Cova da Piedade, ed. Comér (bairro das casas económicas e capela), década de 1970. Delcampe |
É pois, bastante interessante analisar esta zona para compreender através do estudo das densidades, de que forma esta ocupação tem influência no contexto da cidade e na maneira de sentir e viver o espaço.
O aspecto relacionado com os usos é muito caracterizador de uma determinada área, revelando as tendências e divisões de conjuntos urbanos perfeitamente distintos. Podemos verificar isso mesmo quando observamos o Bairro Nossa Senhora da Piedade, concebido com o propósito de ser um bairro de casas económicas.
Caracteriza-se pela predominância do uso da habitação e pela presença relevante da Escola EB1 No2 da Cova da Piedade e do Centro Paroquial da Cova da Piedade.
Cova Da Piedade, Escola primária do Bairro, 1959-1960. José Niz |
Pretende-se ainda nesta fase, identificar e perceber como é a relação entre o espaço público e o edificado, bem como reconhecer a relação público privado.
Assim, no Bairro Nossa Senhora da Piedade, existe um predomínio da tipologia de Moradia Geminada com a excepção dos equipamentos e da alameda de entrada do bairro, ladeada por edifícios de habitação colectiva.
Bairro das Casas Económicas, Júlio Diniz, década de 1950. Arquivo Municipal de Almada |
Contudo, acaba por constituir um bairro equilibrado quanto às suas tipologias traduzindo uma homogeneidade aparente, não só entre o edificado, mas também entre as vias públicas e o próprio edificado. (1)
A partir do século XX, a indústria ganhou relevo e tornou-se a actividade principal em Almada. Este facto implicou a ida de mão-de-obra qualificada para a zona e consequentemente uma melhoria significativa na habitação, tendo como ponto assente e de grande relevância fixar esta faixa de população em Almada.
Vista aérea da Escola Naval e do Arsenal do Alfeite (mostra o Bairro de Casas Económicas em construção no quadrante direito superior), Mário Novais. Flickr |
Contudo, devido às Guerras Mundiais, a urbanização atrasou-se e só com o termo da 2a Guerra Mundial o Governo Central, e concretamente pela iniciativa da Câmara Municipal, foram contratados os arquitectos Faria da Costa e Étiènne Groer para elaborar aquele que seria o Plano de Urbanização do Concelho de Almada (1946).
Neste Plano de Urbanização estavam abrangidas as freguesias de Cacilhas, Almada, Pragal, Cova da Piedade, Laranjeiro e Feijó.
Por imposição da topografia as margens ficaram pouco exploradas pelo Plano, à excepção do aterro construído para a instalação dos estaleiros da Lisnave, que representava para o Município um sector de grande importância ao nível regional e nacional.
Vista aérea da Cova da Piedade, ed. Comér (bairro das casas económicas à direita na foto), 1953. Flickr |
Assim, o desenvolvimento de Almada efectuou-se através de dois eixos principais que tinham Cacilhas como ponto de convergência: um desenvolvia-se pelas freguesias emergentes (Almada, Pragal e Cova da Piedade) e o outro percorrendo toda a linha de costa que já anteriormente fazia de eixo orientador e de ligação entre aglomerados nomeadamente a Avenida Aliança Povo MFA.
Relativamente à Freguesia da Cova da Piedade foi possível verificar durante a década de 40 o crescimento de ocupações baseadas em programas de casas económicas, nomeadamente o Bairro Nossa Senhora da Piedade.
Delcampe, Bosspostcard |
A moradia geminada foi a lógica de ocupação privilegiada, bem como a implementação de equipamentos de cariz social, como o Centro Paroquial da Igreja de Nossa Senhora da Piedade e a Escola EB1 No2 da Cova da Piedade. (2)
Cronologia
1933, 23 setembro - o decreto n.º 23052 estabelece as condições segundo as quais o governo participa na construção de casas económicas, das classes A e B, em colaboração com as câmaras municipais, corporações administrativas e organismos corporativos (art.º 1.º);
as Casas Económicas, como passam a ser designadas, são habitações independentes de que os moradores se tornam proprietários ao fim de determinado número de anos (propriedade resolúvel), mediante o pagamento de prestação mensal que engloba seguros de vida, de invalidez, de doença, de desemprego e de incêndio (art.º 2º);
as atribuições do governo em matéria de casas económicas são partilhadas pelo Ministério das Obras Públicas e Comunicações (MOPC) e o Subsecretariado das Corporações e Previdência Social (art.º 3.º);
ao MOPC compete a supervisão da construção de casas económicas (aprovação de projetos e orçamentos, escolha de terrenos e sua urbanização, promoção e fiscalização das obras, administração das verbas cabimentadas e fiscalização de obras de conservação e benfeitorias) (art.º 4.º);
é criada a Secção de Casas Económicas na Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) (art.º 4.º);
1943, 24 novembro - pelo decreto n.º 33278, o Governo promove, em colaboração com as câmaras municipais, a construção de 4000 novas casas económicas, localizadas em Lisboa, Porto, Coimbra e Almada (zona de influência da base naval do Alfeite), criando as classes C e D, destinadas às famílias numerosas da classe média;
1949 - é referido, na Exposição "Quinze Anos de Obras Públicas, 1932-1947", que se encontram em construção ou autorizadas 500 casas económicas em Almada; data do plano de urbanização do Bairro Económico de Almada, da autoria do arquiteto Carlos Rebelo de Andrade;
Bairro Nossa Senhora da Piedade, Usos (Anexo I). Densidade e Forma Urbana... |
1950, 21 maio - ofício da Secção de Casas Económicas do Instituto Nacional do Trabalho e Previdência à DGEMN, informando que em breve lhe será entregue o bairro para distribuição das moradias; solicita ainda, e "após experiência de administração de muitos outros bairros económicos", que sejam elaborados projetos-tipo para as seguintes construções: muros de vedação, anexos destinados a arrumações, garagens, capoeiras e telheiros abrigos;
Chegada do General Craveiro Lopes ao Bairro Económico da Cova da Piedade (27 de Abril de 1952). Pastéis de AlMadan |
1952 - inauguração do bairro, composto por 500 casas. (3)
(1) Densidade e Forma Urbana, Densificação como valor de projecto e estratégia de desenvolvimento urbano Baixa Altura Alta Densidade
(2) Idem
(3) SIPA
Mais informação:
Empréstimo de 20 mil contos para a construção de um bairro de 500 casas económicas na Cova da Piedade
Sem comentários:
Enviar um comentário