Bote Leão de Alcochete. aNOTÍCIA.pt |
Pertencia ao Marquês de Soydos (D. António Pereira Coutinho). De acordo com o Mestre António da Costa Cruz, carpinteiro de machado em Alcochete, terá sido construído na Junqueira. Mantinha rivalidade intensa com o "Diana" (pertencente á viúva do Comendador Estêvão de Oliveira), conseguindo, por vezes, vencer a falua em bolina cercada (cf. o jornal A voz de Alcochete em 1950).
Ainda, de acordo com o Mestre António da Cruz, tinha inicialmente a popa em "rabo de peixe", como a das faluas. Foi este mestre que reconstruiu a popa, alargando a parte que fica fora de água, para evitar que se afundasse tanto, quando carregado.
A popa em rabo de peixe, Barcos de sal (Alcochete), Silva Porto, 1882. Colecção particular em Braga |
A cana do leme foi feita com o calcés do primitivo mastro de "riga" (pinho de Riga) que partiu quando se soltou o estai real num dia de nortada no rio.
Na Igreja de Nossa Senhora da Atalaia, a 7 kms de Alcochete, existe um "ex-voto" que se refere a um milagre que aconteceu no "Leão" numa ocasião de aflição.
Comprado pela Empresa Portuguesa de Navegação Fluvial (detentora do vapor "Alcochete", que fazia a carreira de Alcochete) para eliminar a concorrência ao vapor. Serviu para transportar mercadorias e pessoal de descarga do carvão de navios no cais de Lisboa.
Vapor Alcochete. Desembarque no cais do Alfeite dos sócios da Associação Naval em 1911. Hemeroteca Digital |
Foi novamente vendido e acabou por ficar nas mãos de Manuel Brigue e, depois, de João Baptista Damiães. Após a morte de João Baptista Damiães, o bote conservou-se na praia de Alcochete, porque a viúva e os filhos lhe tinham muito amor e não tinham coragem de se desfazer dele.
Após receberem garantias de que o "Leão" não seria abatido, a família consentiu na transferência da propriedade do bote para a Sociedade que o mandou restaurar para ser oferecido ao Grupo de Amigos do Museu de Marinha.; Sociedade é formada por João Augusto Vieira, José Vieira Júnior, Manuel António de Castro e Luís Lopes Silveira.
Restaurado pelo Mestre António da Cruz antes do seu ingresso no Museu de Marinha. (2)
O bote Leão serviu a população de Alcochete até à década de 60 do século passado, contribuindo decisivamente para o desenvolvimento da vila, pois com as outras embarcações de Alcochete impulsionou uma intensa atividade fluvial, não só no abastecimento de mercadorias à capital, mas também no transporte de pessoas e no carrego e descarrego de navios fundeados no rio Tejo (...)
São três as emblemáticas embarcações que nesta altura faziam a ligação entre Alcochete e Lisboa: a falua Diana e o bote Leão, que em 1907 passaram a pertencer à empresa portuguesa de navegação fluvial, assim como o vapor de Alcochete, que assegurou a carreira entre as duas margens de 1904 a 1958.
O vapor Alcochete que conduziu os convidados ao Alfeite, 1911. Hemeroteca Digital |
Só em outubro de 1917 é que o bote é registado em nome da empresa, por ter iniciado nesse ano a sua função no transporte de carga e passageiros. O bote Leão navegava à vela e a remos e tinha lotação para 26 passageiros.
Em 1925 a embarcação foi transferida para a delegação marítima do Barreiro, e o seu registo ficou afeto ao cais de Alcochete, mantendo-se propriedade da empresa até 1939, ano em que foi vendida pela quantia de quantia de vinte mil escudos a Manuel Brigue, morador em Alcochete.
Em 1941 o barco foi adquirido por João Baptista Damiães, residente em Alcochete pela quantia de vinte e oito mil escudos. Após a sua morte a embarcação ficou durante mais de uma década parada na praia de Alcochete e só em 1967 foi comprada João Augusto Vieira, um dos elementos do Grupo de Amigos do Museu de Marinha, pela quantia de oito mil escudos, que depois a ofereceu ao referido museu.
Transporte do bote Leão de Alcochete para a Doca do Bom Sucesso a 27 de junho de 1967. Museu [digital] de Marinha |
A última reparação do bote Leão foi da responsabilidade do mestre António da Costa Cruz e foi primorosamente pintado por Augusto Rodrigues.
A sua última viagem realizou-se a 27 de junho de 1967 de Alcochete para a Doca do Bom Sucesso, em Lisboa, onde ficou a aguardar a entrada no museu, de cujo património passou a fazer parte.
Mas a entrada tardou e o Leão apodreceu nas águas do rio em que sempre navegou. Contudo durante esse período o Museu de Marinha desenhou planos do bote que permitiram à câmara municipal recuperar a embarcação.
Cana do leme do bote Leão. Museu de Marinha |
Do bote Leão de 1781 apenas resta a cana do leme que está em exposição no Museu de Marinha. (3)
(1) In Alcochete n° 21, junho 2016
(2) Museu [digital] de Marinha
(3) In Alcochete, n° 21, idem
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