A coisa não valeu nada,
N'um instante s'enchugou,
Com a famosa golada.
Cacilhas, Caes e Pharol, ed.Tabacaria Havaneza, década de 1900. Imagem: Delcampe |
Rindo foi sentar-se á prôa,
Ao lado do seu Gambôa,
Pucha do fuzil... petisca;
Mas logo riam instantinho,
Surge o tenente Coutinho,
P'ra fiscalizar a isca.
Policia civil, Raphael Bordallo Pinheiro. Imagem: Bordallo Pinheiro |
Ao bote manda dois guardas,
De espadalhões e de fardas,
(D. Francisca)
Que vem fazer este bando?
Vimos ver o contrabando,
E d'essa isca acendida...
Será já da permittida.
Grita o Gambôa bufando;
"Aqui não ha contrabando,
Não vivi, nunca passando-o,
Não uso a falsa torcida!
Isto em mim não são cantigas,
O olho á vontade deite,
Aqui ninguem tem bexigas,
De agua ardente, nem de azeite.
Se a curiosidade alastra,
Por ordem de um tolo fino,
Metta o nariz na canastra,
Que traz restos do petisco."
(Grita o padre)
Digam lá ao sor Coutinho,
Que diz o padre José,
Que vai no "bote-olaré"!
Sem uma pinga de vinho,
A mana assaz escamada,
As pequenas e a cunhada,
E a môça, todas zangadas,
Não querem ser apalpadas.
Lugar de atracagem em Belém, A.P.D.G., Sketches of Portuguese life (...). Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal |
O Alfredo, alegre ri,
E pondo a mão na ilharga:
Esclama:—"Vamos d'aqui!
Larga! Larga! o bote larga!"
O Durão, vai pirá escôta
E junto ao padre e ao Gambôa,
Vai assentar-se na prôa,
A creada... (que marôta)!
Agora uma outra cousa,
Metta-se aqui de permeio:
Do Azevedo e do Sousa,
Do Rodrigues e do Feio,
Despediu-se a sociedade,
Com abraços de amisade.
Adeuses... suspiros... e ais,
E o bote larga do caes.
Catraio no Tejo, década de 1900. Canoa "Amor da Pátria" de Jerónimo Rodrigues Durão. Imagem: almaDalmada |
Sulcando o ameno rio
Canta o padre ao desafio.
"Saiba você seu Gambôa,
Que vou agora cantar,
E a Lisboa hei do chegar,
Com a cabeça já bôa.
Aqui, direito na prôa,
Igual ao Vasco da Gama,
Do amor patrio tenho a chamma,
Não vou descobrir a India,
Deus esta viagem finde-a,
Pondo-me dentro da cama."
Embarcação (canoa) Zinha, Costa da Caparica, passeio de barco, 1922. Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa |
(Grandes gargalhadas)
(A mana)
De cantar tendo cubiça
D'esta fórma s'esganiça:
"Joven Lylia abandonada,
Por seu lindo ingrato amante,
solharia e delirante,
Passeava em seu jardim."
D. Francisca, contente,
Tambem canta de repente:
"Sentes além no retumbar
Da serra...
O som do bronze que nos causa
Horror?!
É mais um ente que voou...
Da terra!
Mais um poeta que morreu...
D'amor."
(O Alfredo)
Tambem em grande berrata,
Dá mil vivas á frescata,
E eis que começa a cantar,
Em estylo popular:
"Que seja á quarta,
Que seja á quinta,
Que se a á sexta,
0 mesmo é,
Que seja ao sabbado,
E ao domingo,
Ah! ah! ah! Trilolé!"
Pontaleto de Cacilhas, José Artur Leitão Bárcia, 1905. |
Ri muito o padre José!
E o que faltava alli só,
P'ra cabal... alamiré,
Era um bello sol-e-dó!
(1) Diário Illustrado, 13 de agosto de 1896
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