Cacilhas (Portugal), Largo do Costa Pinto, ed. Martins/Martins & Silva, 18, década de 1900 Imagem: Delcampe |
Com as festas de Afonso XIII encheu-se muita gente.
Um regabofe.
Da iluminação da Avenida diz-se: — Dos Restauradores para cima dirige o Costa Pinto, dos Restauradores para baixo digere o... (1)
Jaime Artur da Costa Pinto Imagem: Biblioteca Nacional Digital Brasil |
Registrando o desastre que reduziu à miséria os pescadores da Costa de Caparica, não podíamos deixar de inserir o retrato do infatigavel e benemerito deputado por Almada, Jayme Arthur da Costa Pinto, a quem se deve a iniciativa dos soccorros tendentes a minorar o infortunio d'aquelles infelizes.
O digno representante do circulo d'Almada é natural de Lisboa.
Arrojado, emprehendedor e honesto como poucos, e tendo meios de fortuna que o tornam independente, entregou-se a vida politica, e ja por tres vezes tem representado em côrtes o circulo d'Almada.
É, ha uns poucos de annos, secretario da junta geral do districto de Lisboa, eleito pelo circulo do Barreiro, Seixal e Cezimbra, e tem ali tomado parte em quasi todas as discussões, prestando os maiores serviços ao districto de Lisboa e muito especialmente ao seu circulo.
Como deputado é incansavel, e nao ha memoria de quem tenha prestado mais relevantes serviços aos seus eleitores.
A elle se attribue a extincção do grande pantano da Trafaria e as obras que ali se estão fazendo e que vão transformar n'um vasto parque de pinheiros aquella paragem.
Foi tambem por sua iniciativa que se destruiu o famoso forte de Cacilhas, transformando-se n'uma vasta praça aquelle montão de ruinas.
Notícia do jornal O Século em 2 de Março de 1884 Imagem: Antigos Alunos Emídio Navarro |
No grande incendio que ainda ha pouco houve n'uma fabrica de cortiça na Margueira, o sr. Costa Pinto foi um dos primeiros a comparecer prestando valiosissimos serviços.
O sr. ministro do reino Thomaz Ribeiro quiz por essa occasiào agracial-o com a medalha de prata que s. ex.a recusou.
Jayme Pinto, durante a ultima legislatura, tomou larga parte na discussão do imposto do sal, defendendo energicamente os interesses dos pescadores e das classes pobres.
Ultimamente, o governo teve de ceder, n'esta questão. ao judicioso e acertado alvitre do illustre representante, que pediu a extincção do imposto do pescado na sardinha e no carapau, em troca do imposto do sal.
Jayme Authur da Costa Pinto foi um dos directores da Exposição Agricola que ultimamente se realisou na Tapada da Ajuda, e um dos que mais contribuiram para o seu exito brilhante.
É editor de uma publicacao agricola, redigida pelo conselheiro João de Andrade Corvo, e fundou em Lisboa a Empreza Industrial e Commercial Agricola, para a venda de machinismos e adubos que ainda hoje existe.
Taes são os traços priucipaes da vida d`este trabalhador honesto, a quem os habitantes da Costa de Caparica tanto devem. (2)
No dia 23 de Outubro de 1892, realizaram-se eleições para deputados.
Apresentaram-se dois candidatos monárquicos: António José Batista, apoiado pelos Progressistas, e Jaime Artur da Costa Pinto, proposto pelo Governo, através do administrador do concelho, Maurício Carlos Martins de Oliveira e apoiado pelos conservadores da cidade, ligados ao Partido Regenerador, a que se juntou o Progressista António Rodrigues Manitto.
Os Republicanos mais radicais não aceitavam apoiar António José Batista por este ser monárquico.
Assim, juntaram-se aos seus correligionários do resto do país, numa tentativa de luta contra os vícios eleitorais instituídos.
Convocaram uma assembleia democrática para o dia 28 de Setembro, na qual elegeram uma comissão com a incumbência de elaborar o Manifesto dos Abstencionistas, que dirigiram a todo o país.
Os ânimos agitavam-se na cidade, uma vez que o candidato governamental era apoiado pelo administrador do Concelho Maurício Carlos Martins de Oliveira, homem muito contestado, face aos incidentes verificados na cidade aquando do Ultimatum Inglês.
Assim, durante a campanha eleitoral de 1892, António José Batista aproveitou a animosidade existente e utilizou aqueles acontecimentos contra o seu opositor.
O resultado, tal como todo o processo eleitoral do círculo, foi amplamente contestado, pois o presidente da Mesa Eleitoral de Alcácer do Sal fora substituído, no momento das eleições, por um homem da confiança do administrador do concelho.
Alcácer do Sal, ed. Martins/Martins & Silva, 139, década de 1900
Imagem: Delcampe
Foram ainda colocados, por detrás da Mesa, dois homens com sacos contendo votos com o nome de Jaime Artur da Costa Pinto, que entregavam a todos os eleitores na altura da votação.
Estes eram obrigados a introduzir o boletim na urna ou a trocá-lo na presença da Mesa.
Poucos tiveram coragem de efectuar a troca.
A própria urna fora feita na véspera das eleições, com fundo facilmente violável e depositada durante a noite, com os votos do dia anterior, numa casa junto à Igreja.
António José Batista comunicou ao Rei estes acontecimentos, assim como a permanência de dois homens (um dos quais era vogal da Mesa) na Igreja, durante a noite, para poderem trocar os votos já introduzidos na urna.
O Rei prometeu fazer justiça e remeteu o caso ao Ministro do Reino, que não tomou quaisquer providências.
No dia seguinte, pelas dez horas da manhã, as autoridades prenderam os dois indivíduos, escondidos na Igreja desde a véspera, mas a burla já estava feita e o administrador do concelho, longe de remeter os prevaricadores ao tribunal, mandou-os para casa, sem qualquer admoestação.
in Vamos viajar no Tempo, Políticos Setubalenses
Em Cascais, inaugurou-se, na tarde de 5 deste mês [setembro de 1954], um monumento a Jaime Artur da Costa Pinto, que foi deputado da Nação e presidente [, desde 1890,] da Cámara Municipal daquela formosa vila e estância turística.
Nascido em Lisboa em 1846, faleceu nesta mesma cidade no dia 10 de Janeiro de 1909.
Foi um homem de coração generoso e um espírito de largas iniciativas.
Deputado em várias legislaturas pelos círculos de Almada, Barreiro, Lisboa, Mafra, Seixal e Sesimbra, nunca, através da sua acção, procurou servir os seus interesses pessoais, mas, sempre, os problemas locais e as obras de assistência.
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Gomes Netto vs. Costa Pinto por Raphael Bordallo Pinheiro Revista Pontos nos ii 104 107 109 112 159 |
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Foi provedor do Asilo da Ajuda e da Real Casa Pia de Lisboa.
Como presidente do Municipio de Almada, conseguiu a extinção do pantano da Trafaria e a fixação das dunas, com a plantação de pinhais.
Ao longo de 19 anos, como presidente da Camara Municipal de Cascais [SIPA], realizou obra igualmente notável.
Cascais, Praça D. Luís e Edifício Municipal, ed. J Vianna, 19, c. 1885 Imagem: Real Villa de Cascaes no Facebook |
O homem de coraçao manifestou-se em muitas obras: no bairro dos pescadores da Costa da Caparica e na sua qualidade de sócio fundador da Associaçao Protectora das Crianças.
Cascais, entre outros melhoramentos, deve-lhe a construção da Escola-Monumento D. Luis I.
O seu testamento foi escrito em Cascais, na sua casa da Rua da Alfarrobeira, "tendo por tecto a copa das árvores que ha cerca de trinta anos com as minhas mãos plantei, e as quais são para mim velhos amigos que nunca me deram desgostos, mas sim refrigério e gozo".
Esse homem, bondoso e de espirito empreendedor, (fundou também a Companhia Promotora da Agricultura Portuguesa), foi amigo pessoal de L. Mendonça e Costa, primeiro proprietário e director da Gazeta dos Caminhos de Ferro. (3)
Companhia Real Promotora da Agricultura Portuguesa, título de uma acção Imagem: HWPH |
(1) Brandão, Raul, Memórias, Vol. I, Porto, Renascença Portuguesa, 1919
(2) Almanach Illustrado do Correio da Europa, revista ilustrada de Portugal e do estrangeiro, n.º 1278, 30 Jun. 1914
(3) Gazeta dos Caminhos de Ferro, n.° 1602, 16 de setembro de 1954
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