quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Interpretação do conto mudo "Em Cacilhas"

Dona Dulce Aragão Salomé
Conegundes Alonso Miranda,
Embarcou n'um vapor do Burnay,
Que sem p'rigo a levou á Outra-Banda.


Pontos nos ii, 27 de setembro de 1888

P'ra zombar das negaças d'um callo
Um gerico tomou d'aluguer:
Que tal como do inglez o cavallo
Desafeito era já de comer,


Pontos nos ii, 27 de setembro de 1888

E em Cacilhas no lombo do onagro
A bojuda Aragão Salome
Faz que o burro tão pôdre, tão magro,
Muito a custo se tenha de pé.


Pontos nos ii, 27 de setembro de 1888

Com tal carga, nas fórmas horrenda,
A alimaria, com visos d'equestre,
Mais parece uma aranha estupenda
Tendo ás costas o globo terrestre.


Pontos nos ii, 27 de setembro de 1888

Curto espaço passára ligeiro,
Quando o triste que os lombos tem pôdres,
Como o burro de Guerra Junqueiro,
"Sob o peso vergou de taes ôdres".


Pontos nos ii, 27 de setembro de 1888

Altos gritos ao dono isto arranca,
Porque o pobre gerico, bem védes,

'stava longe de ser a alavanca, 
Com que o mundo ergueria Archimedes.

Pontos nos ii, 27 de setembro de 1888

E no chão ali fica assapado,
Sem que tal Dona Dulce se importe,
P'ra mostrar que é bem certo o dictado:
— 'Té p'ra burro e preciso haver sorte!

M. Cacir [Maximiano Ricca] (1)



(1)  Pontos nos ii, 4 de outubro de 1888

Artigos relacionados:
O espreitador do mundo novo
Contos rápidos: uma passeata...
O rapaz dos burros (com Angelo Frondoni e Jan Verhas)
Grande passeio à Outra Banda

sábado, 20 de outubro de 2018

Na romaria da Ramalha

No dia seguinte celebrava-se a festa de S. João na capella da quinta da Ramalha, havia procissão, e depois saía a celebrada dança dos pausinhos, assim chamada por levarem os pares uns bordões pintados de vivas cores, com que faziam muitas sortes e passos agradaveis [...] (1)

Uma família piedense na romaria da Ramalha em 25 de junho de 1931.
Da esquerda para a direita, no 1° plano: Maria das Dores Banha; Henrique Banha; Lucrécia das Dores Banha e Ester Banha. No 2° plano, pela mesma ordem: Florêncio Banha; N. N. e Verdum Banha.
A fotografia foi cedida pela D. Lucrécia Banha.
InfoGestNet (SFUAP)

A festa pitoresca da Ramalha, que ocorria nas tardes de 24, — (antes e depois da saída da procissão com o andor de S. João Baptista da ermida de S. Antão, também conhecida por «capela da Ramalha», para Almada), — e de 25 de Junho, era muito concorrida por populares da "Outra Banda", em particular do concelho de Almada, até aos finais da década de 1960.

Famílias da Mutela na romaria da Ramalha em 25 de Junho de 1942.
A imagem ilustra os romeiros da Mutela, em 25 de Junho de 1942, reconhecendo-se, entre outros: João Gomes Silvestre («Marcela»), Emília, Maria Emília Laranjeiro, Maria Luísa, Domingos Teixeira, Sebastião Baptista, Cidalina Baptista, Rosa Pais Silvestre, Bernardino Ferreira Gomes Silvestre, Germano, João Peres, Laura "Baúta", Maria José "Baúta", Deolinda Silvestre, Caetano José Laranjeiro, Urbano "Aguadeiro", Maria Teixeira.
Estes e outros moradores, na sua maioria operários ligados à indústria naval e corticeira, confraternizavam, saboreando as suas merendas.
Alexandre M. Flores, Romeiros na Ramalha, Alexandre Flores no Facebook

Havia arraial, merendas, "comes e bebes", à sombra das oliveiras e das figueiras, desfile de carroças e galeras engalanadas com canas verdes e flores campestres, ranchos de folgazões que debandavam depois para as suas localidades ao som de harmónios, trompetes, flautas, clarinetes e outros instrumentos que traziam das colectividades que possuíam bandas.

Uma tarde na Ramalha.
José Pereira

Nesta festividade joanina, onde se junta o religioso e o profano, alguns romeiros tornaram-se bastante populares, como a «Flora» de Cacilhas e mais tarde do Laranjeiro; o «José da Aurora» da Mutela; os «Carrasquinhos» do Caramujo; o Henrique Banha e sua família; o «Tio Mealhas» da Romeira com o seu grande bombo; Heitor e Manuel Parada, de Almada; a «Ramboia» das Barrocas; o «Marcela» da Mutela; e outros romeiros brincalhões  [...] (2)


(1) António Avelino Amaro da Silva, O Caramujo, romance histórico original, Lisboa, Typographia Universal, 1863
(2) Alexandre M. Flores, Romeiros na Ramalha..., Alexandre Flores (Facebook)

Artigos relacionados:
A procissão de São João
Da Ramalhinha aos Crastos

Informação adicional:
Quinta e Capela de São João da Ramalha/Quinta dos Farinhas [e capela de Santo Antão] (SIPA)

domingo, 14 de outubro de 2018

Largo da Piedade

Uma vista antiga do Largo da Piedade, muito antes de se chamar "5 de Outubro de 1910". Nota-se uma autentica burricada a que não faltavam os lisboetas de cartola e o burriqueiro, a pé, que controlava o desfile.

Uma Burricada [Cova da Piedade], ed. Paulo Guedes & Saraiva, 14, década de 1900.

À esquerda uma carroça que sobe a velha estrada das Barrocas e à sua frente o pátio do Zé da Amora, onde vivia além de outras famílias, a Tia Maria Céu, vendedeira da tradicional fava-rica. 

O prédio frontal pertencia ao Crisógno da Fonseca Coelho, onde também possuia taberna e mercearia. Este edifício veio a ser demolido,mais tarde, para dar lugar à nova avenida Piedade-Laranjeiro.

A outra carroça vai entrar na Rua do Brejo, mais ou menos defronte da tasca do João Guerreiro, que não se vê na foto, e onde os lisboetas e outros de veraneio se banqueteavam com os deliciosos "menús". (1)


(1) InfoGestNet