sábado, 24 de abril de 2021

Fado anarquista, João Black (1872-1955)

Alexandre Black, avô do aviador civil Carlos Black, possuía uns aterros em Cacilhas, onde meu pai exercia as funções de guarda. Foi ele quem insistiu com o meu pai para me meter na escola, tendo eu já sete anos nessa altura, comprometendo-se ele a pagar as, propinas, dada a situação de pobreza em que vivíamos.

João Black (1872-1955)
Romeu Correia, Homens e Mulheres vinculados às terras de Almada

Graças à sua extrema bondade, cheguei a cursar o 2.° ano do Liceu do Carmo, findo o qual resolvi não continuar por ter sido vítima duma injustiça do júri. Enveredando depois pelo campo tipográfico e jornalístico e prestando fervoroso culto às Musas, resolvi adoptar o pseudónimo de João Black em homenagem à memória do ínclito cidadão a quem devia a minha instrução e a preparação para enfrentar os graves problemas da vida.

Cometendo um acto de justiça, julgo ter dado assim uma prova da minha gratidão. (1)



Ciência humanitária
Um símbolo de altruísmo
Tem como fim condenar
Deus, pátria e militarismo


O mundo há-de assitir
Aos pobres livres do jugo
Espezinhar é o futuro
Da burguesia a surgir


E depois quando existir,
O ideal...
Esplendor e bem-estar
Incitar o patriotismo
A miséria,
O anarquismo tem por base condenar

Mas o povo subjugado
Esfacela-se sob a tortura
Quando o seu mal tinha cura
O ideal desejado

Viver na prisão
Nas garras dos inimigos
Ai ela bem cai no abismo
A fanática humanidade
Pois fia-se nesta trindade
Deus, pátria e militarismo (2)


(1) César Nogueira, elogio necrológico de João Black, A Voz Operária, 1 de fevereiro 1956 cf.  Romeu Correia, Homens e Mulheres vinculados às terras de Almada... 1978
(2) Carlos Loures, A face anarquista do fado

Informação diversa:
Canções libertárias

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