sábado, 7 de maio de 2022

Caldeirada à Fragateiro

O vapor da carreira dá signal, e a primeira escuma escachoa-lhe das rodas, no instante em que rente do caes uma fragata passa, com uma especie de deus marinho á ré, puxando a vela, emquanto o resto da companha desvia com arpões o costado da pesada traquitana, e o cão de bordo agita a cauda aos flavores da caldeirada que no convez refoga alegremente, sobre um lumareu jovial de pinho e d’urze. (1)

Vapor no Tejo (detalhe), Alfredo Keil 1890.
Casario do Ginjal

Os meus avós maternos foram, ele fragateiro e ela cozinheira do melhor restaurante de Caldeirada à Fragateiro, no Ginjal em Cacilhas, o Gonçalves.

Fragata do Tejo em frente ao cais do Ginjal.
Arquivo Municipal de Lisboa

Gostaria de comentar que nesta caldeirada não entrava a batata. Como elementos principais apenas o que era pescado no Tejo, a cebola e o tomate.

O peixe era basicamente o safio, a raia e a tremelga, a que chamavam "galinha do mar", a irós, o xarroco e, às vezes, corvina quando apareciam "enjoadas" à tona da água.

Lisboa vista do Cais do Ginjal, Cacilhas (detalhe), Horácio Novais.

O cozinhado era feito num alguidar de barro que mais tarde passou a ser em tacho, também de barro. Os ingredientes eram colocados em camadas, a cebola, o tomate e o pescado, por esta ordem e tantas quantas fossem, dependendo do número de comensais e não se mexia, apenas se girava (agitava) o recipiente. (2)


(1) Alfredo de Mesquita, Lisboa Illustrada, 1903
(2) Fernando Castro (comentários) em Receitas e Menus .net

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