quinta-feira, 3 de setembro de 2015

O morro do moinho

Bem perto das Margueiras, existiam terras de cultivo, que garantiam a sustentabilidade dos ocupantes do espaço.

Vista poente de Cacilhas junto ao rio Tejo (detalhe), Plano Hidrográfico do Porto de Lisboa, 1932.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Durante séculos, o trigo, o milho, a cevada e outros cereais, chegavam ao morro sobranceiro ao Tejo, onde os moinhos aí existentes cumpriam a sua função de fornecer aos habitantes a farinha, tão necessária à confecção do pão e de outros alimentos de uso quotidiano [...]

Vista nascente de Almada e Cacilhas junto ao rio Tejo (detalhe), Charles Landseer, 1825.
Imagem: Instituto Moreira Salles

Para facilitar a ligação entre o cais de Cacilhas e a Margueira existia um túnel, que passava por baixo do morro, logo a seguir à Lapa.

Junto à Lapa, encostado ao morro, existia um mirante, que se destacava pela sua altura a par do morro, cuja existência alimentou durante muitos anos a imaginação popular [...]

Detalhe da torre e mirante (arquvivo "O Século", Grupo de Obuses Pesados, Manobras militares do Outono), 1937.
Imagem: Arquivo Nacional Torre do Tombo

No início dos anos 50 instalou-se aí a fábrica de Manilhas do senhor Patraquim, na sequência do qual foi derrubado o muro existente que delimitava a propriedade e impedia o seu livre acesso, e abriu espaço à instalação de famílias no morro do Moinho.

O Berlinde por um Óculo, fotografia de Fernando Barão.
Imagem: Casario do Ginjal

Este local era conhecido de forma carinhosa por ilha do Papagaio Cinzento [...]

Construções no morro do moinho, c. 1950.
Imagem: Bildarchiv Foto Marburg

Como se torna evidente as habitações eram bastante modestas, sem electricidade, água canalizada e saneamento. 

Porém, no núcleo do moinho, algumas delas estavam acabadas com algum esmero, onde não faltava um pátio de entrada, perfeitamente delimitado com gradeamentos de madeira e passadiço do mesmo material até à porta de entrada das casas, onde pontificavam caramanchões e outras plantas ornamentais [...]

O abastecimento de água era feito através de chafarizes públicos. Inicialmente os habitantes do núcleo norte, desciam a encosta e recolhiam-na num chafariz existente no início do Beco do Bom Sucesso, os habitantes do núcleo do moinho transportavam-na do chafariz que também abastecia a Vila Brandão.

Chafariz de Cacilhas, década de 1950.
Imagem: Flores, A. M., Almada antiga e moderna,
roteiro iconográfico, Freguesia de Cacilhas

Mas no início dos anos sessenta a CMA com trabalho voluntário dos moradores levou a água ate à "Rocha", designação também dada à quinta da "Margueira Velha", onde foram implantados dois chafarizes, um no cimo do caminho por onde se acedia ao morro através do então Largo Costa Pinto que servia o núcleo norte e outro junto ao moinho, a poente, que servia esse núcleo.

Miúdos do Moinho, fotografia de Hélio Quartim, 1976.
Imagem: Museu da Cidade de Almada

Por esta altura foram também construídos balneários públicos com duas ou três cabinas de duche (água fria), um luxo [...]

Demolição de algumas barracas no morro de Cacilhas, c. 1970.
Imagem: Lurdes B. Ferreira

Porém, a centralidade da "Rocha" era, e ainda hoje é, o seu moinho de vento. Ao tempo deste relato era habitado pelo sr. João (João do moinho).

Solteirão, com várias namoradas, recriminado por isso pela sua "velha" mãe quando o visitava. (1)


(1) Farol, O, Associação de Cidadania de Cacilhas, As Margueiras, Contributos para a história de Cacilhas, Junta de Freguesia de Cacilhas, O Farol, 2013, 248 págs.

Artigos relacionados:
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O incendio da fabrica da Margueira
A menina do mirante




Moinho e moleiro do Oeste, Domingos Alvão, 1934.
Imagem: Moinhos de Portugal no Facebook

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