segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Colégio do Menino Jesus, 1876 — 1901

In Memoriam: Henry Bailey Maria Hughes (1833 — 1887)

Costa da Caparica, Manhã na praia da Caparica, Adriano Sousa Lopes (1879 — 1944).
Imagem: MNAC (museu do Chiado)

Ao norte lá está a egreja, simples e singella, como são também os costumes d’aquella boa gente hospitaleira, e ao lado da capella, mas mais para nor-noroeste., o chamado convento, onde está aula, mandado construir em 1870 pelo reverendo padre Hughes [...]

Costa da Caparica, em segundo plano o Colégio do Menino Jesus e a igreja, década de 1900.
Imagem: Arlindo Pereira

Estava então na Costa o reverendo padre Hughes, e o Tio Alfama, que pelos modos lhe pesavam na consciência uns certos e determinados peccaditos, procurou este ver o sacerdote para que o ouvisse de confissão.

Costa da Caparica, 1907.
Imagem: Delcampe

É então desde essa data que aquelle homem começa a derramar sobre a povoação da Costa benefícios sem número. (1)

O reverendo padre Hughes  é um sacerdote cujo único defeito conhecido é julgar-se no tempo do imperador Décio, o furioso perseguidor da cristandade, duzentos anos depois de Cristo.

Confundindo o Sr. Fontes Pereira de Melo com o temível imperador romano, o reverendo Huggs fêz como S. Paulo o Eremita: fugiu da comunicação dos homens, do Chiado e do Diário de Notícias, sacudindo as suas sandálias no Atêrro; e, não tendo à mão o deserto da Tebaida, tomou o vapor de Cacilhas, e foi estabelecer na outra banda a sua cabana anacoreta.

in Ortigão, Ramalho, As Farpas, Volume 5, A Religião e a Arte, Lisboa, David Corazzi, 1888

Conquanto Costa de Caparica seja a mais nova Freguesia do concelho de Almada [em 1973], pode e deve-se orgulhar de ter sido das primeiras terras de Caparica a ter uma escola primária. Pois ela apareceu em 1876, mercê da iniciativa do Reverendo Padre Henrique Bailie Hughes.

[...] Ramalho Ortigão, em um dos seus livros [As Farpas, A Religião e a Arte], embora a ele se faça larga referência, não nos diz que o Padre Hughes e não Huggs, como ele escreveu, com o castigo que lhe foi imposto, deu motivo a que fosse o principal obreiro da instrução primária em Costa de Caparica.
Então tivemos notícias dele no Colégio Dominicano de Lisboa, onde, depois de completar o curso que estudou, se tornou professor.

Durante esta parte da sua carreira diz-se que objectou a ordenação de um candidato a padre argumentando publicamente em resposta à questão da capacidade deste durante o serviço.

Com isto criou inimigos, e estando em perigo de vida, encondeu-se entre a população marítima de Lisboa, trabalhando com grande esforço na salvação destes, por quem era muito amado.

in The TABLET: The Island Recluse

Junto do local onde se encontra a actual Igreja, que nesse tempo se dizia Capela, existiu um vasto edifício Casa de Repouso (?) ou Convívio para reunião e meditação dos habitantes dos conventos que existiam em Caparica, edifício esse que mais tarde passou a ser escola primária e centro religioso — e nunca convento, como o povo erradamente lhe chamou, e ainda hoje é conhecido o local.

Costa da Caparica, Colégio do Menino Jesus dito "convento", imagem estereoscópica (detalhe), c. 1900
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

O Padre Hughes, foi pelo seu dinamismo. o fundador do Colégio do Menino Jesus, cuja imagem se encontrava à entrada da escola, e da qual existe imagem igual mas de tamanho reduzido na igreja da Costa de Caparica, a que o povo chama o Menino Jesus da Praia por ter na mão uma rede a que os pescadores chamam ganha-pão ou chalavar, como ainda hoje se usa em determinadas pescarias.

Menino Jesus, madeira policromada, José Risueño, séc. XVIII.
Imagem: V&A

Desse colégio que existiu até 1901, foram seus professores, José Reis, Pedro Nolasco de Oliveira, José Lima, Francisco e António Calderon. Conquanto se diga que outros foram lá também professores, a verdade é que só estes figuram na Relação do Colégio do Menino Jesus da Costa de Caparica.

Costa de Caparica, Alberto Carlos Lima, colégio do Menino Jesus e casas típicas de pescadores, década de 1900.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

Assim como também é possível que outros padres tivessem lá passado como directores da escola, mas a Relação apenas nos fala além do padre Hughes, dos Reverendos Padres António Rodrigues de Campos e Patricio Russuel [Patrick Bernard Russell ou Patricio Bernardo Russell], além do Irmão Laico Frei Martinho José Nogueira.

Esta escola, que era apenas para rapazes, chegou a ter em aula mais de meia centena, o que era muito para a época.

Costa da Caparica, crianças filhas de pescadores, 1938.
Imagem: Arquivo Nacional Torre do Tombo

Até à data, que se saiba, ainda não se conseguiu localizar onde se encontram enterrados os restos daquele que foi o pioneiro da instrução primária em Costa de Caparica.

Costa da Caparica, Areal, Adriano Sousa Lopes (1879 — 1944).
Imagem: MNAC (museu do Chiado)
Hughes, Henry Bailey (1833 — 1887), padre católico romano; nascido em Caernarvon [hoje Caernarfon, país de Gales] em 1833, onde o seu pai, Howell Hughes, foi cura e depois reitor de Trefriw (1833 — 1839), e de Rhoscolyn, Anglesey (1839 — 1848).

Henry Bailey Hughes entrou para a Igreja Católica Romana, quando tinha cerca de dezesseis anos.

Estudou no Colégio Dominicano de Lisboa e, depois de entrar no sacerdócio, viajou em missionário na Europa, África e Estados Unidos. 

De regresso ao País de Gales, viveu por uns tempos na ilha de S. Tudwal, ao largo da costa Caernarvonshire, tendo pregado em Llyn e outros lugares de Caernarvonshire.

Escreveu hinos galeses e baladas. Faleceu a 16 de dezembro de 1887.

in Welsh Biography Online

Costa da Caparica, 1907.
Imagem: Delcampe

Dele apenas existe um ou outro apontamento dispersos em livros ou jornais e a recordação do povo com que ele passou à história: — o Monge da Costa! (2)

Costa da Caparica, pescadores octogenários, 1938.
Imagem: Arquivo Nacional Torre do Tombo


(1) Júnior, Duarte Joaquim Vieira, Villa e termo de Almada: apontamentos antigos e modernos para a história do concelho, Typographia Lucas, Lisboa, 1896.

(2) Correia, António, Divagando sobre Caparica: pedaços da sua história, Almada, edição do autor, 1973.

Artigo relacionado:
A costa no século XIX


Leitura adicional:
The TABLET: Et Cietera
The TABLET: The Island Recluse

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