segunda-feira, 11 de abril de 2022

Pedreirense Foot-Ball Club

Arrendara o Pedreirense Futebol Clube um declive de terreno no Pau-da-Bandeira e a maioria da massa associativa jurara "fossar" na terraplenagem. Há dias que parte da vila abrasava deste entusiasmo, e questiúnculas rompiam onde quer que estivessem adeptos dos amarelos-e-pretos e do União de Almada.

Construção do Campo do Pragal por voluntários do Pedreirense Futebol Club.
Gabriela Henriques

Vivia o Pedreirense sem campo atlético, treinando por empréstimo ora no rectângulo do Ginásio, ora no do rival. Mas agora, sim, com boa vontade de todos, tardes e noites, alumiados por réstias de sol ou bicos de carboreto, os braços não descansariam enquanto aquele chão não fosse propício a pugnas futebolísticas (...)

Pela ladeira ingreme que conduzia à vila, juntaram-se outros operários, gente das oficinas da Companhia de Pesca. Era um bando de enfarruscados; muitos faziam "picança" nas traineiras. Também eles vinham envolvidos no mesmo despique: unionistas e pedreirenses atenazando-se mutuamente. Uma joelhada fez voltar Alfredo - que deu com a cara suja de Casimiro.

Oh, pá! — Vas logo também cavar prà quinta do Feiteira? — brincou ele.

Já fui ontem... — respondeu o filho de Gracinda. Se os outros têm campo, a gente não tem porquê!? (1)

Pedreirense Futebol Clube. Nasceu na Rua da Pedreira, em 1920, e funde-se com o União Almadense, em 1944, dando o Almada Atlético Clube dos nossos dias. Esta fotografia da sua equipa de futebol é datada de 1925.

Equipa de futebol do Pedreirense Futebol Clube em 1925.
Henrique Mota, Desportistas Almadenses

Da esquerda: Agostinho de Figueiredo, Leonel Alaiz, guarda-redes da 1.a categoria do Clube de Futebol "Os Belenenses", e irmão de Rogério Alaiz, (talvez o futebolista mais habilidoso de Almada, e ainda irmão do grande democrata José Alaiz), Quirino Mendonça, Carlos Santos, Augusto Luís (o popular Agulhas, que além de bom futebolista foi um inteligente executante musical e inspirado compositor), Júlio Calóca, Manuel Lino, António Luís (conhecido por Maloia, que foi um primoroso futebolista), Américo Valentim, António Alves (conhecido por Pau por ser rijo e destemido, e irmão de dois excelentes futebolistas, Joãozinho e Franquelim Alves, o «Bidas»), Arsénio de Andrade (probo executante musical, que esteve 40 anos na Banda da Sociedade Incrivel Almadense) (2)

Cartão de sócio do Pedreirense Foot-Ball Club.
Delcampe, Bosspostcard

O sr. António Jesus Soares solicitou elementos sobre a criação do Almada Atlético Clube (fundado em 20 de julho de 1944), os quais lhe foram facultados, incluindo os modelos de equipamento utilizados, na altura, pela União Sport Club Almadense, filiado 166, admitido na Associação de Futebol de Lisboa em 23 de outubro de 1924 e pelo Pedreirense Football Club, admitido em 27 de maio de 1925, ficando registado com o nº 178.

Pedreirense Foot-Ball Club

Estes clubes fundiram-se para dar lugar ao Almada Atlético Club. (3)

União Sport Club Almadense


(1) Romeu Correia, Os tanoeiros, Parceria A. M. Pereira, 1976
(2) Henrique Mota, Desportistas Almadenses
(3) Alberto Helder, Fui voluntário durante 867 dias

Mais informação:
Joaquim Candeias, Efeméride do primeiro jogo
Stadium n° 89, 1944

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sábado, 2 de abril de 2022

Jantar republicano (1956)

Nesse ano celebrou-se o 46º aniversário da implantação da República em Almada estando a comissão comemorativa constituída por Hélio Vieira Quartim, Firmino da Silva, Rafael Ferreira, José Alaís, José Duarte Vitorino Júnior, António Maria dos Santos Queimado, Raimundo José Moreira, José Maria, Amadeu de Almeida Ferrão, Óscar Penedo, Herculano Pires, Henrique Barbeitos, Francisco Açucena, Raul Adão e Silva, João Pedro de Jesus, José Moreira, Romeu Correia, João Romana, José Justino de Jesus, Salvador Avelar, José de Jesus dos Santos, António Maria Ribeiro, Felizardo Artur, Francisco Correia e Amaro Trindade Sanguinho.

Comemorações do 46º aniversário da Implantação da República. Jantar de confraternização republicana no Restaurante Pancão, Almada, 4 de Outubro de 1956.
Da esquerda para a direita: não identificado, dr. Henrique Barbeitos, Firmino da Silva, não identificado, José Correia Pires e Hélio Quartim.
Museu da Cidade de Almada (cedência de Virgínia Silva Neto cf. Paulo Emanuel Ramos Jorge, A oposição ao Estado Novo no Concelho de Almada...)

Do programa apresentado o governador civil apenas aprovou a sessão na Incrível Almadense no dia 4 e um jantar de confraternização de republicanos deixando de fora a romagem à casa onde nasceu Elias Garcia por razões óbvias de retirar visibilidade à celebração da efeméride adivinhando um cortejo cívico com alguma expansão que pudesse constituir uma manifestação aberta e espontânea de repúdio ou de questionamento das instituições.

Foi no sentido de exercer controlo e vigilância sob o evento que Fernando Gouveia e a brigada liderada por Manuel de Medeiros se deslocaram a Almada. A sessão na Incrível Almadense foi presidida por Câmara Reis, secretariado por Firmino da Silva e Henrique Barbeitos e teve como oradores Rodrigues Lapa, José Alaíz, Herculano Pires, Edmundo Vieira Ferreira, João Pedro Martins Calvário e José Correia Pires na presença de uma numerosa assistência onde foram notadas mulheres e menores.

Comemorações do 46º aniversário da Implantação da República na Incrível Almadense, 4 de Outubro de 1956.
À frente e da esquerda para a direita: Firmino da Silva, não identificado, dr. Henrique Barbeitos. Atrás de Firmino da Silva encontra-se José Alaíz.
Museu da Cidade de Almada (cedência de Virgínia Silva Neto cf. Paulo Emanuel Ramos Jorge, A oposição ao Estado Novo no Concelho de Almada...)

Foi aprovada uma moção enviada por Amadeu de Almeida Ferrão e Mário Fernandes que propunha que a comissão organizativa da sessão continuasse para organizar a nova campanha eleitoral, ao passo que no jantar de confraternização celebrou-se um minuto de silêncio pelos que morreram pela República em 1910 e implicitamente pelos perseguidos e mortos pelo regime.

Neste evento ainda vemos antigos republicanos, como Firmino da Silva, embora esteja já dominado pela oposição comunista.

Casa de pasto e retiro de José Pancão à direita na foto.
Museu da Cidade de Almada

Estes eventos constituíam momentos de contestação ao se celebrar a democracia, a coberto da República, ou seja, não era uma comemoração da Primeira República, mas da liberdade que existia durante a sua vigência e, portanto, quando se vitoriava a República era este o seu significado. (1)


(1) Paulo Emanuel Ramos Jorge, A oposição ao Estado Novo no Concelho de Almada (1933-1974), 2019