Arrais Ançã perscrutando o mar. Imagem: 200 anos da Costa-Nova |
Se é saveiro, barco do (de) mar, meia-lua, barco da Arte ou casca de noz, é-me indiferente. Os pescadores dão-lhe o nome por que na sua zona é conhecido, e o resto é conversa fiada. Aqui nos barcos tudo é muito "flutuante".
Praia de Espinho, ed. Martins/Martins & Silva, 1113 década de 1900.
Imagem: Delcampe
2 remos ou 4 remos? Médio oriente ou local? Etc., etc. Impossível saber, pois a arqueologia nada nos diz, e a documentação é muito recente. Para mim, o barco grande evoluiu do pequeno (quando as redes aumentaram de tamanho), e este evoluiu da bateira de mar, que por sua vez é uma transposição e adaptação da da Ria para o litoral.
in Marintimidades
Para os bairros lisboetas de Alfama e Madragoa, este então designado por "Mocambo" vieram os de Ovar, Ílhavo, Murtosa e Pardilhó. Eles dedicaram-se à faina do mar enquanto elas vendiam o peixe ao mesmo tempo que enchiam a cidade com os seus pregões tão característicos. Tornaram-se conhecidas por "varinas" as peixeiras ovarinas que vieram para Lisboa.
Pescadores de Ilhavo, desenho de Annunciação, gravura de Pedrozo, c. 1860. Imagem: Hemeroteca Digital |
Esta gente formou ainda "colónias" em Almada, Trafaria e Costa da Caparica. A Costa de Caparica foi, quase até aos nossos dias, uma terra essencialmente piscatória e as primeiras habitações, cobertas ainda por colmo, foram construídas pelos pioneiros oriundos tanto do Algarve como de Ílhavo, no século XVIII.
Costa da Caparica, ed. Roland, c. 1950. Imagem: Migracoes internas - os avieiros e outros |
Os pescadores que exploravam as águas do rio Sado, da costa marítima adjacente e do alto, residiam quase todos em Setúbal, e alguns viviam a bordo das embarcações, como acontecia com os pescadores "ílhavos" que haviam emigrado para esta cidade em grande número.
Também os pequenos "varinos", tripulados por "ílhavos", actuavam junto à costa próxima dos bancos da barra e em todo o rio Sado, onde pescavam as espécies características da região.
Setubal, Castello de S Filippe, diferentes prôas de barcos de mar ílhavos na praia, c. 1868. Imagem: Hemeroteca Digital |
Praias de brancas e finas areias e de mar azul que também é céu. Costa de Caparica de finas e douradas areias numa imensidão onde o olhar se espraia tranquilamente.
Fonte da Telha e Lagoa de Albufeira onde sobrevivem os últimos pescadores das "artes" e das "meias-luas" oriundos de tão díspares regiões, como sejam Ílhavo, Costa Alentejana e Algarve.
Os primeiros habitantes do sítio de Olhão, seriam oriundos do distrito de Aveiro, talvez da freguesia de Ovar e Ílhavo porque em nenhuma praia algarvia se encontram pescadores mais audazes e com melhores disposições para a faina do mar e que se possam aproximar dos pescadores de Olhão.
Nessa altura [finais do século XVI] os Ilhavos, seguidos algum tempo depois por outros povos da Ria, pegaram nas suas canoas de tábua, que em praias de areia dourada facilmente entravam e saiam para o mar e partiram ao logo da costa estabelecendo novas povoações, entrando pelos rios Tejo e Sado e cruzando-se muitas vezes com os locais.
A arte da xávega, azulejos na Estação dos Caminhos de Ferro de Aveiro, F. Pereira, 1916. Imagem: Arquivo Digital |
Assim nasceram e cresceram Matosinhos, a Afurada, Mira, Cova da Gala, Costa de Lavos, Leirosa, Praia de Vieira de Leiria, Nazaré, Cascais, Costa da Caparica, Sto André, Aldeia da Meia Praia, Fuzeta, Olhão, Monte Gordo e Isla Cristina. (2)
(1) Brandão, Raul, Os Pescadores, Paris, Ailland, 1923, 326 págs, 127,7 MB
(2) Nomes de familias de Ílhavo no Litoral Português
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