Um dos actuais encantos de
Almada está precisamente nos imprevistos aspectos que a cidade satélite
nos desvenda: eis o velho e romântico petroleiro de carro puxado a mula,
contrastando com a moderna linha dos edifícios. Fotografia de António Homem Christo, in Almada, a cidade satélite, Revista Eva, Dezembro de 1960. Imagem: Dias que Voam |
A vila de Almada teria em 1940 sete ou oito mil habitantes, praticamente na totalidade oriundos de almadenses. Lisboa saltou o Tejo e desenvolveu rapidamente Almada, que transformou em cidade sua satélite e sua zona residencial.
Almada, Vista Geral (tomada do Campo de S. Paulo), ed. desc., década de 1940. Imagem: Delcampe, Bosspostcard |
Não tardará muito que Almada atinja o décuplo da sua população de há um quarto de século. Quem como nós, viveu em Almada a maior parte deste espaço de tempo, viu rasgar avenidas e alinhar prédios pelas quintas que alastravam pelas encostas do Vale Caramujo-Caparica;
Paisagem rural. A caminho de Caparica, década de 1940. Pintura de José de Azevedo (1914-2000). Imagem: Alexandre Flores no Facebook |
viu deslocar-se o centro cívico de Almada e modificar-se radicalmente o aspecto de Cacilhas;
Plano Parcial de Urbanização de Almada (PPUA) relativo à localização do Cento Cívico, 1947. Imagem: Câmara Municipal de Almada |
viu regular-se a margem do rio entre Cacilhas e a Cova da Piedade;
Porto de Lisboa, vista aérea de Cacilhas e dos lugares de Ginjal e Margueira, década de 1950. Imagem: Porto de Lisboa |
viu surgir no Laranjeiro-Feijó um grande centro, que não tardará a ser freguesia independente; viu lançar as bases da fixação populacional com a criação de escolas médias particulares e oficiais e com o auspicioso início da construção de um dos maiores estaleiros do mundo.
Vista aérea da variante à Estrada Nacional 10, zona da Mutela e da Margueira, 1958 Imagem: IGeoE |
Os últimos 20 anos abriram a Almada perspectivas inteiramente novas: — de pequeno burgo monolítico, constituído pelo aglomerado de algumas famílias conhecidas, passou a ser a cidade sem coesão, formada na maioria por
Praça da Renovação, década de 1960. Imagem: Delcampe |
Sob o ponto de vista urbano, Almada tornou-se grande; sob o ponto de vista social, não enriqueceu com o mesmo ritmo; e perdeu a unidade que tinha dantes. Almada deixou de ser um meio pequeno, para residência e trabalho de vizinhos; agora é uma cidade cujos habitantes mútuamente se desconhecem.
Almada, Cacilhas - Vista Parcial, ed. J. Lemos, s/n, década de 1950. Vista da Avenida Frederico Ulrich, atual 25 de Abril, Vila Brandão e morro do moinho. Imagem: José Luis Covita |
É fácil de prever o progressivo encarecimento de rendas e a consequente fixação na zona de Almada de pessoas de um mais alto nível de vida. Em contrapartida, é fatal que mais longe venha a construir-se a zona habitacional de classes pobres, para a qual veremos partir, infelizmente, muito bons almadenses de hoje.
Transportando a água, Júlio Diniz, década de 1950. Imagem: O Pharol |
Sob o ponto de vista industrial, Almada aproveitará principalmente a sua privilegiada situação sobre a margem do Tejo, em grande parte ainda por explorar. Aparecerão, por certo, novas instalações portuárias, para passagem de mercadorias destinadas ao "além-Tejo" ou dali provenientes.
Cacilhas, ed. Supercor, 1808, década de 1980. Imagem: Delcampe |
É natural que a política de fixação à terra não permita o estabelecimento de muitas indústrias de outra natureza tão próximo da capital. Mas é sob o ponto de vista turístico que Almada aguarda um grande futuro.
Cova do Vapor, vista aérea (detalhe), 1953. Imagem: Flickr |
Rica de praias e de matas, incomparáveis pela grandeza e pela beleza, c colocada como obrigatória porta de passagem para a extraordinária península de Setúbal, Almada poderá ter no turismo urna das suas grandes fontes de riqueza.
Costa da Caparica, O Transpraia, ed. Passaporte, 615 Imagem: Delcampe, Oliveira |
É isto, em linhas muito rápidas, o que será o futuro próximo de Almada. — E o distante?
O Berlinde por um Óculo, fotografia de Fernando Barão. Imagem: Casario do Ginjal |
Para esse, cumpre-nos lançar os alicerces, para que os futuros habitantes o construam. (1)
(1) Jornal de Almada 07 de agosto de 1966
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