quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

António Madeira (Isto é Almada), o "cantor-vendedor"

No momento em que esta notícia sai a público, já se encontra à venda nas principais discotecas do País o 5.° disco de António Madeira, para a marca Parlophone, que reúne, com acompanhamento do conjunto de Jorge Machado, as composições "Isto é Almada", "Costa da Caparica", "Fado Cacilhas" e "Eu Sou Assim".

António Madeira em Almada, 1964.
almaDalmada

Como se depreende, o disco constitui um cartaz de propaganda de Almada sendo patrocinado pelo Turismo local.

António Madeira é um cantor pouco conhecidodo público porque a sua maior actividade é vender sapatos  nos três estabelecimentos de que é proprietário em Almada, o que lhe rouba tempo para se poder apresentar nas numerosas festas para que é convidado. Mas, sobre o seu valor, julgamos que fala melhor do que as nossas palavras o lançamento do seu 5.° disco comercial, proeza que muitas "vedetas" se não podem ufanar.



Muito novo, amigo da familia, António Madeira tem aspirações simples mas seguras: apresentar-se na televisão, gravar novos discos e ampliar as instalações das suas sapatarias. Porque ele gosta, efectivamente, de vender sapatos e de cantar, sem preferência de uma sobre a outra actividade, ainda que tão díspares.

Por isso, António Madeira é, bem, o "cantor-vendedor". (1)


(1) almaDalmada (imprensa/desconhecido em 1964)

Artigos relacionados:
António Madeira, eu sou assim
António Madeira, o concurso da rainha do balcão
António Madeira, Ondéarte

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

À margem do rio, Manuel Tavares Junior

Manuel Tavares é uma figura algo lendária, porque pouco se sabe sobre a sua vida pessoal, exceto que nasceu no Couto de Cucujães (concelho de Oliveira de Azeméis), no ano de 1911, e que faleceu no ano de 1974.

Vista do Tejo e de Lisboa a partir de Almada, Manuel Tavares Junior, 1963.

... distinguiu-se como paisagista, tema em que se destacam as marinhas e a ria, e também como retratista de trechos citadinos. Das muitas exposições que realizou individualmente há que realçar as que tiveram lugar em Lisboa, no ano de 1942, em Almada (1961), Coimbra (1936).

Cista de Cacilhas (Ginjal), Manuel Tavares, 1950.
Cabral Moncada Leilões

Das mostras coletivas em que participou, os destaques vão para as ocorridas na Sociedade Nacional de Belas Artes de Lisboa (1950 e 1952), a primeira Exposição dos Artistas de Aveiro (1970), a Grande Exposição dos Artistas Portugueses (1935) e ainda exposições realizadas em Lisboa (1952, 1966 e 1974), Almada (1961), Faro (1968), Matosinhos (1953 e 1963) e Porto (1935).


Olho de Boi - Beira Tejo, Manuel Tavares, 1960
Cabral Moncada Leilões

Manuel Tavares está representado em diversos museus, nomeadamente no Museu Soares dos Reis (Porto), de Aveiro, de Beja, de Faro e de Matosinhos, bem como em coleções privadas, portuguesas como estrangeiras. (1)


(1) Cardoso Ferreira, Aveirense ilustre – Manuel Tavares, aguarelista de renome internacional, 2017

Artigo relacionado:
À margem do mar, Manuel Tavares Junior

sábado, 30 de outubro de 2021

Canoa...

Canoa de vela erguida
Que vens do Cais da Ribeira
Gaivota, que anda perdida
Sem encontrar companheira


Canoa afundada, Adriano Costa, 1923.
Museu de Lisboa

O vento sopra nas fragas
O Sol parece um morango
E o Tejo baila com as vagas
A ensaiar um fandango


Canoa
Conheces bem
Quando há norte pela proa
Quantas docas tem Lisboa
E as muralhas que ela tem

Canoa
Por onde vais?
Se algum barco te abalroa
Nunca mais voltas ao cais
Nunca, nunca, nunca mais


Canoa de vela panda
Que vens da boca da barra
E trazes na aragem branda
Gemidos de uma guitarra




Teu arrais prendeu a vela
E se adormeceu, deixa-lo
Agora muita cautela
Não vá o mar acordá-lo


Canoa
Conheces bem
Quando há norte pela proa
Quantas docas tem Lisboa
E as muralhas que ela tem


Canoa, por onde vais?
Quando há norte pela proa
Nunca mais voltas ao cais
Nunca, nunca, nunca mais

Canoa, por onde vais?
Quando há norte pela proa
Nunca mais voltas ao cais
Nunca, nunca, nunca mais (1)


(1) Canoas do Tejo, Frederico de Brito, Carlos do Carmo

Informação relacionada:
Barcos miúdos de Lisboa

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Ode marítima (perto do outro lado do rio)

Lisboa. Vista panorâmica (8049 ed. desc.).
Delcampe

Ah, como pude eu pensar, sonhar aquelas coisas?
Que longe estou do que fui há uns momentos!
Histeria das sensações — ora estas, ora as opostas!
Na loura manhã que se ergue, como o meu ouvido só escolhe
As coisas de acordo com esta emoção — o marulho das águas,
O marulho leve das águas do rio de encontro aos cais...,
A vela passando perto do outro lado do rio,
Os montes longínquos, dum azul japonês,
As casas de Almada,
E o que há de suavidade e de infância na hora matutina!... (1)
.  

Vista de Lisboa e Tejo (ed. desc.).
Delcampe


(1) Álvaro de Campos, Ode marítima, 1ª publ. in Orpheu, nº2. Lisboa: Abr.-Jun. 1915

domingo, 22 de agosto de 2021

Agostinheida

Contava já o heroe sette janeiros, Quando uma noite em sonhos lhe apparece O seu mentor na forma de um gigante; E, abrindo ambas as mãos, que, se as erguesse Com ellas até á lua chegaria, Mostrou-lhe n'uma um burro, e n'outra um barco, E disse, quasi em voz de uma buzina:

"Levanta-te, José, e vem servir-me; Levanta-te, José".  

Vista da praia de Cacilhas e panorâmica de Lisboa na década de 1800 (detalhe) por Henri l`Évêque.
Arquivo dos Portos de Lisboa, Setúbal e Sesimbra

Este era o nome Com que o tinham á pressa baptisado. O heroe, abuzinado, arripiou-se, E, ainda mais que da voz, pasmou do gesto; Porém não se calou, que n'essa idade Já tinha para tudo audácia e lábia! 

E, no tom da malicia, mui pacato Responde "Quem sou eu que tão pequeno Possa ser servidor d'essa Grandeza. E muito mais sem eu saber quem sirvo".

Vista da praia de Cacilhas e panorâmica de Lisboa na década de 1800 (detalhe) por Henri l`Évêque.
Arquivo dos Portos de Lisboa, Setúbal e Sesimbra

"Levanta-te, José (insta o gigante) Tu podes, é meu gosto que me sirvas, E será teu proveito se o fizeres Sou Génio grande de um lugar pequeno Que é sobre o Tejo situado, em frente Da formosa cidade de Lisboa";

Vista da praia de Cacilhas e panorâmica de Lisboa na década de 1800 (detalhe) por Henri l`Évêque.
Arquivo dos Portos de Lisboa, Setúbal e Sesimbra

"Cacilhas é seu nome, e mui famoso Pelas grandes funcções de burricada Que no tempo em que os Zephyros campeão Dalli se fazem annualmente á Costa; Alli não estão nunca em ócio os burros, Que a diária carreira das faluas Continuamente leva, e traz, e torna Com folgazona turba cavalgante, Que deixa bons tostões nos taes folguedos:" 

Vista da praia de Cacilhas e panorâmica de Lisboa na década de 1800 (detalhe) por Henri l`Évêque.
Arquivo dos Portos de Lisboa, Setúbal e Sesimbra

"Para alli te encaminha, que alli devera Começar teus trabalhos, e fadigas; E d'alli partirás para Lisboa, Onde se ha de acabar tua fortuna, E nas boccas do mundo andar teu nome".  (1)

Foi tangendo os burros em que pesadamente se transportavam ao vir de Lisboa, que os barrigudos frades de S. Domingos conheceram em Cacilhas a José Agostinho de Macedo, a quem se affeiçoaram, que recolheram, e que por fim educaram como noviço nas escolas da communidade.

Vista da praia de Cacilhas e panorâmica de Lisboa na década de 1800 por Henri l`Évêque.
Arquivo dos Portos de Lisboa, Setúbal e Sesimbra

O padre José Agostinho, tirado de traz dos burros, da carreira de Cacilhas á Cova da Piedade, para a carreira das lettras, foi, como se sabe, um dos mais eruditos escriptores e um dos primeiros litteratos do começo d'este século. (2)



Artigo relacionado:

terça-feira, 6 de julho de 2021

Imaginário do 23 de julho de 1833 com lugares, tropas e uniformes

O combate do dia 23 de julho de 1833, todos os anos recordamos a história. O cortejo cívico dos veteranos das campanhas da liberade, que celebrava esta e outras vitórias em 1880 já não existia, o passado foi sendo progressivamente esquecido. Recentemente duas publicações vieram relembrar e enriquecer o conhecimento dos locais da acção e das gentes que nesse acontecimento interviram :
Recontemos pois a mesma história com o suporte destas novas referências.

ooOoo

Atravessou-se no dia 23 uma planície que separa Azeitão do logar d'Amora, e onde o inimigo se devia ter postado. Descobrirão-se então os seus Postos avançados, mas retirarão-se á aproximação do Duque; e os paisanos trouxerão á noticia de que o inimigo tinha tomado posição sobre dois montes sobranceiros ao caminho que conduz a Almada, e que alli tinhão estabellecido uma Linha d'Atiradores. 
 
Carta Topográfica Militar da Península de Setúbal (detalhe), José Maria das Neves Costa, 1813.
Instituto Geográfico do Exército

O Duque fez sahir os seus Caçadores em ambos os flancos da sua columna, e continuou a marcha, retirando-se os Atiradores do inimigo de outeiro em outeiro, até á entrada do desfiladeiro que pela Barreira do Alfeite, se abre no Valle da Piedade.

Duque da Terceira (detalhe) por John Simpson, após 1834.
Parques de Sintra

Este valle que se estende até á margem do Tejo por detráz de Cacilhas, he fechado da parte do Sul pelas Alturas d'Almada, e abre em um pequeno espaço, onde se entra de um lado pelo caminho por onde o Duque avançava, e do outro pelos caminhos do Pragal, á esquerda; d' Almada no centro, e de Cacilhas, por Mutella, da direita.

Esboços de Paizages d'Mediterraneo e Lisboa, 30.
[Mutela, Caramujo], Luiz Gonzaga Pereira, 1809.
Museu de Lisboa

Para alli o inimigo, conhecendo a sua superioridade em cavallaria, procurou atrahir a Columna, a fim de se poder aproveitar d'aquella arma. O Duque, que conhecia o terreno, antevio e estava preparado, para esta manobra, o que era confirmado pela pouca resistência até então opposta á sua marcha.

Continuou comtudo, e apenas os seus flanqueadores, que se achaváo estendidos pelo vale tiverão desalojado os do inimigo, e a testa da Columna entrado pela estrada do Alfeite, que se ouvio ao longe o estrépito de cavallaria, e logo depois, dois esquadrões, pelo caminho de Cacilhas o carregarão com uma impetuosidade que lhes devia ter assegurado a victoria.


A Infanteria Portugueza tem horror á cavallaria, e principiávão a vaciliar, porem o Duque e o seu Estado-Maior indo á frente da Columna, pelo seu nobre exemplo e exhortação para estarem firmes, restaurarão a confiança; e quando o inimigo se aproximava da Columna, uma descarga lançou por terra os guias e cavallos da frente, e os que sobreviverão fugirão em grande confusão... 

O Duque proseguio no seu feliz êxito com vigor, e deixando o 6.° d'lnfanteria para cobrir os caminhos do Pragal e Almada, avançou com o resto das suas tropas em direitura a Cacilhas, a fim de cortar a retirada ao inimigo, tendo feito occupar as avenidas que conduzem a Almada por varias Companhias do 3.° d'Infanteria

O inimigo tinha duas peças de campanha á entrada do largo de Mutella; mas o 2.° e 3.° de Caçadores, desprezando o seu fogo, armarão baionetas e tomarão a Artilheria; e fazendo avançar a testa da Colunma, o Duque penetrou já depois de noite até ao Caes de Cacilhas. 


2.° Sargento de Caçadores 2 e Cabo de Caçadores 5.
Sérgio Veludo Coelho, Guerra Civil 1828-1834, tropas e uniformes

He absolutamente impossivel descrever a desordem que teve logar n'esta occasião. Infanteria , Cavallaria, e bagagens , — Generaes, Officiaes, e Soldados , se precipitavão dentro das embarcações.


Esboços de Paizages d'Mediterraneo e Lisboa, 28.
Cacilhas, Luiz Gonzaga Pereira, 1809.
Museu de Lisboa

A escuridão da noite augmentava a confusão; misturárão-se os vencedores com os vencidos; e, muito em honra dos primeiros, pouparão o inimigo que já não resistia; meia hora depois ambos os contrários já erão amigos.

Vista nascente de Almada e Cacilhas junto ao rio Tejo (detalhe), Charles Landseer, 1825.
Instituto Moreira Salles

Como a Fortaleza d'Almada se não tinha ainda rendido, o Duque fez contramarchar as suas tropas, deixando uma guarda no Caes de Cacilhas, e marchou para a entrada d'aquella Villa; mas desejando poupar quanto fosse possivel as suas tropas e o inimigo vencido, e evitar a desordem inseparável de uma entrada forçada n'uma Cidade em uma escura noite, fez alli alto, e o General Schwalbach, que commandava a testa da Columna, mandou o seu Ajudante-de-campo, o Alferes Jorge, com bandeira parlamenlar para intimar á fortaleza que se rendesse.

Esboços de Paizages d'Mediterraneo e Lisboa, 27.
Montanha da Villa de Almada, Luiz Gonzaga Pereira, 1809.
Museu de Lisboa

Este foi desgraçadamente encontrado por alguns da Cavallaria Miguelista, e por elles mortalmente ferido. O Duque permaneceo na sua posição, e no dia seguinte ao amanhecer rendêo-se Almada, e a guarnição depôz as armas na ezplanada. 

A perda do inimigo n'esta acção não poderia ter sido menos de mil homens em mortos, feridos, e afogados; Telles Jordão, que era o Commandante foi do numero dos primeiros; elle merecia bem o sen destino. (1)

*
*     *

O duque viera sempre a marchas forçadas, e quando Telles Jordão menos o pensava, estava elle proximo da Cova da Piedade. Restava reforçar bem os flancos, e esperar o inimigo na Cova com o grosso das tropas.

Vista Geral — Cova da Piedade ed. desc., década de 1900

Este plano bem sustentado tornava critica a posição do duque, que não tinha para oppor aos 5:000 homens de tropas folgadas de Telles Jordão mais do que l:500, compostos dos pequenos corpos de infanteria 3 e 6, caçadores 2 e 3, poucas dezenas de academicos com duas pequenas peças ás costas de machos, e 47 lanceiros inglezes, tão bem montados como costumam apparecer os mouros na Praça do Salitre; e toda esta tropa quasi descalça, queimada pelo intenso sol de julho, e ralada de fadiga pelas não interrompidas marchas forçadas. (2)

Lanceiros de Bacon, mais tarde Lanceiros da rainha.
Sérgio Veludo Coelho, Guerra Civil 1828-1834, tropas e uniformes



Artigos relacionados:
O Caramujo, romance histórico (13/18), combate
23 de julho de 1833, a Batalha da Cova da Piedade, por Charles Napier
Derrota dos Miguelistas em Cacilhas

Wikipédia:
Duque da Terceira
António José de Sousa Manuel de Meneses Severim de Noronha

Mais informação:
Elucidário Nobiliarchico, Apontamentos àcêrca das Bandeiras e Estandartes regimentais...
Arquivo Municipal do Porto (Documentos com referência a Cerco do Porto...)
Portuguese Civil Wars (facebook)
Portuguese Civil Wars (facebook): files
Portuguese Civil Wars (facebook): photos

quarta-feira, 12 de maio de 2021

A fotografia aérea no levantamento topográfico de 1938

Levantamento topográfico em 1938 pela Sociedade Portuguesa de Levantamentos Aéreos, Lda. compreendendo a margem norte do Tejo (concelhos de Lisboa e Oeiras) e a margem Sul do Tejo (concelhos de Almada, Seixal e Barreiro).

Sociedade Portuguesa de Levantamentos Aéreos Lda .
Aero Club de Portugal, Revista do Ar n.° 1

Cartas topográficas com escalas 1:1000; 1:2500 e 1:5000 e fotografias aéreas a preto e branco. (1)

Levantamento topográfico em 1938 esquema da divisão em cartas.
Arquivo dos Portos de Lisboa, Setúbal e Sesimbra


A SPLAL teve como sócio fundador e director técnico o General Norton de Matos, personalidade notável da primeira metade do século XX, director dos Serviços de Geodesia e Agrimensura da Índia de 1890 a 1900.

Sociedade Portuguesa de Levantamentos Aéreos Lda .
Aero Club de Portugal, Revista do Ar n.° 1

Outras figuras nacional, como o Capitão aviador Arantes Pedroso, os engenheiros Ferraro Vaz, Carvalho Xerez, Santos Silva, entre outros, decidiram participar também na organização desta nova empresa particular sediada em Lisboa.

Sociedade Portuguesa de Levantamentos Aéreos Lda.
Restos de Colecção

Instalada na Rua da Escola Politécnica, a empresa possuia aviação própria para fotografia aérea, câmaras aéreas próprias e toda a aparelhagem para restituição e elaboração de cartas por métodos fotogramétricos.

 Messerschmitt M 18 "Pato Marreco" utilizado pela SPLAL em voos aerofotogramétricos.
(CS-AAH ex-D-1860)
Boletim do IGeoE n.° 72, novembro 2010

Durante o final da década de 30 e ao longo de quase toda a década de 40, a SPLAL foi juntamente com a E.N.E.T. adjudicatário de trabalhos de natureza fotogramétrica de organismos públicos como os Serviços Cartográficos do Exército e o Instituto Geográfico Cadastral . (2)

Grupo de trabalho da S.P.L.A.L. e plataforma aérea (avião) para levantamentos fotogramétricos.
Vôa Portugal - O Portal da Aviação Portuguesa, 2013.
Desenvolvimento de um SIG para gestão portuária – O caso do Porto de Lisboa

ooOoo

Vistas aéreas do levantamento topográfico em 1938 no concelho de Almada
Arquivo dos Portos de Lisboa, Setúbal e Sesimbra

Torre do Bugio
Elementos toponímicos/urbanísticos:
Mar da Calha;
Pequeno Canal ou Golada do Tejo;
Bico de Pato.

Torre do Bugio

Trafaria

Trafaria

Caparica
Elementos toponímicos/urbanísticos:
Murfacém;
Porto dos Buchos;
Quinta do Portinho;
Portinho da Costa.

Trafaria, Porto dos Buchos, Portinho da Costa.

Caparica

Caparica, Portinho da Costa, Enseada da Paulina.

Caparica
Elementos toponímicos/urbanísticos:
Enseada da Paulina;
Torre Velha;
Lazareto;
Porto Brandão.

Caparica, Enseada da Paulina, Porto Brandão.

Caparica

Caparica, Banática.

Pragal/Almada
Elementos toponímicos/urbanísticos:
Alfazina;
Montalvão;
Palença-de-Baixo;
Arrábida.

Almada, Palença.

Almada/Cacilhas

Almada, Arialva, Olho-de-Boi, Ginjal.

Almada/Cacilhas
Elementos toponímicos/urbanísticos:
Estrada da Fonte da Pipa;
Fonte da Pipa;
Forte/Castelo de Almada;
Quinta do Almaraz;
Mercado de Almada (inaugurado em 1937);
Quinta dos Serras.

Almada (Olho-de-Boi), Ginjal (Cacilhas).

Cacilhas

Cacilhas, Ginjal, Margueira.

Cacilhas/Cova da Piedade
Elementos toponímicos/urbanísticos:
Quinta da Alegria:
Quinta do Furadouro;
Ponta da Rocha;
Caranguejais;
Estrada da Mutela;
Fábrica de cortiça Cabruja & Cabruja Lda.;
Caldeira do moinho de maré da Mutela.

Cacilhas (Margueira), Cova da Piedade (Mutela).

Cova da Piedade
Elementos toponímicos/urbanísticos:
Caranguejais;
Estrada da Mutela;
Fábrica de cortiça Cabruja & Cabruja Lda.;
Caldeira do moinho de maré da Mutela;
Cais da Farinha;
Jardim da Cova da Piedade.

Cova da Piedade, Mutela, Caramujo.

Cova da Piedade
Elementos toponímicos/urbanísticos:
Quinta do Pombal;
Estrada do Pombal (Rua das Rosas do Pombal);
Estrada Cova da Piedade/S. Sebastião (Rua Dr. Oliveira Salazar).

Cova da Piedade, Mutela, Caramujo.

Cova da Piedade/Laranjeiro
Elementos toponímicos/urbanísticos:
Romeira;
Praia Pequena;
Quinta do Outeiro;
Palácio do Alfeite.

Cova da Piedade (Caramujo), Laranjeiro (Alfeite).


(1) Levantamento topográfico realizado em 1938...
(2) Recuperação Radio-Geométrica e Catalogação Digital de Cobert

Mais informação:
Boletim do IGeoE n.° 72, novembro 2010
Outras vistas aéreas nos Arquivo dos Portos de Lisboa, Setúbal e Sesimbra
Aero Club de Portugal, Revista do Ar
Desenvolvimento de um SIG para gestão portuária –O caso do Porto de Lisboa

Outros levantamentos:
RAF 1947

quarta-feira, 28 de abril de 2021

João Black (1872-1955)

Na terra natal está recordado numa modesta lápida, no restaurante Pancão, que, juntamente com o seu retrato, reza o seguinte:

Sala João Black
Poeta Almadense
Conterrâneos e Amigos
28/9/1950

Cabo da vila de Almada no extremo da antiga Rua Direita.
Casa de pasto e retiro, José Pancão (à direita na foto) e adega das Andorinhas localzada na antiga Ermida de S. Sebastião.
Museu da Cidade de Almada

De seu nome completo João Salustiano Monteiro, nasceu em Almada a 28 de setembro de 1872 e foi urna figura com muito talento, honradez ie popularidade, ao longo dos seus 83 anos de existência.

Ouvindo narrar a sua história, tão rica em acidentes e infortúnios, mas que jamais o vergaram no rumo traçado desde criança, sentimo--nos diante de uma pequena força da Natureza. o poeta, o trabalhador e o homem são talhados na mesma peça, fadados e cultivados para a luta do dia-a-dia.

Há na sua Musa cantos de alegria, hinos de esperança e de fraternidade e que belos na sua singeleza! —, mas assomam também vergastadas cruéis numa sociedade iníqua e mentirosa, a que ele nunca serviu. Quem coligir os seus versos e artigos, insertos em folhas e jornais de dezenas de anos, compreenderá este homem de Almada, de muitas e variadas profissões, sempre corajoso, leal e grato entre os seus contemporâneos [...]

Muito cedo ficou órfão de pai e de mãe, sendo recolhido por um tio. Parente de poucos escrúpulos e desumano, que logo o não quis sustentar. Num dia de temporal, esse pô-lo na rua, quase sem roupa e descalço, à mercê do acaso.

Foi, então, que um pobre operário de O Puritano o recolheu e 1he deu umas roupas nando-ihe pouco depois o Conhecimento edeu umas roupas, proporcionando-lhe pouco depois o conhecimento da bela arte gráfica e do jornalismo, como o próprio João Black nos confirma neste relato:

"O Puritano, semanário que se publicou em Almada aí por alturas de 1888 a 1898, sob a direcção política de José Carlos de Carvalho Pessoa, que sucedeu dois ános depois a Jaime Artur da Costa Pinto, deputado pelo círculo, foi o meu tirocínio para o culto das letras. De compositor passei a reudactor, a secretário, a ser tudo, enfim, que constitui a engrenagem dum jornal de província, incluindo a revisão, a impressão, a factura do correio e todo o demais expediente.

Fui um Faz-tudo, explorado até à última gota de suor, mas beneficiado por essa mesma exploração, pois me deu margem a desenvolver a minha mentalidade e a tornar-me apto a ingressar em jornais de grande envergadura, como "O Século", onde entrei em 1892, pela mão de Eugénio da Silveira e de que era director o saudoso democrata Dr. Magalhães Lima (1850-1928)."

Aluno da sociedade A Voz do Operário, entrou mais tarde para o seu quadro gráfico. Nesta benemérita instituição, quase um prolongamento do seu lar, desempenhou as mais variadas funções. Tipógrafo, repórter, bibliotecário, empregado de escritório, director por fim, aposentado. Mas anos antes, e durante a sua juventude, fora pescador e até artista de circo...

Cantador de fado dos mais populares do seu tempo, tudo quanto cantava era de sua lavra. De centenas de quadras, transcrevemos esta, ao ãcaso:

A Honra é virtude morta
Se a Fome for atrás dela.
Quando a Fome entrar a porta
Sai a Honra p'la janela.


O órgão noticioso do anarco-sindicalismo A Batalha, que se publicou entre 1919 e 1927, tem um hino revolucionário [v. artigo dedicado] cuja letra é da autoria de João Black.

Entre as amizades que contraiu, e foram imensas, destacam-se as dos poetas Guerra Junqueiro (1850-1923) e Angelina Vidal (1858-1917), que muito o estimaram e admiravam.

Nascido em 1872, tinha 19 anos quando do ultimatum inglês a D. Carics: trinta e oito, quando da proclamação da república; quarenta e sete, quando saiu o primeiro número de A Batalha; cinquenta anos, quando, em 1921, foi criado o Partido Comunista Português. João Black foi um anarquista, um poeta operário, que se sentia solidário com todas as misérias e injustiças do mundo.

João Black (1872-1955)
Romeu Correia, Homens e Mulheres vinculados às terras de Almada

E lutou sempre, como podia e sentia... Sobre, João Black, homem-político, diz-nos César Nogueira no elogio fúnebre já citado [A Voz do Operário, 1 de fevereiro 1956]:

"Não tinha laivos de revolucionário. Era ponderado e educador. Nas lides do seu sindicato deu às artes gráficas o seu melhor préstimo. Nos congressos operários, especialmente aquele em que se celebrou em Tomar, em 1914, prestou uma boa colaboração de harmonia e solidariedade, devido às diversas correntes associativas que se manifestavam.

No extinto Partido Socialista colaborou na sua Imprensa. fez a sua judiciosa propaganda, assistiu aos seus congressos e foi eleito membro do seu Conselho Central (1917). Foi seu candidato nas eleições municipais, que se celebraram em 1917, obtendo 1876 votos.

Também foi membro da Junta da Freguesia de Santa Engrácia, onde conquistou, pelo seu lídimo c pata dos seus colegas democráticos e arácter, a sim-de todos os paroquianos."

Na inauguração da cantina escolar d'A Voz do Operário recitou esta quedra, mais tarde fixada num artístico azulejo:


Esta cantina escolar
É mais um belo padrão
Em que a Voz faz realçar
A causa da instrução


Casado com D. Bernardina Adelaide Azevedo, faleceu em Lisboa, em 18 de dezembro de 1955. (1)


(1) Romeu Correia, Homens e Mulheres vinculados às terras de Almada... 1978

Informação diversa:
Canções libertárias

Fado republicano, João Black (1872-1955)

Foi na publicação A Voz do Operário que teve seu cargo urna secção de título Carteira do Operário que durou entre 1905 e 1920 e, na qual foram publicados inúmeros textos de poetas amadores com temáticas de cariz social, e naturalmente textos que o próprio João Black escreveu para essa coluna.

Sociedade de Instrução e Beneficência A Voz do Operário.
Ephemera JPP

A ligação de João Black com o fado começa por volta do ano de 1883, quando na infância começa a cantar. Apenas cinto anos mais tarde já percorria as sociedades recreativas para ouvir e interpretar os seus fados. Posteriormeme começa a procurar utilizar os versos cantados para transmitir ideais de carácter político-ideológico.

João Black, A Cançäo de Portugal n° 19, agosto de 1916
Museu do Fado

Em entrevista ao jornal Guitarra de Portugal, ern 1923, o próprio João Black relata episódios da sua vivência fadista da viragem do século e revela a formação de um terceto, com dois outros grandes nomes do universo fadista, Avelino de Sousa e António Rosa, que se apresentava em clubes e associações.


Nas palavras do próprio identificamos um propósito bem definido desta vertente de abordagem ao fado que temos vindo a retratar:

"Conheciamos a índole do nosso povo e sabendo-o falho de educaplo, mas muito inclinado ao fado, resolvemos fazer pelo verso cantado uma intensa propaganda de sociologia."

João Black fez também uma "peregrinação" pelo Alentejo, acompanhado por Júlio Janota, ambos cantando as mensegens de justiça social e de ataque ao regime monárquico [...]

João Black, Reliquias do fado 1936.
Fadoteca

O seu envolvimento com as ternáficas fadistas manteve-se ao longo de toda a sua vida, fazendo parte de comissões de homenagem, como a realizada para o guitarrista Luís Carlos de Silve (Petrolino)., em 1931 ou em festas de beneficiência.


Poema comemorativo do 50.° aniversário de A Voz do Operário
Casa Comum

Em Julho de 1946 foi também ele objecto de uma sentida homenagem,. Avelino de Sousa o presenteou com estes versos:

Quando o Fado não era um "ganha pão",
Mas um terno motivo espiritval,
— Hóstia de Luz na doce comunhão,
Do Povo, com a Alma nacional...


De entre os nomes mais altos da Canção
Mais popular em todo o Portugal,
Um houve que, de firma mais real,
Se destacou e teve vibração.

Um nome de poeta consagrado
E trovador que soube honrar o Fado
Em verso de divino sentimento!


E ésse nome, que mer'ceu tal destaque
Foi o teu, camarada João Black,
Que o conquistaste a golpes de Talento. (1)



(1) Fado 1910, CML/EGEAC, Museu do Fado, Lisboa, 2010

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Canções libertárias

sábado, 24 de abril de 2021

Fado anarquista, João Black (1872-1955)

Alexandre Black, avô do aviador civil Carlos Black, possuía uns aterros em Cacilhas, onde meu pai exercia as funções de guarda. Foi ele quem insistiu com o meu pai para me meter na escola, tendo eu já sete anos nessa altura, comprometendo-se ele a pagar as, propinas, dada a situação de pobreza em que vivíamos.

João Black (1872-1955)
Romeu Correia, Homens e Mulheres vinculados às terras de Almada

Graças à sua extrema bondade, cheguei a cursar o 2.° ano do Liceu do Carmo, findo o qual resolvi não continuar por ter sido vítima duma injustiça do júri. Enveredando depois pelo campo tipográfico e jornalístico e prestando fervoroso culto às Musas, resolvi adoptar o pseudónimo de João Black em homenagem à memória do ínclito cidadão a quem devia a minha instrução e a preparação para enfrentar os graves problemas da vida.

Cometendo um acto de justiça, julgo ter dado assim uma prova da minha gratidão. (1)



Ciência humanitária
Um símbolo de altruísmo
Tem como fim condenar
Deus, pátria e militarismo


O mundo há-de assitir
Aos pobres livres do jugo
Espezinhar é o futuro
Da burguesia a surgir


E depois quando existir,
O ideal...
Esplendor e bem-estar
Incitar o patriotismo
A miséria,
O anarquismo tem por base condenar

Mas o povo subjugado
Esfacela-se sob a tortura
Quando o seu mal tinha cura
O ideal desejado

Viver na prisão
Nas garras dos inimigos
Ai ela bem cai no abismo
A fanática humanidade
Pois fia-se nesta trindade
Deus, pátria e militarismo (2)


(1) César Nogueira, elogio necrológico de João Black, A Voz Operária, 1 de fevereiro 1956 cf.  Romeu Correia, Homens e Mulheres vinculados às terras de Almada... 1978
(2) Carlos Loures, A face anarquista do fado

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Canções libertárias