segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Flor de Amendoeira, Marina Algarvia, Idalécia Cabrita Costa (1929-2010)

Carta manuscrita de Idalécia Cabrita Costa a Maria Lamas, datada de 3 de Maio de 1972. Biblioteca Nacional de Portugal, Espólio E-28, caixa 6, referência 1.237. Idalécia Costa publicou, com o pseudónimo de Marina Algarvia, os seguintes livros: Treze Dias com Flor de Amendoeira (1968); O Gato da Quinta Azul (1974); O Sol (1978); O Gato de Caça e o Gato de Raça (1980); A Formiga Ladina (1985); Saltarico e o Copinho de Prata (1985); O Rato e o Rouxinol (1986); O Coelhinho e o Pico (1990) e As Aventuras da Patinha Mimi (1992).

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Idalécia Cabrita Costa, que assina as suas cartas como Maria Carlota, escreve a Maria Lamas, que se encontra em S. Mamede de Infesta, a expor-lhe os seus problemas e a agradecer o encontro entre ambas:

Os meus agradecimentos pela entrevista em meu poder desde sábado e que li num fôlego, tão desejosa estava dela e tanto me interessou. Creio muito breve poder informar a Senhora Dona Maria Lamas da data da sua publicação e, se ainda se encontrar em S. Mamede, eu própria terei o cuidado de providenciar para que V. Ex.a a receba aí.

Idalécia Costa
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Não posso deixar de me sentir cada vez mais grata pela maneira como me vem tratando e pela possibilidade que me oferece de podermos conversar, se eu quiser. Pois como poderei não querer estar com a Senhora Dona Maria Lamas? Como poderei não desejar escutá-la sobre o jornalismo, a mulher, a criança...? Nunca ousaria, sim, pedi-lo. Porquê? Por tudo: a minha insignificância, a admiração e respeito que o nome «Maria Lamas» me infunde, o receio de não saber corresponder, o medo de pessoalmente desagradar...

É verdade, por tudo.

Pode agora a Senhora Dona Maria Lamas adivinhar o que terei sentido por me dizer "sinto desejo de conversar consigo e pressinto que vamos ter muitas coisas a dizer uma à outra, acerca...". Sinceramente, Senhora Dona Maria Lamas, esperava muito da sua bondade, mas tanto não. 

Vou esperar – ansiosa mas sem pressa, será quando a Senhora Dona Maria Lamas puder – a sua chamada, mas quero já dizer que a mulher e a criança são temas que me interessam profundamente e que, no meu jornalismo modesto e amador, tenho referido muitas vezes, mais no «Jornal do Algarve» do que em «República». 

Igual acontece com o livro infantil, género literário em que dei grande colaboração (grande em presenças porque escrevi bastante, não em qualidade) à «República dos Miúdos», entre 1950 e 1960, com os pseudónimos de Flor de Amendoeira e Marina Algarvia. Também com este último pseudónimo publiquei um livro de contos para crianças, mas um livro sem "história", ou antes com uma história muito triste: dois anos e meio após a sua publicação, o editor vendeu-o sem me dar conhecimento, ao quilo, a um livreiro de Lisboa.
  
Tomei-lhe já muito tempo, Senhora Dona Maria Lamas e peço me desculpe, mas senti que tinha de falar um bocadinho de mim para que, sabendo V. Excelência o meu pouco ou nenhum merecimento no campo das letras, não faça de mim uma ideia que a minha presença destrua. 

Muito obrigada pela paciência com que me leu e os meus cumprimentos de profundo respeito e gratidão.


Maria Carlota