Farol de Cacilhas, ed. Passaporte, 20, 1957. Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa |
António Passaporte (1901 - 1983)
António Pedro Passaporte nasceu em Évora em 24 de Fevereiro de 1901, tendo permanecido nesta cidade até à partida de seu pai para África, em 1911.
Crescerá também no meio de máquinas, câmaras escuras, salas de retoque, fotografias e chapas de vidro, que muitas vezes retiveram a imagem de homens aventureiros que em África procuravam melhor sorte.
De regresso a Portugal e já aluno da Escola Ferreira Borges, em Lisboa, participa em todas as festas em que pudesse actuar como artista de teatro.
Em 1923 parte para Madrid à procura de aventura, porque a condição de guarda-livros da Livraria Férin não se adequava à sua personalidade viva e sonhadora.
É em Madrid que irá iniciar a sua carreira de fotógrafo, tendo trabalhado nos Laboratórios Cinemat ográficos da "MADRID-FILMS", onde se torna amigo íntimo do filho do patrão, Don Enrique Blanco, e através dele vem a conhecer a sua irmã Gregória Ascensión Calleja Blanco, com quem viria a casar em Fevereiro de 1927.
Posteriormente, ingressa na firma francesa de "CHARLES ALBERTI" como vendedor de papéis fotográficos e heliográficos, tendo oportunidade de viajar por Espanha e Argentina.
Aproveita as viagens que tem que fazer como vendedor para tirar fotografias de paisagens e monumentos de Espanha.
Estas imagens viriam a ser expostas e logo a dquiridas pelo então Ministro da Cultura e do Turismo espanhol, general Primo de Rivera, para propaganda turística.
António Passaporte lança-se na edição de postais, que assina com o nome Loty, designação que resulta da combinação das duas primeiras letras do nome Lopez e das duas últimas do nome Alberty, os nomes do casal para quem então trabalhava.
Durante a Guerra Civil de Espanha a firma fecha, e António Passaporte inscreve-se na U.G.T., sob influência de seu irmão Bernardo que, entretanto também se instalara em Madrid, e comungava os ideais comunistas.
Recebe então uma proposta para ingressar nas Brigadas Internacionais [...]
É neste âmbito que acompanha as operações de defesa de Madrid, servindo de repórter fotográfico ao longo da Serra de Guadarrama e na campanha de Brunete, onde se deram grandes combates.
Terminada a guerra , António Passaporte regressa a Portugal [...] – 1 deSetembro de 1939 – e inicia a sua actividade de fotógrafo com trabalhos de publicidade e arquitectura, retratos de artistas, fotografias de montras, etc. Obtém então encomendas da Philips, da Fábrica Nacional, do SNI e da Câmara Municipal de Lisboa que, em 1944, lhe encomenda uma reportagem sobre as fardas dos seus funcionários e também de diversas vistas da capital.
A sua primeira grande produção começa com uma edição dedicada à Exposição do Mundo Português, cujo sucesso obriga a família a não se deitar durante sucessivos dias para dar resposta às inúmeras encomendas.
Acompanhado pela mulher e filhos, que imprimiam, cortavam e esmaltavam as provas fotográficas, produzia milhares de postais que eram postos à venda à consignação em papelarias, barbearias e casas turísticas.
Foi no estúdio da Rua Luciano Cordeiro [para onde se terá mudado em 1946] que se dedicou com maior profissionalismo aos postais, auxiliado já então por máquinas industriais de impressão e secagem e dispondo também já de empregados dedicados a esta actividade.
Face ao elevado número de encomendas que o prendiam longas horas ao laboratório, António Passaporte fotografava aos fins de semana, tendo percorrido todo o país, no seu carro [...] onde levava todo o material fotográfico necessário, nomeadamente um tripé-escada que tinha mandado fazer e que lhe permitia fotografar de qualquer ponto.
A sua capacidade inventiva levou-o também a adaptar o próprio carro por forma a poder subir para o tejadilho e ali montar o tripé normal.
António Passaporte. Imagem: Delcampe |
O seu filho Rodolfo, que o acompanhou com frequência, conta que o seu entusiasmo e empenho por encontrar sempre o melhor ângulo, ou a melhor composição, o levavam a trepar por beirais, telhados, torres de igreja, sem olhar a perigos, com a mala de clichés ao ombro e máquina pendurada ao pescoço. (1)
(1) Câmara Municipal de Évora: A família Passaporte e os primórdios da fotografia em Évora
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