terça-feira, 26 de maio de 2020

Emilia Pomar de Sousa Machado (1857-1944)

Oh! Noite, oh! Minha amiga! Sê bendita
No teu manto de brilhos estelares,
Bendita cá na terra e lá nos mares,
E na vasta amplidão, sempre infinita!

Emilia Pomar de Sousa Machado (1857-1944)
Romeu Correia, Homens e Mulheres Vinculados às Terras de Almada...

Tua sombra é propícia a quem medita
E sente o coração livre nos ares,
Tendo sóis e planetas por altares
Onde existe a Verdade Eterna escrita.

Oiço a voz do silêncio que revela
A vida de outros mundos, e os mistérios
Ocultos na azulada transparência...

Há tesouros de amor em cada estrela
Que vai rolando em vagalhões sidéreos,
E tenho, e sinto, um Deus na consciência! (1)

Poetisa e educadora, nascida no lugar de Cacilhas pelo mês de Junho de 1857. 

Filha de Júlio Pomar, de origem galega, estabelecido com um armazém de azeite. Mais tarde casou com o comandante da marinha mercante José Severo de Sousa Machado [o filho deste casal foi o comandante Francisco pomar de Sousa Machado, sócio da Empresa Fluvial de cacilhas que teve na travessia do Tejo os "barcos pequenos" Popular, Pacífico e Portugal].

"Quando moça enfeitiçara-a a ópera no Teatro de S. Carlos, e lá ia, acompanhada do pai, atravessando o Tejo, de ida e volta em botes, nem sempre romançosa a corrente fluvial e nem sempre límpido céu estrelado. 

Quando em idade avançada, já no ocaso radiante, sentada ao piano, tocava e cantava algumas óperas do seu maior agrado, que a sua vizinhança escutava emocionada" [texto de D. Francisco de Melo e Noronha]. 

Emília Pomar de Sousa Machado conhecia Italiano, Francês, Inglês, Espanhol e Latim. Publicou o livro de poemas "As Pecadoras", deixando larga colaboração na Imprensa regional e foi correspondente da Revista Espírita Brasileira, "Luz e Caridade". 


Ablução [em "As Peccadoras" cf. Boletim O Pharol n.° 30, setembro de 2016]

Toda à agua do Ceo caindo em baga,
Cotas de chuva brancas, erystallinas,
verdes aguas do mar, potentes vagas,
e toda a que beberam as campinas,
mesmo a que guarda o intimo das fragas,
e de Jesus as lagrimas divinas,
o próprio orvalho que a lua da alva chora
para lavar a pobre pecadora.

Cacilhas, 24-5-1921.

Traduziu do francês o romance de Ernesto Doudet, "O Crime de João Malory", publicado em folhetins no jornal O Sul do Tejo, em 1885. Há um poema da sua autoria, "Ignota Almada", enaltecendo a resistência dos almadenses contra os castelhanos, em 1384, musicado por Leonel Duarte Ferreira.

Possuindo uma seleccionada biblioteca, exerceu constante e profícua acção cultural junto das camadas mais jovens. Muitos lhe ficaram devendo o gosto pela leitura, o amor aos livros e os primeiros passos na aquisição de conhecimentos.

Tia-avó do pintor Júlio Pomar, faleceu em Cacilhas no dia 14 de Novembro de 1944. Tinha 87 anos de idade. (2)

Que vejo além? ruinas e destroços,
o incêndio, a miséria, e tanta dôr...
entre montões de entulho, sangue e ossos:
É Liege e Luvaina: que pavor!


A Rendição (estudo), Adriano Sousa Lopes.
Reactor

O que ouço alem? que voz me traz o vento
que vem do norte, e fere o coração?
É como o estertorar do último alento
e a voz atroadora do canhão.

Que emanações são estas que ora sinto
que a brisa em seu eterno giro espalha?
é um mixto de horror, cheiro indistinto...
É o cheiro dos campos de batalha.

Quem impele nações contra nações,
que assola tudo e todo o mundo aterra?
É um monstro gerado de ambições
e esse monstro cruel chama-se: a Guerra. (3)


(1) De noite, Alguns vultos do Movimento Espírita Português
(2) Romeu Correia, Homens e Mulheres Vinculados às Terras de Almada..., 1978
(3) A guerra, O Domingo n.° 719, semanário republicano radical, 18 de abril de 1915

Mais informação:
Alexandre Flores (fb)
Boletim O Pharol n.° 30, setembro de 2016

Leitura adicional:
Os grandes homens, Revista Luz e Caridade, outubro de 1934

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