Praça do Comércio e Rio Tejo, Francesco Rocchini (1822 - 1895), c. 1868. Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal |
Reflectindo-se nas aguas tranquillas do mais vasto e magestoso porto do mundo, banhada pela mansa corrente do seu aurífero Tejo, reclinando-se docemente sobre terrenos de leve pendor, onde aqui e ali brotam macissos de virente vegetação, sob um ceu de pureza inegualavel, e com um clima ameno e vivificante, a cidade de Lisboa revê-se nos terrenos fronteiros de alem-Tejo, semeados de povoações, de fabricas, de matas e de vinhedos, e que descem até a margem do rio por vertentes rápidas, ou por escarpas abruptas.
Baixa e Rio Tejo, Francesco Rocchini (1822 - 1895), c. 1868. Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal |
Pela base d'esses terrenos e banhadas pelas aguas do Tejo estendem-se as edificações, quasi ininterrompidamente, formando grupos, ou povoações, que tomam os nomes de Cacilhas, Ginjal, Arrábida, S. Lourenço, Affonsina [sic] e Banatica, até a Trafaria.
Baixa e Rio Tejo, Francesco Rocchini (1822 - 1895), c. 1868. Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal |
Em cima, Almada, a velha Cetobrica dos romanos, com as muralhas do seu castello e as torres das suas igrejas recorta pittorescamente o horizonte, reflectindo os raios afogueados do sol poente nas vidraças das casas, como se estivessem illuminadas em festa, ou ardendo em chammas [...]
Regata dos barcos da Channel Fleet em Lisboa, 1869. Imagem: amazon |
Na margem do S. ha ainda os seguintes pontos, que servem aos navegantes para a sua derrota:
Plano do porto de Lisboa e das costas adjacentes (detalhe), 1804. Imagem: Bibliothèque nationale de France |
Torrão — pequeno logar que fica mais a W. da margem S. do Tejo.
Calhaus do mar — grupo de pedras que existe próximo do areal da Trafaria.
Plano Hidrográfico do Porto de Lisboa, A. F. Lopes e Rodrigues Thomaz, gravura, 1932. Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal |
Trafaria — povoação das mais importantes do S. do Tejo, com grande accumulação de casas de pescadores, facilmente reconhecível.
Trafaria, c. 1900. Imagem: Delcampe |
Lazareto — edifício de grandes dimensões assente no cimo da montanha e descendo pela vertente, com diversos corpos em amphitheatro.
Torre velha — fronteira á torre de Belém, e a W. do Porto Brandão — logar bem reconhecido, pela grande quantidade de casas que fícam adjacentes áquella margem.
Banatica — logar que bem se distingue pelas pedreiras em exploração, cortando o terreno em talude muito áspero, e ao qual ficam próximas as marcas do limite W. da milha maritima.
Plano Hidrográfico do Porto de Lisboa, A. F. Lopes e Rodrigues Thomaz, gravura, 1932. Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal |
Alfanzina — pequeno porto a montante da Banatica.
Porto de S. Lourenço — fica ao N. do logar denominado Palença, e onde está installada uma grande fabrica de cerâmica.
Portinho da Arrábida — a nascente do qual, e na quebrada da montanha, ficam as duas marcas de alvenaria, que dão o limite E. da milha maritima. E com estas marcas e com as da Banatica que se vão acertar os relógios e experimentar o andamento dos navios. A milha official é dada pelo enfiamento dos dois grupos de marcas.
Torre de S. Paulo — na villa de Almada, a W. da povoação e em ponto elevado, uma das marcas mais importantes da margem sul do Tejo.
Plano Hidrográfico do Porto de Lisboa, A. F. Lopes e Rodrigues Thomaz, gravura, 1932. Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal |
Pontal de Cacilhas — ponta SE. da povoação d'este nome, e limite N. da enseada chamada da Cova da Piedade. (2)
Plano Hidrográfico do Porto de Lisboa, A. F. Lopes e Rodrigues Thomaz, gravura, 1932. Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal |
[...] arribas da margem sul do Tejo desde Cacilhas à Trafaria. A denominação de Almaraz foi corrente entre a gente de rio e mar até principios do
(1) Dicionário Priberam da Língua Portugues
(2) Loureiro, Adolfo, Os portos maritimos de Portugal e ilhas adjacentes, Vol III parte 1, Lisboa, Imprensa Nacional, 1906
(3) Pereira de Sousa, R. H., Almada, Toponímia e História, Almada, Biblioteca Municipal, Câmara Municipal de Almada, 2003, 259 págs.
Artigo relacionado:
H. Parry & Son, estaleiro no Ginjal
Informação relacionada:
Jornal Público, edição de 2 de julho de 2006
Lamas, Pedro Calé da Cunha, Os taludes da margem sul do Tejo - evolução geomorfológica e mecanismos de rotura, Lisboa, Universidade Nova, 1998, 21.71 MB.