sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Conductor: rebocador (e cacilheiro) a vapor

Luís Ascêncio Tomasini (1823-1902) é o nome desse pintor, que foi, de profissão, capitão de navios e nos deixou uma obra notável. A tela que reproduzimos, está datada de 1887 e tem um interesse especial porque representa uma cena que não temos visto na pintura do século XIX.

Rebocador de vapor com o brigue entrando no Tejo (detalhe), Luís Ascêncio Tomasini, 1887.
Museu de Marinha

Como é sabido, a utilização do vapor na propulsão dos navios, constituiu um enorme salto tecnológico, em relação à navegação à vela, porque passou a ser possível fazer viagens cumprindo datas de largada e de chegada, independentemente de haver ou não vento e, mesmo, quando o houvesse, nem sempre era favorável.

Em Portugal tivemos o primeiro navio de passageiros em 1819 mas, na Marinha de Guerra, o vapor só entrou ao serviço em 1833. (1)

* * *

REGATA NO TEJO PROMOVIDA PELA REAL ASSOCIAÇÃO NAVAL

Realisou-se no dia 21 do mez que findou, a regata no Tejo promovida pela Real Associação Naval, conforme é costume nos mais annos, e á obsequiosa collaboraçáo do sr. José Pardal devemos o poder publicar hoje um desenho d'esta festa.

A regata no Tejo no dia 21 de agosto promovida pela Real Associação Naval
(Desenho do natural, pelo artista amador sr. José Pardal)
O Occidente n.° 313, 1 de setembro de 1887

A regata effectuou-se no Dáfundo em presença de sua magestade el-rei D. Luiz, que de bordo do seu yacht de recreio Syrius assistiu ás corridas dos barcos. Muitos vapores, fragatas e barcos de recreio embandeirados conduzindo grande numero de espectadores assistiram á festa.

Viam-se alli o vapor Dragão de S. M. El-rei D. Luiz, os yachts Amelia de S. A. o Principe D. Carlos, o Aura de S. A. o Infante D. Alfonso, e o Gypsy, Surpreza, Gwendoline, Irene, Iris, Gavina, Relampago, Hilda, Ninni, e o escaler a vapor do yacht francez Velox que estava no Tejo com o seu proprietario barão E. Boissard de Bellet, do Havre, que representava o Yacht Club dc França.

Os socios da Real Associação Naval com suas familias iam a bordo do Conductor, onde tocava charanga da armada.  

Vapor de pás Conductor, festival náutico no Tejo 1888/1889.
Museu de Marinha (digital)

Pelas 3 horas principiaram as corridas por duas guigas de quatro remos tripuladas pelos alumnos do collegio Arriaga, sendo a primeira, a Sereia tripulada pelos srs. Raul Borges, Ignacio Avellar, Arthur Fortes e Voga José Gd, tendo por timoneiro a sr.a D. Maria da Camara Arriaga, e a segunda a Attempt, tripulada pelos srs. Alfredo Pereira, Raul Garcia, José de Freitas e Voga José de Sousa, tendo por timoneira a sr.a D. Maria da Gloria Loureiro... (2)

Conductor (1880).
Conductor National Maritime Museum, Greenwich, London

Name: CONDUCTOR
Launched: 1879
Completed: 01/1880
Builder: Joseph T Eltringham, South Shields
Yard Number: 87
Dimensions: 150grt, 31nrt, 117.6 x 19.6 x 10.3ft; (1892: 165grt, 10nrt); (1914: 165grt, 63nrt)
Engines: 2 x SL1cyl (30.5 x 54ins), 90nhp; (1892: 62nhp, 11.5knots)
Engines by: Hepple & Co, South Shields
Propulsion: Paddle
Construction: Iron
Reg Number: 81606


History:
17/01/1880 William Hepple, South Shields; registered at London
01/1880 John Mitchell, Gravesend
07/1880 Frederico G Burnay, Lisbon; registered at Lisbon
19/05/1892 Sunshine Steam Tug Co (Adolph Gottschalk & Joseph Stuart managers), Liverpool
19/05/1892 Registered at Liverpool
03/1901 The Steam Tug Conductor Ltd (Adolph Gottschalk & Joseph Stuart managers), Liverpool
03/1914 Joseph John King & Sons Ltd, Garston
06/1914 William Cooper & Sons Ltd, Widnes
1929 Broken up


Comments: 1881: Stationed at Lisbon, Portugal

29/12/1899: Beached at Egremont, Wallasey, on the Wirral, following a collision

02/01/1900: Refloated and placed in Clover’s Dry Dock at Birkenhead

01/1923: Converted to a dumb dredging barge (151grt, 131nrt) (3)



(1) Revista da Armada n.° 385, abril de 2005
(2) O Occidente n.° 313, 1 de setembro de 1887
(3) Tyne tugs and tug builders

Mais informação:
ALERNAVIOS: «CONDUCTOR»

domingo, 9 de janeiro de 2022

António Madeira, eu sou assim

À frente do Município de que é cabeça tão famosa e a ilustrar o seu passado glorioso, não faltam a Almada, iluminando-lhe os pergaminhos, autênticos testemunhos literários e picturais da grandeza da sua história.

António Madeira, EP Isto é Almada, 1964.
Fonoteca Municipal do Porto

O pincel de alguns artistas nacionais e estrangeiros e a prosa e o verso de vários dos nossos escritores e poetas seiscentistas, além dos descritivos modernos em revistas, "plaquetes" e cromos de divulgação turística, dão colorido relevo à fisionomia da vila-cidade de Cristo Rei.

António Madeira, EP Lisboa, foto António Paixão, 1962.
Fonoteca Municipal do Porto


Não esquecer que o seu cais é o de Cacilhas — o mais belo e movimentado pórtico flúvio-marítimo da margem esquerda do Tejo, aberto, ao Norte, sobre o panorama fantástico da Capital em anfiteatro, e, ao Sul, sobre a vasta paisagem compósita e policró-mica do território da península de Setúbal.



Este novo disco de António Madeira, é concerteza, mais um cartaz gritante da propaganda turística do já famoso concelho de Almada. "Isto é Almada" "Costa da Caparica" e "Fado Cacilhas" vão constituir mais um novo êxito na carreira artística do comer-ciante e cantor Almadense.

A valiosa colaboração da Comissão Municipal de Turismo Almadense, a qual muito contribuiu para esta gravação, deixa-se aqui realçada com a justiça merecida. (1)


(1) Fonoteca Municipal do Porto

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António Madeira (Fado Cacilhas), o concurso da rainha do balcão

O programa radiopublicitário "Ondéarte", uma produção do dinâmico almadense Antónto Madeira, apresenta hoje pelas 20h. aos microfones de Rádio Voz da Lisbaa. na sua rubrica "Jornal Sonoro Almadense", "A coroação da rainha do balcão almadense de 1955" e das duas princesas eleitas.

Cacilhas, Ginjal Vista aérea do Grémio, c. 1960.
OBSERVADOR

No decotrer desta festa simbólica far-se-á a entrega dos prémios ás vencedoras, que foram gentilmente oferecidos por algumas casas comerciais de Almada. A reportagem fotográfica de todos os momentos deste simpático festival radiofónico esttá a cargo do artista da fotografia "Fotex" de Almada, cujos trabalhos serão expostos nas montras deste fotógrafo em Almada e também nas montras da Sapataria Madeira em Almada.

A "rainha do balcão Almadense", é uma simpática caixeirinha de drogaria e tem 19 anos de idade. As princesinhas são elas: a menina Argentina Marques Viegas, de 20 anos, empregada na Cooperativa Almadense, e a menina Maria Lucília Batalha Alves, de 15 anos, empregada de uma casa de ferragens.

Esta foi mais uma grande iniciativa de boa propaganda que Almada fica a dever ao incansavel almadense António Madeira, que é, como se sabe, o proprietátrio da já muito popular sapataria Madeira, de Almada, a qual afirma todas as quintas-feiras ao microfone do programa "Ondéarte", que os seus sapatos não fazem calos nos pés nem rugas nos calcanhares.



Quando perguntam a António Madeira se estava satisfeito com esta sua original ideia em organizar em Almada e todo o seu concelho um concurso deste género, respondeu prontamente:

Sabe, o meu unico fim em vista é fazer propaganda desta linda e risonha Vila de Almada. Nada mais pretendo!

E para terminar, dir-se-á que feliz é a terra que destes filhos tem! (1)


(1) Diário Popular, 2 de junho de 1955

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