domingo, 18 de novembro de 2018

Clube Recreativo José Avelino

Foi por este portão do Clube Recreativo José Avelino que, há quarenta anos, entraram os primeiros espectadores dos "Bonecos de Luz", o mais humano e picaresco dos romances de Romeu Correia, história de uma simplicidade tão prodigiosa que roça a magia e pelo fantástico, tal como nos contos de Panait Istrati ou algumas novelas de Gogol. (1)

Cacilhas Clube Recreativo José Avelino Jornal de Letras e Artes 14 3 de janeiro 1962 01.jpg

O Clube Recreativo José Avelino foi oficialmente inaugurado em 6 de Maio de 1906.

Uma Festa de um aniversário do Clube José Avelino no principio do século passado.
"Aqui estão os meus antepassados, a família Silva, juntamente com a família Feio, antepassados do meu querido amigo Mario Feio e alguns membros da famíla Zagallo!"
cf. João Rafael

E para que conste, os seus primeiros Corpos Dirigentes eram constituídos pela maioria dos seus sócios fundadores, a saber. António Augusto Figueiredo Feio, Presidente; João Isidoro da Silva, vice-presidente; José Avelino Vieira da Silva, Tesoureiro; António Augusto Rodrigues, 1° Secretário; Manuel dos Santos Parada; 2° Secretário.

João Rafael
A inauguração do Clube José Avelino, foi feita com pompa e circunstancia, tendo a Direcção elaborado um extenso programa de festas a condizer com a solenidade do dia, no qual constavam, com inicio às 2 horas da tarde, urna sessão musical com o concurso das filarmónicas existentes na Villa de Almada, uma "troupe" de bandolinistas e uma Sessão de Arte Dramática com declamação de poesia. 

Às 8 horas e meia da noite tinha inicio a representação dc 3 peças teatrais respectivamente: "Escravos e Senhores" (em 3 actos), "Folies Bergéres" (musical) e a comédia em 1 acto, "Valentes a Fingir'.

Os actores que participaram nestas peças eram amadores e muitos deles faziam parte como sócios da colectividade. A titulo de curiosidade, o próprio José Avelino representou na peça "Escravos e Senhoras"...

Desde o seu inicio que o Clube José Avelino criou o seu próprio grupo cénico, constituído na sua maioria por gentes de Cacilhas com vocação para a Arte de Talma. Alguns deles, sem qualquer favor. destacaram-se pela sua vocação natural para a arte cénica podendo mesmo rivalizarem com alguns dos actores já consagra-dos que representavam nos teatros de Lisboa.

O Clube José Avelino ao longo das décadas seguintes tinha sempre um cuidadoso programa de festas calendarizado ao longo do ano, que passavam pelas representações do seu grupo cénico ou de grupos convidados. espectáculos musicais, sessões de fado, concursos e as famosas "soirées" dançantes, vulgo bailes, que aconteciam sempre por alturas do carnaval, da micaréme (no qual era eleita por um ano, a minha e as suas 2 damas de honor), da pinhata e da passagem de ano, sempre abrilhantados pelas melhores "Troupes" e Jazz Bands que havia na altura (como então eram denominados os conjuntos musicais que tocavam nos salões dc baile), e que eram muito frequentados (havendo sempre lotação esgotada), proporcionando noites inesqueciveis a todos os cacihenses e não só, que ali conviveram. lias ia ainda, ao longo de todo o ano, uma diversidade de festas dançantes. alusivas à temática da Primavera, da Flor, das Violetas das Vindimas e a outras, que tinham sempre a garantia dc "casa cheia"...

Clube Recreativo José Avelino.
Mario Feio

No que reporta às peças teatrais, foram muitas as que passaram pelo palco do "José Avelino" tendo entre tantas, ficado na memó-ria daqueles que connosco ainda convivem, títulos como "20.000 Dollares", "Rosa do Adro", "D. César Bazan", "As Duas Causas", "Renascer", "Intrigas do Bairro", "O Domador de Sogras", "O Tio Rafael", "Senhor Roubado", "Cama, Mesa e Roupa Lavada", "Vizinhos de Cima" e outras tantas...

Baile de Carnaval no Clube José Avelino, Fevereiro de 1933.
Alexandre Flores, Almada e as suas tradições: o carnaval

O Clube José Avelino. pela fama dos eventos e das festas que organizava, passou a ser conhecido e referenciado para além das "fronteiras" de Cacilhas atraindo cada vez mais forasteiros e curiosos provenientes de Lisboa para assistirem na "Outra Banda". aos espectáculos que eram previamente anunciados por folhetos e programas ou mesmo nos jornais. 

Bailes de máscaras no carnaval de 1934.
Luís Bayó Veiga, Boletim "O Pharol" n° 27, 2015

A fama adquirida pelos espectáculos sempre com lotação esgotada, que ocorriam no seu salão de festas, fez despertar a atenção dos empresários de Lisboa, que rapidamente, percebendo haver oportunidades dc lucro, acertavam as condições dos contratos para serem exibidas excelentes peças teatrais que já tinham sido êxito na capital. 

Equipa de futebol do Clube José Avelino no campo da Quinta das Farias do Clube Desportivo da Cova da Piedade.
almaDalmada

E foi assim que ao longo de sucessivos anos da vida do clube. pisaram o palco do "José Avelino". alguns dos maiores nomes da cena teatral portuguesa da altura com destaque para: Chaby Pinheiro. Lucília Simões, Alves da Cunha. Maria Matos, Ilda Stichini. Adelina Fernandes. Palmira Bastos. Amélia Rey Colaço. Robles Monteiro e por último, Amália Rodrigues. os quais pelo facto da sua actuação naquele palco, tiveram direito cada um deles, a uma placa comemorativa que era colocada nas paredes do vestíbulo do Clube. 

Clube Recreativo José Avelino Rainha da Micarême ladeada pelas duas damas de honor e restantes acompanhantes,1953.
Luís Bayó Veiga, Boletim "O Pharol" n° 27, 2015

Sendo desde a sua origem um clube elitista e aristocrata (os seus sócios eram normalmente comerciantes, industriais, funcionários públicos e militares entre outros), a admissão de novos sócios era portanto muito selectiva.

Clube Recreativo José Avelino.
Mario Feio

Ao longo do correr do tempo, e das suas sucessivas Direcções, o Clube José Avelino fazia juz de procurar manter sempre uma exemplar organização e qualidade dos eventos que programava para cada ano e mostrar-se cumpridor dos seus compromissos assumidos.

Portão de acesso ao Clube José Avelino.

Mas o tempo passa e avança, os hábitos mudam. e a chama do associativismo foi empalidecendo com o desaparecimento dos seus mais nobres empreendedores cacilhenses... A partir do limiar da década de 50, o Clube José Avelino foi entrando em decadência. (2)


(1) Almada e o povo na obra de Romeu Correia, Jornal de Letras e Artes n° 14, 3 de janeiro 1962
cf. Almada na História, Boletim de Fontes Documentais, n° 30
(2) Luís Bayó Veiga, Boletim "O Pharol" n° 14, 2010

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