quarta-feira, 28 de abril de 2021

Fado republicano, João Black (1872-1955)

Foi na publicação A Voz do Operário que teve seu cargo urna secção de título Carteira do Operário que durou entre 1905 e 1920 e, na qual foram publicados inúmeros textos de poetas amadores com temáticas de cariz social, e naturalmente textos que o próprio João Black escreveu para essa coluna.

Sociedade de Instrução e Beneficência A Voz do Operário.
Ephemera JPP

A ligação de João Black com o fado começa por volta do ano de 1883, quando na infância começa a cantar. Apenas cinto anos mais tarde já percorria as sociedades recreativas para ouvir e interpretar os seus fados. Posteriormeme começa a procurar utilizar os versos cantados para transmitir ideais de carácter político-ideológico.

João Black, A Cançäo de Portugal n° 19, agosto de 1916
Museu do Fado

Em entrevista ao jornal Guitarra de Portugal, ern 1923, o próprio João Black relata episódios da sua vivência fadista da viragem do século e revela a formação de um terceto, com dois outros grandes nomes do universo fadista, Avelino de Sousa e António Rosa, que se apresentava em clubes e associações.


Nas palavras do próprio identificamos um propósito bem definido desta vertente de abordagem ao fado que temos vindo a retratar:

"Conheciamos a índole do nosso povo e sabendo-o falho de educaplo, mas muito inclinado ao fado, resolvemos fazer pelo verso cantado uma intensa propaganda de sociologia."

João Black fez também uma "peregrinação" pelo Alentejo, acompanhado por Júlio Janota, ambos cantando as mensegens de justiça social e de ataque ao regime monárquico [...]

João Black, Reliquias do fado 1936.
Fadoteca

O seu envolvimento com as ternáficas fadistas manteve-se ao longo de toda a sua vida, fazendo parte de comissões de homenagem, como a realizada para o guitarrista Luís Carlos de Silve (Petrolino)., em 1931 ou em festas de beneficiência.


Poema comemorativo do 50.° aniversário de A Voz do Operário
Casa Comum

Em Julho de 1946 foi também ele objecto de uma sentida homenagem,. Avelino de Sousa o presenteou com estes versos:

Quando o Fado não era um "ganha pão",
Mas um terno motivo espiritval,
— Hóstia de Luz na doce comunhão,
Do Povo, com a Alma nacional...


De entre os nomes mais altos da Canção
Mais popular em todo o Portugal,
Um houve que, de firma mais real,
Se destacou e teve vibração.

Um nome de poeta consagrado
E trovador que soube honrar o Fado
Em verso de divino sentimento!


E ésse nome, que mer'ceu tal destaque
Foi o teu, camarada João Black,
Que o conquistaste a golpes de Talento. (1)



(1) Fado 1910, CML/EGEAC, Museu do Fado, Lisboa, 2010

Informação diversa:
Canções libertárias

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