s'il vous plait.
(1) Diário Illustrado, 15 de agosto de 1896
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