Vão todos p'la rua abaixo,
Com medo como o diacho!
N'isto, junto de Soccorro,
Vê-se um trem á luz de um gaz,
Que dizía mesmo: "Morro,
Por indecente e incapaz!"
Era o landau do... D. Braz!!!
Tudo logo em berraria!
Tudo logo em gritaria!
Não ha horas, ruins, más!
Mana! papá! minha tia!
Olhe... veja... que alegria
D. Braz! D. Braz! Ó D. Braz!
Tudo se ácerca do trem,
Tudo quer ver o amigo,
Tudo pergunta ao postigo:
"Como passou, passou bem?
Como está, senhor morgado?
O figado seu, como vai?
O baço está desinchado?
Ainda bem que já sahe!
A perua já se curou?
O bofe já melhorou?"
E tudo sobre elle cahe...
Que quasi o esborrachou!
O cocheiro no pescante,
Com seu enorme penante,
Toda aquella scena via,
E como melro sorria.
Padre José, com agrado,
Quer abraçar o morgado;
Mas como ás escuras fal-o,
A dar aos braços avança,
E n'um amplexo.. zás!
A cabeça de um cavallo,
Abraçou ao pé da lança,
Julgando que era o D. Braz!!!
D. Braz Pimenta Athayde
De Vasconcellos e Cid
Noronha da Cunha Mattos,
Morgado dos Carrapatos,
Um vinculo instituido,
Por D. Manuel da Falperra,
Em Sines, a sua terra...
Estava dentro do landau,
De cara pasmada .. só,
O que todo o rancho espanta,
Porque o nosso personagem,
Na mais pequena viagem,
Traz a velha governanta,
E o seu amigo doutor,
Medico assás erudito,
Que lhe acode á menor dor,
E ao menor faniquito.
(Gambôa)
Oh! D. Braz, d'onde vens tu?
E elle diz-lhe ao ouvido:
(D. Braz)
"Fui por mandos de Cupido,
A um rico rendez-vous."
(Gambôa)
Ora adeus! fanfarronadas...
Toleimas... parlapatices...
Setecentas patacuadas,
Imposturas e tolices!...
Mas o gaz não apar'cia,
E o nosso fidalgote,
A palacio recolhia,
Suspirando p'r'um archote.
E bisarro, e generozo,
Franco, como os que são francos,
Dizia assáz gracioso,
(Que elle tem ditos facêtos,)
"Os pretos hoje são brancos,
E os brapcos parecem pretos."
Se vão p'ra casa, vai tudo,
Aqui dentro da typoia,
É uma dansa d'entrudo,
Porém eu não vejo boia!
D. Francisca, a patroa,
Vai no colo do Gamboa,
Vossa excellencia entendeu?...
A mana, sento eu no meu,
Tu Alfredo, aqui em pé,
As meninas, ambas, sim,
"Aqui em frente de mim."
E o padre então galhofeiro,
Piscou o olho á creada,
E foram para a almofada,
Sentar-se ao pé do cocheiro.
Roda "el coche", e dentro "el níño",
Par'cia um carro de bois.
Onde ia o rei dos heroes,
A passo, devagarinho.
Sem contratempo ou quisilia,
Chegou a casa a familia,
Do nosso q'rido Gambôa,
Que a rir sempre alegre anda;
E assim acabou-se em paz
Em noite escura, sem gaz,
O passeio á Outra Banda.
(Final)
Com modos muito cordatos,
O nosso amavel e q'rido,
Morgado dos Carrapatos
Disse ao Gambôa, ao ouvido:
"Em segredo isto te digo,
Tu que és meu dedicado,
E um verdadeiro amigo,
No high-life do Illustrado,
Amanhil, faze sair,
Esta coisa... e obrigado".
E abraçou-o muito a rir.
Era um papel que dizia
Sem normas de orthographia:
"Parte ámanhã para Carnide,
P'r'á sua quinta dos Gatos,
D. Braz Vasconcellos Cid,
Morgado dos Carrapatos.
E faz tenção tambem mais,
Não esticando o pernil,
D'ir setembro p'ra Cascaes,
E outubro p'ró Estoril.
Sua excellencia que a vida,
Só disfructa entre regalos,
P'rá vivenda apetecida,
Leva o trem e os cavallos."
(Fim)
(1) Diário Illustrado, 17 de agosto de 1896
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