segunda-feira, 20 de março de 2023

Encerrado desde março de 2023

A praia do Alfeite junto à Quinta do Outeiro com o lugar do Caramujo e Almada em fundo, pintura do jovem Antóno Ramalho, encerra o ciclo de publicações deste blog.

Como resposta às lacunas de informação e objectividade apresentadas pelo Museu da Cidade de Almada, inaugurado em novembro de 2003, pretenderam os espaços Almada virtual museum (2014) e Mar da Costa (2016) promover o estudo, a investigação e o interesse pelas memórias e património de Almada e do seu termo, disponibilizando fontes, factos e eventos, ordenar, relacionar e contextualizar a informação, estabelecer uma plataforma de acesso a conteúdos externos, registar, indexar e cruzar informação e referências, atribuir palavras-chave de modo a agrupar e/ou filtrar expressões ou termos e optimizar o desempenho dos motores de busca online.

Tejo junto à Praia do Alfeite, António Ramalho, 1880.
Alexandra Reis Gomes Markl, António Ramalho, Pintores Portugueses, Lisboa, Edições Inapa, 2004

Atingidos esses objectivos resta dar por concluídas a edição e actualização deste blog dedicado a Almada e daquele dedicado a Caparica,  onde ontem se fez O último "lance"...). A plataforma associada de discussão no Facebook (Almada virtual) vai manter-se activa.

Com uma perspectiva mais abrangente,
atravessando margens, Eventualmente Lisboa e o Tejo (Arte e Memórias) irá incluir sempre que necessário as temáticas dos espaços agora encerrados.

Resta agradecer a vossa companhia nesta viagem.
Um grande bem-hajam!

Rui Granadeiro, março de 2023

quinta-feira, 9 de março de 2023

Edmundo Castanheira (1924-2009)

Este livro (Construção de Pequenas Embarcações), agora na sua 2ª edição, é um trabalho para todos aqueles que possuam, construam ou necessitem de manter ou reparar pequenas embarcações, especialmente de madeira.

Edmundo Castanheira, capa do livro Construção de pequenas embarcações (detalhe).
Dinalivro


É escrito numa linguagem (Nomenclatura Naval) que é comum e interessa a todos os que de qualquer modo estejam ligados a navios de qualquer dimensão e construídos de quaisquer materiais. (1)

O autor publicou na Dinalivro Construção de Pequenas Embarcações (1977) e Manual de Construção de Navios de Madeira (1991).

Edmundo Castanheira,
capa do livro Manual de Construção do Navio de Madeira (1991).
Livraria Santiago



Com Auxiliar do Técnico Industrial (2002) Edmundo Castanheira vem pôr à disposição do leitor, no seguimento de uma linha que se caracteriza essencialmente pelo seu carácter prático, didáctico e técnico, todos os conhecimentos que adquiriu ao longo de muitos anos de estudo e de prática concreta na área da construção e reparações navais.

Edmundo Castanheira,
capa do livro Auxiliar do Técnico Industrial (2002).
Dinalivro


Neste sentido, poderá encontrar-se não só um manancial de bases teóricas e de conhecimentos práticos fundamentais, mas também as soluções para vários problemas ou ainda algumas informações particularmente úteis para estudantes, como é o caso das tabelas de conversão de unidades e de materiais ou das secções sobre desenho geométrico, projecções, planificações, entre outras, que integram, tal como os livros anteriores, um trabalho inestimável.

O autor, Edmundo Castanheira, nasceu em 1924. depois de obter o diploma do Curso Industrial dedicou quarenta anos da sua vida à arte da construção naval em madeira. Foi Contra-mestre de carpintaria e docas secas, bem como desenhador e traçador de navios de madeira na H. Parry & Son (v. artigo relacionado: H. Parry & Son, estaleiro em Cacilhas).

Cacilhas, Estaleiro, ed. J. Lemos, 16, década de 1960.
Delcampe

Mais tarde, trabalhou na Sociedade Geral de Comércio, Industria e Transportes (SG), exercendo as funções de chefe de trabalhos de carpintaria de bordo, oficinas, estofadores, polidores e calafates.

Lisnave, brochura promocional, junho de 1971.
A Lisnave...


Durante 12 anos esteve nos estaleiros da Lisnave como chefe de aprestamento de navios, dando assistência técnica às fragatas para a NATO Almirante Pereira da Silva, Gago Coutinho, navios para a pesca do bacalhau Ana Mafalda Santa Mafalda (o Ana Mafalda foi um navio misto de transporte de passageiros e carga da Sociedade Geral), petroleiro Larouco (80.000 toneladas), rebocadores, lanchas, batelões, dragas, etc... Ainda na Lisnave, foi encarregado geral das docas da Margueira. (2)


(1) Authentic livros
(2) Dinalivro

Tema:
Construção naval

Informação relacionada:
Alexandre Flores (fb)
As Margueiras, Contributos para a história de Cacilhas, Junta de Freguesia de Cacilhas, O Farol, 2013


sábado, 4 de março de 2023

Almada Atlético Clube (1946)

a caminho de transformar-se em grande instituição

A vila de Almada procura, mercê de um esforço admirável, apoiado na dedicação e entusiasmo dos seus habitantes, impor-se não só na vida social como também na prática do desporto.

Banquete de homenagem ao Almada Atletico Club
(campeão nacional da II divisão na época 1946-1947).
Delcampe Bosspostcard

O inicio desse novo aspecto no desporto local principiou com a fusão dos dois clubes locais: o União Desportivo de Almada e o Pedreirense Futebol Clube.

Coroada de êxíto essa iniciativa, o aparecimento do Almada Atlético Clube marcou desde logo um programa valioso, não só em benefício do desporto e dos desportistas locais, como também do desporto nacional, pois que, dada a importância do projecto, o desporto português receberá um excelente reforço.

Estivemos em Almada e na sede do clube ouvimos alentamente a exposição que nos fizeram o seu presidente, sr. João Louro, acompanhado pelos srs. Valentim Henriques, secretário. Jeremias Barros, secretário adjunto, e Alfredo Cáceres Alves, capitão do grupo de futebol.

Frente à antiga sede do Almada Atlético Clube.
A Banda da Incrível ao Longo do Tempo vol. I. ign 1.° centenario, 1 de outubro de 1948.
InfoGestNet

— O Almada Allético Clube cumpre a ideia que foi a base da iniciativa da fusão dos dois clubes almadenses.

Pensámos que poderia surgir um clube grande, capaz de divulgar os bons princípios do desporto e interessar o povo de Almada pela cultura física e até cultural.

António Henriques, director desportivo do Almada Atlético Clube 1949/1950.
InfoGestNet


Verificamos hoje que assim é. E não devem estar arrependidos o sr. Direclor Geral de Desportos, que apadrinhou com interesse a fusão. e a Federação Portuguesa de Futebol, que nos tem acompanhado com as suas boas palavras de incitamento e o valioso auxílio de 50 contos, com que pudemos entrar na posse do nosso magnifico campo de desportos. Temos cumprido. Muito mais queremos e havemos de fazer.

Associativamente, como se encontra o Allélico de Almada?

Bem. Quando existiam dois clubes, as duas massas associativaa perfaziam um total de 500 sócios. O Atlético de Almada regista já 1.200 sócios e esperamos que dentro em pouco, com uma campanha que vamos iniciar, se chegue aos 3.000.

Quais os projectos?

A instalação da nossa sede, em edifício que esperamos brevemente alugar. Procuramos que a nossa casa desportiva tenha conforto e ambiente acolhedor. Nessa sede, além de todas as instalações para os sócios, poderemos montar um amplo ginásio.

Almada Atlético Clube (sede)  c. 2014.

Ao mesmo tempo continuaremos as obras do nosso campo de desportos.

Procuramos dotar Almada com um estádio!

O nosso terreno presta-se à maravilha para esse efeito. Siuado em local privilegiado, com linda vista e terrenos desafogados, o campo de jogos do Atlético de Almada receberá, logo que a época de futebol termine, obras para tal necessárias. Prolongaremos as bancadas, há pouco inauguradas, que chegarão até a circundar as balizas. Construiremos uma pista para atletismo, balnearios, posto médico e outras instalações subterrâneas e procederemos ao arrelvamento do campo.

Se todos nos ajudarem e se o auxílio das entidades desportivas vier, como esperamos, colaborar nesta nossa obra, Almada, na época de 1946-47, terá o seu estádio! Todos estes projectos estão já traçados no papel prontos a serem submetidos ás entidades oficiais que superintendem nestes assuntos.

Campo de jogos do Almada Atlético Clube no Pragal.
InfoGestNet

Depois, há a valorização dos nossos «teams» de futebol e o alargamento da nossa aclividade desportiva.

Qual é presentemente essa actividade?

Além do futebol, praticamos atletismo, modalidade em que conquistámos já vários recordes, nacionais e regionais; andebol, com duas categorias, e estão prestes a iniciar a sua aclividade as secções de basquetebol e de voleibol.

Neste momento, o Almada Atlético Clube tem ainda uma outra ambição: ingressar na 1.a divisão da A. F. de Setubal. Havemos de conseguir.

Como vê disseram-nos os dirigentes almadenses ao terminarem as suas in formações estamos animados dos maiores desejos de cumprir uma bela missão, a bem do desporto e de Almada.

As entidades dirigentes do desporto deram-nos um impulso. Nós procuramos corresponder, valorizando esse apoio.

Almada Atlético Clube (emblema).
Wikipédia


Como se depreende destas informações o Almada Atlético Clube está lançado no bom caminho. Há entusiasmo acertado, uma vontade forte de trabalhar e um desejo ainda maior de, no mais curto espaço de tempo, fazer surgir em Almada um grande clube de desporto. Por enquanto nada há que faça supor o contrário... (1)


(1) O Almada Atlético Clube a caminho de transformar-se em grande instituição, Stadium n° 167, 13 de fevereiro de 1946

Mais informação:
Joaquim Candeias, Efeméride do primeiro jogo
Stadium n° 89, 16 de agosto de 1944

Artigos relacionados:
Almada Atlético Clube (1944)
Pedreirense Foot-Ball Club
Clube Desportivo da Cova da Piedade
Clube Desportivo da Cova da Piedade (reportagem da revista Stadium)
Gregório, do Cacilhense...
Grupo Desportivo da Casa dos Pescadores da Costa de Caparica

terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Almada Atlético Clube (1944)

Apôs a fusão Pedreirense-União Almadense
O ALMADA ATLETICO CLUBE
Será em breve uma honrosa manifestação do desporto Almadense


A vila da Almada, anichada no alto dos montes da Outra Banda, desfruta de situaçãp previlegiada. Debruçada, sobre o Tejo, olhando desafogadamente Lisboa inteira, Almada bem merece as carinhosas dedicações que se lhe tem devotado, procurando engrandecê-la ajudando-a no aspecto de renovação e melhoramentos que a cada passo se encontram por toda a Vila.

Almada Atlético Clube (emblema).
Wikipédia


Terra de laboriosa, que tem orgulho naquele rincão arejado, onde de toda janela se espreita o lindo rio e os olhos se inundam da paisagem campesina. Almada vai tomar posição de relevo no desporto. Disto nos convencemos quando nestes últimos ditas lá estivemos, inquirindo ao certo o que significava a fusão dos dois antigos clubes de Almada, o Pedreirense Futebol Clube e o União Sport Clube Almadense, sensata solução que deu motivo à fundação do novo clube: o Almada Atlético Clube.

À interferéneía amivel de Francisco Valente — um nome que fito ligado à ideia — colocou-nos na presença do sr. José Braz, presidente da direcção do novo clube, ume figura de respeito em Almada, espirito ponderado, ideia sempre ligada a boas iniciativas. Por isso o seu nome apareceu — e foi bem recebido — nesta benéfica questão desportiva que é hoje em Almada assunto dc grande importância.

Comandante José Braz, albúm pessoal,
Bombeiros Voluntários de Almada.
InfoGestNet

— Esta ideia excedeu toda a expectativa — diz-nos o sr. José Braz com sincero entusiasmo.
— Como a receberam as duas massas associativas?
— De início, como é compreensível. formaram-se dois sectores, grupos que se opunham à fusão. Mas façamos-lhe justiça. Pata muitos, os clubes comtituiam um lar antigo. O amor clubista imperova. A saudade pelo grupo que lhes merecera tantas dedicações e esforços ajudara a não concordarem com a ideia, que era boa — para a terra e para a ideia desportiva.


O exemplo daquele sócio que compreendendo o benefício da fusão teve a sinceridede de me dizer: "Concordo com a fusão, mas quando ela for um facto quero reunir num jantar de despedida alguns eompanheiros e chorar o desaparecimento do meu clube!" Dedicaç6es destas vieram fortalecer o novo clube.

Pedreirense Foot Ball Club (emblema).

O sr. José Braz continuou expondo a finalidade que orientou este projecto:
— Almada é terra de gente boa, trabalhadora, honesta e sempre pronta a reunir-se em volta de uma bandeira para demonstrar o valor da sua actividade e das suas boas ideias.


O nosso meio recreativo impõe-se. As duas colectividades, a Academia Almadense e a Incrível Almadense, eonstituem motivo de orgulho. Por que haviam de continuar dispersos pordois clubes valores tão aproveitáveis? Por que haviam de continuar divididos os homens, em vez de os juntarmos num grende clube que marcasse posição de relevo no concelho e que conseguisse reunir todos os almadenses em volta de uma só entidade?


E tudo correu pelo melhor. Este nosso bom povo, humilde. mas amando muito o que pertence a Almada, é neste morneoto o melhor auxiliar para que a iniciativa tenho o exito que lhe antevemos. Registe-se que, expontâneamente, logo nos primeiros dias se inscreveram mais de 200 sócios, que até então não pertenciam a nenhum dos dois clubes.

União Sport Clube Almadense (emblema).

O sr. José Braz anima-se. As suas palavras são ajudadas por entusiasmo que, sendo comovido, deixa entretanto prever os beltssimos projectos que estão já em efectivação.

— O Almada Atlético Clube será um clube de todos e para todos. Preocupa-nos não fazermos uma coisa defeituosa, mas sim com bases sérias e que no futuro marque posição. Pretendemos, especialmente, fazer em Almada um clube em que se possa preparar a juventude,

Acarinhados e aconselhados pelo sr. capitão António Cardoso, contamos com o aplauso da Direcção Geral doa Desportos, além do apoio dos melhores valores da nossa terra.

E o sr. José Braz salienta-nos um nome, uma figura a quem o concelho deve: o banqueiro António Piano Jnr. Almada considera-o a sua "varinha de condão", sempre ao lado das boas iniciativas, desde que tenham por finalidade o engrandecimento da terra.

A generosidade do sr. Piano Junior tem-se feito sentir em tórias as obras de beneficèneia e de recreio espiritual que se têm organizado em Almada. E ao ser posto ao corrente do que se passava com a fundação do novo clube desportivo, o interesse e a magnífica ajuda de António Piano colocaram-se ao dispor da direcção do Almada Atlético Clube.

Mercê desse valiosíssimo apoio — countinua elucidando-nos o sr. José Braz — o novo clube, terá a sua sede própria. Neste momento ultimam-se as negociações para a compra, ou de um edifício e campo anexo, ou de terreno onde se edificará a sede. E qualquer destes elementos estão já escolhidos.

— Os seus projectos, quanto a instalações desportivas?
— A futura sede do Almada A. C. reunirá todas as instalações necessárias o um bom clube de desporto. Terá um amplo e apetrechado gimnásio e um campo de "basket ball".


Os campos dos dois clubes, o do Pedreirense e do União, pensamos depois aproveitá-los sob o seguinte projecto: o primeiro para futebol, introduzindo-lhe mais alguns melhoramentos e bancadas; o segundo para os pistas de atletismo, "rink" de patinagem, "courts" de ténis e piscina. (1)


(1) Stadium n° 89, 16 de agosto de 1944

Mais informação:
Joaquim Candeias, Efeméride do primeiro jogo
O Almada Atlético Clube a caminho de transformar-se em grande instituição, Stadium n° 167, 13 de fevereiro de 1946

Artigos relacionados:
Almada Atlético Clube (1946)
Pedreirense Foot-Ball Club
Clube Desportivo da Cova da Piedade
Clube Desportivo da Cova da Piedade (reportagem da revista Stadium)
Gregório, do Cacilhense...
Grupo Desportivo da Casa dos Pescadores da Costa de Caparica

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

A ponte monumental

A architetura exterior dos edificios públicos, das egrejas, dos grandes palacios, é lamentável de banalidade e insulsez: e os modernos quazi todos peores do que os antigos; fóra do manuelino, de que o terremoto deixou poucos bocados, fóra do D. João V, que é um entre Luiz XIV e Luiz XV luxurioso e freiratico, Lisboa não tem nada que vêr-se possa, a não ser o Terreiro do Paço e a jesuitica egreja da Estrela, feita com o dinheiro que o marquez destinava á ponte monumental entre Almada e Lisboa, e o estafermo beato de D. Maria I derreteu em honra dos seus terrores supersticiosos. (1)

Bellisle looking down the Tagus, John Cleveley Jnr, 1775.
Bonhams

A ideia inadiavel da prolongação das linhas do Barreiro até Cacilhas ou Almada, trazendo os comboios á parte mais estreita do Tejo, frente a Lisboa, a 10 ou 12 minutos de travessia maritima da capital, necessariamente desperta na poderosa Companhia Real (dos Caminhos de Ferro Portugueses) os antigos rancores, pois, realisada a obra, os sonhos do Cetil carriando a Lisboa a mór parte das mercadorias do Alemtejo Medio e Baixo, em fumo vão-se, e visto o desenvolvimento espantoso que este acrescente trará ao Sul e Sueste, não haverá mais meio de pensar em o arruinar e adquirir por tuta e meia (...)

Lisboa — Vista de Lisboa e Tejo, ed. desc., década de 1900.
Delcampe

Mas se é certo que a teimosia dos comerciancites, por bronca, faz suspeitar que por traz d’ela alguma tramoia a Companhia Real fomenta e móve, não menos descabida parece a ancia que teem os engenheiros do Sul e Sueste em querer já construir a estação terminal nos aterros do caes jacente á Alfandega, sem primeiro trazerem a linha a Cacilhas ou Almada, sem prolongamento logico e natural (...) (2)

Lisboa monumental, ilustração, Alonso (Joaquim Guilherme Santos Silva, 1871 — 1948).
Hemeroteca Digital

É do folheto "Ainda a estação fluvial das linhas do sul e sueste" do sr. engenheiro A. Santos Viegas que extracto a enumeração desses projectos:

Em 1888, projecto do americano Lye: vinha a ponte d'Almada ao Thesouro Velho, e ahi ficava a estação de mercadorias do sul e sueste, com entrada pelo Largo das Duas Igrejas [Praça do Chiado]. "A este plano, acrescenta o sr. Santos Viegas, alvitra-se agora acrescentar elevadores que nas alturas do Caes do Sodré transportariam vagões entre a linha superior e a estação da companhia". Custaria de 8 a 10:000 contos.

Em 1889: projecto de Bartissol e Seyring [sic, Seyrig], fazendo da estação do Rocio a testa das linhas sul e sueste, quando ainda a companhia Real pensava d'açambarcar os caminhos de ferro do estado. Custava 9:000 contos, a que opinões meticulosas ajuntam mais 1:000 para expropriações.

Ponte sobre o Tejo, E. Bartissol e T. Seyrig, O Occidente n.° 380, ilustração L. Freire, 1889.
Hemeroteca Digital

Em 1890: projecto do engenheiro Proença Vieira, que iria de'Almada a um ponto ao norte da rocha do Conde de Óbidos, seguindo a linha ferrea até cêrca de Campolide. Custava 7:500 contos mas é possível que chegasse a muito mais, visto haver sítios do rio onde as fundações dos pilares iriam até 60 metros de fundo, e no projecto não se faziam calculos explicitamente rigorosos ácêrca d'essas fundações.

Depois de 1891 houve mais dois projectos. Um, do fallecido Miguel Paes, de todos os expostos o mais sensato sob o ponto de vista de ligação ferroviaria, vinha do Pinhal Novo onde toda a rede do sul se acha reunida n'um tronco unico, o espigão do Montijo, e d'ahi por uma immensa ponte, aos Grillos, fóra da zona de grande navegação do Tejo. N'este sitio, teria a ponte muito menor importancia para a viação ordinária.

A construcção seria mais facil, mas a extensão muito maior, devendo o custo exceder pouco mais de 4:000 contos.


Ponte sobre o Tejo, estudo do engenheiro Miguel Pais, 1872.
Arquivo Municipal de Lisboa

Finalmente o ultimo projecto de travessia do Tejo era a concessão a uma empreza americana, d'uma ponte ara peões, carros, "tramways" electricos e caminhos de ferro, entre Almada e o bairro da Lapa, sem bases porem que permittissem avaliar da sua exiquibilidade.

Elegante projecto da ponte Lisboa Cacilhas,
propaganda republicana, década de 1910.
O Mundo do Livro

O sr. Santos Viegas opina (e nós tambem) que a ideia Julio Vernesca da ponte sobre o Tejo deve deixar-se ás futuras gerações. Não que ella não represente um arrojado e utilissimo melhoramento, mas por ser devorante o custo, e não se devem adiar outras obras mais urgentes, como a da trazida do caminho dez ferro do sul a Cacilhas ou Almada, e fundação da nova cidade da margem esquerda, em que urge desdobrar, o mais rapidamente possivel, a nossa actual Lisboa fabril e commercial. (3)


(1) Fialho de Almeida, "Barbear, Pentear" (jornal d'um vagabundo), 1910
(2) Fialho de Almeida, Idem
(3) Fialho de Almeida, Illustração Portugueza, Lisboa Monumental II, Lisboa, 19 novembro 1906

Artigos relacionados:
Lisboa monumental em 1906
Projecto de travessia do Tejo em 1889
A ponte

sábado, 7 de janeiro de 2023

Taludes do Almaraz

Observaram-se em diversos levantamentos alguns desmornamentos mas estes apenas ocorreram a partir da face rochosa do trecho escarpado superior, não afectando a respectiva crista. Evitaram-se os locais que se sabia terem sido alterados por interferência directa do Homem (escavações para adoçamento da crista, sobre o Olho de Boi, ou para alargamento de plataformas, sobre o Ginjal).

Olho de Boi, João Vaz, 1887.
Museu Nacional Soares dos Reis

O único caso de recuo efectivo de um trecho de escarpa ocorreu a meia encosta entre Boca do Vento e Fonte da Pipa, em 1992 e, por ser do conhecimento prévio do autor, foi facilmente detectado no levantamento de fotografias aéreas de 1994.

No mesmo local, ocorreram em datas posteriores àquele levantamento outras ocorrências (a partir de Janeiro de 1996) e, como aquele, associadas a uma mesma camada rochosa que formava uma consola de grande balanço.

Derrocada parcial do talude fronteiro à Fonte da Pipa
Cristo Rei, ed. Bazar Mumi n° 218.
Delcampe Bosspostcard


Em relação ao trecho de escarpa contínua entre Cacilhas e Arialva, o tipo dominante de movimento de terrenos consiste em quedas de blocos a partir das paredes verticais ou sub-verticais, onde as camadas mais rijas formam consolas postas em destaque pela erosão diferencial dos estratos confinantes mais brandos, inferiores e superiores (...)

A ocorrência em 1992, 1996 e 1997, de quedas de blocos de grande volume (várias dezenas de metros cúbicos) concentrando-se no trecho entre Boca do Vento e Fonte da Pipa, justifica-se pela presença, nesse local, de um espesso banco calcário a calcarenítico formando consolas com cerca de 3 m de balanço. Muito próximo deste trecho, um pouco a oeste, registe-se a queda, em 1968, de um bloco de cerca de 150 toneladas sobre as instalações da antiga Companhia Portuguesa de Pescas.

Perfil geológico simplificado do trecho de taludes entre Castelo de Almada e o Seminário de São Paulo, sobre Olho de Boi, desenhado sobre fotografia tomada a partir da margem oposta
cf. Pedro Lamas, Os taludes da margem sul do Tejo, 1998

A maior parte destas ocorrências tem a sua origem, quase sempre, a meia altura da escarpa, não sendo visíveis os seus efeitos no total deste sector. Da escarpa, destacam-se blocos aproximadamente prismáticos ou em diedro, no caso do maciço se encontrar compartimentado por diaclases oblíquas à sua parede.

Registe-se, ainda, um talude sobranceiro ao cais do Ginjal, coberto por depósitos de vertente espessos, onde ocorreu um escorregamento que obrigou à realização de obras de estabilização importantes (...) (1)


(1) Pedro Lamas, Os taludes da margem sul do Tejo, 1998

Artigos relacionados:
Fonte da Pipa e sua água
Fonte da Pipa e seu caminho
Sítio de Olho-de-Boi

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

A igreja nova

Enquadramento

Urbano, destacado, isolado. A Igreja Nova de Almada (Igreja de Nossa Senhora da Assunção) localiza-se entre a fronteira do antigo núcleo da vila e a parte nova , encontrando-se implantada no terreno (público alienado em 1962) do Jardim Comandante Sá Linhares; implantada a meia-encosta, dominando o largo fronteiro, é separada dos arruamento por adro e escadaria, encontra-se rodeada por edifícios de interesse arquitectónico.

Almada, Jardim Comand. Sá Linhares, ed. J. Lemos n° 21, década de 1950.
Delcampe, Bosspostcard

Na área envolvente destacam-se algumas escadas e patamares do domínio público, integradas no jardim, mas necessárias para acesso ao templo.

Almada, avenida D. João I, Augusto de Jesus Fernandes, 1962.
Arquivo Municipal de Lisboa

Do lado da Fachada principal o Lar de São Tiago, e na continuação da Av. D. João I algumas casas marcadamente pertencentes à tipologia "Casa Portuguesa"; em cota inferior ergue-se o Tribunal do Trabalho (...)

Almada, Jardim Sá Linhares, ed. Postalfoto n° 11, década de 1950.
Delcampe, Bosspostcard

A construção da 2ª fase do Centro Paroquial de Almada, de 4 pisos, é composto por um edifício afastado da igreja com ligação através de um canal de separação. O piso 0, situado ao nível da R. Cândido Capilé tem acesso principal através de um canal a céu aberto que desemboca num terraço sobramceiro ao jardim com ligação ao adro da igreja, tendo este piso 2 salas do jardim de infância e recepção; tem acesso alternativo ao terraço através de escadas (...)

Cronologia

1962, Janeiro - celebração da escritura de alienação do terreno destinado ao centro paroquial com a área de 3.000 m2; elaboração do programa e adjudicação do projecto;


Plano Parcial de Urbanização de Almada (PPUA), Implantação do Cento Cívico, 1947.
Ver Almada crescer: 10 anos do Museu da Cidade (catálogo)

1962 / 1963 - entrega do ante-projecto executado pelos arquitectos Nuno Portas, Nuno Teotónio Pereira e Luís Moreira, tendo sido apreciado pela Câmara Municipal e pelo Secretariado para as Novas Igrejas do Patriarcado;
1964 / 1965 - suspensão dos estudos;
1965, 22 de Julho - a CMA aprovou o ante projecto;
1966 - entrega do projecto geral da responsabilidade do arquitecto Nuno Teotónio Pereira;
1967 - adjudicação da empreitada da 1ª. fase;
1969 - oferta de um sino pelo Sr. Vasconcelos, no valor de 10 contos;
1970 - inauguração da igreja; 1971 / 1972 - prosseguimento dos trabalhos de acabamento;
1986 - parecer sobre a localização da 2ª. fase - construção do Jardim de Infância; 1988 - proposta para a elaboração do projecto de construção do Centro de Assistência Paroquial de Almada;


Vista satélite do Jardim Dr. Alberto Araújo, ex dito Cmdt. Sá Linhares,
com o edifício da Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Assunção integrado à esquerda.
Google maps (2003)

2002 - execução da 2ª fase do Centro Paroquial de Almada, projecto dos arquitectos Nuno Teotónio Pereira e Duarte Nuno Simões. (1)


(1) SIPA

Artigo relacionado:
O centro cívico