quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Vale de Rosal e os dias 4 e 5 de outubro de 1910

A quinta de Val de Rosal, na Caparica, na margem esquerda do Tejo (arredores de Almada) foi, para os jesuítas, uma verdadeira relíquia. Foi, desde o século XVI, propriedade da irmandade até à sua expulsão em 1759 sob o reinado de D. José I. Foi aí que durante vários meses B. Inácio de Azevedo e os seus companheiros tinham preparado a sua partida para o Brasil, exercitando as virtudes heróicas que Deus iria recompensar pelo martírio.

Vale de Rosal antes de 4 de outubro de 1910.
Imagem: Internet Archive

O solo é arenoso é pouco fértil: os seus horizontes, onde se destaca o verde escuro dos pinhais, são monótonos; as brisas do entardecer espalham sobre os cumes melancólicos das colinas o eco distante das vagas que rebentam na praia. Poderíamos crer reencontrar a solidão dos antigos claustros impregrados ascetismo.

Vale de Rosal, após o assalto.
Imagem: Internet Archive

Hoje, no entanto, esta região, justamente chamada a Charneca, está pontilhada de pequenas casas rurais brancas e agradáveis escondidas nas dobras do terreno ou expostas nas encostas arredondadas das colinas.

Entre elas, a fazenda de Val de Rosal conservava, graças aos seus edifícios mais imponentes e sobretudo ás suas tradições veneráveis, uma superioridade que não se sonhoria contestar.

Vale de Rosal, após o incendio.
Imagem: Internet Archive

Não se encontravam nem belezas arquitetônicas, nem qualquer outra maravilha de arte. Mas tudo respirava piedade e recordava as virtudes heróicas dos nossos mártires.

Vale de Rosal, um corredor interior após o incendio.
Imagem: Internet Archive

A capela tinha sido cuidadosamente restaurada. O retábulo de madeira do altar-mor que representava a Assunção da Santa Virgem, era obra, acreditava-se, de um dos bem-aventurados companheiros abençoados Inácio de Azevedo.

Vale de Rosal, a capela após o incendio.
Imagem: Internet Archive

Admiravam a inspiração ingênua que nos transporta a esses tempos em que a arte cristã possuía ao mais alto nível, mesmo os artistas de talento inferior, a intuição das realidades sobrenaturais e vivas dos mistérios de Nosso Senhor e de sua Santa Mãe.

Vale de Rosal, o calvário.
Imagem: Internet Archive

Os azulejos que formavam a frente dos três altares foram a tinham a data de 1568. Tudo neste lugar abençoado merecia ter sido cconservado com veneração.

Vale de Rosal, o assalto ao calvário e derrube do cruzeiro, 5 de outubro de 1910.
Imagem: Internet Archive

Os professores do colégio de Campolide iam, no verão, passar em Val de Rosal quinze dias de férias. 

O povo das redondezas vivia, em grande parte, na mais crassa ignorância das verdades religiosas. Tal família, por exemplo, não fazia sequer baptizar os seus filhos, que cresciam sem nenhuma cultura.

Vale de Rosal, o calvário após o assalto.
Imagem: Internet Archive

Os lugares de Almada e Cacilhas, em particular, eram conhecidos pelo seu anticlericalismo e grosseiros insultos manifestados, à passagem, a qualquer eclesiástico [...] (1)


(1) Luís Gonzaga de Azevedo, Luís Gonzaga Cabral, pref., Proscrits, Tournai, Établissements Casterman, 1912

Versão portuguesa na Biblioteca Nacional de Portugal:
Luís Gonzaga de Azevedo, Luís Gonzaga Cabral, pref., Proscritos, Valladolid : Florencio de Lara, Editor, 1911-1914

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