Os Noronhas eram os que mais predilecção tinham pelo sitio, segundo se pode concluir dos registos paroquiais. Alguns lá nasceram e foram baptizados. A Senhora Condessa D. Maria do Carmo mantém ainda essas tradição. trocando durante meses, as comodidades da sua casa de Lisboa pelas poucas que lhe oferece a de Caparica.
Armas de Noronha chefe, livro do Armeiro-Mor. Imagem: Wikipédia |
Assistiam na sua Quinta da Torre, bem diferente do que é hoje. Nas dependencias e na torre medieval que deu o nome à quinta e depois ao lugar e que residiam seus senhores e não nas actuais habitações.
A Estrada Nova que liga a Torre à Fonte Santa (ou Fontes Santas como também se lê em antigos escritos) não fora ainda aberta.
Ermida de S. Tomás [Tomaz] de Aquino, Fonte(s) Santa(s), Caparica, 2014. Imagem: Google Maps |
As terras que vieram a ficar de um e outro lado dessa estrada constituíam um todo.
Eram limitadas ao sul pelo largo, ao nascente pela Estrada Velha, ao poente pelo estreito caminho que as separa da quinta da Torre até à Torrinha e Costas de [do] Cão, e ao norte por terras de diversos, foreiras ao morgadio dos Noronhas.
Pela beleza da tapada de ulmeiros seculares, de jardins guarnecidos de buxo à antiga portuguesa, de hortas a que não faltava a nora tradicional, que ainda conhecemos e formava, para fora do actual Largo Bulhão Pato, uma meia-laranja, estas terras eram o melhor atractivo dos seus possuidores.
Para tanques enormes. forrados de azulejos policromos, a água caia, em repuxo, de formosa coluna de mármore. Restos desta coluna, de capitéis e de outras pedras trabalhadas, que se conservam. documentam a importancia das antigas construções.
Quase oculta na tapada existia uma ermidinha da invocação de S. Tomás de Aquino de que restam apenas ruínas quase soterradas à beira da Estrada Nova.
Ermida de S. Tomás [Tomaz] de Aquino, Fonte(s) Santa(s), Caparica, 2012. Imagem: AMO-TE CAPARICA no Facebook |
Os Botelhos tinham a sua casa no Casal do Conde, entre o Monte e a Urraca, próximo da quinta e residência de Francisco Canelas, nosso velho amigo.
O titulo de Conde de S. Miguel evoca uma das mais heróicas figuras do declínio do nosso Império do Oriente — o grande Nuno Álvares Botelho, pois foi concedida, em memória dos altos serviços que prestou ao Pais, a seu filho Francisco Botelho.
Armas de Távora chefe, livro do Armeiro-Mor. Imagem: Wikipédia |
Nuno Álvares Botelho. partiu para a India em 1623. Capitão-general das armadas de alto bordo, bateu as armadas de Inglaterra e de Holanda, que desafiou por um cartel que ficou célebre. Foi governador da India e morreu em Malaca após ter imposto a paz ao sultão de Achem.
Era tal o prestígio deste herói que Filipe III, então rei de Portugal. ao dar os pêsames à viúva, lhe mandou dizer que, a não trazer luto pela rainha da Polónia, o havia de põr por Nuno Alvares Botelho.
Era domingo e dia maravilhoso de Outono. Grande parte da faustosa corte de D. Ioão V, vestia de gala e atravessava o Tejo com destino ao Porto Brandão, onde os barcos vararam na pequena praia. Cavaleiros, acompanhando berlindas e liteiras, formaram luzido cortejo que subiu à Fonte Santa e dai à Torre.
O luxo na corte de D. João V.
Quadros da Historia de Portugal, Aguarela de Alfredo Roque Gameiro.
Imagem: www.roquegameiro.org
No dia 18 do corrente se celebraram em Caparica os esposórios de D. Tomás de Noronha, quinto Conde dos Arcos,
com a Senhora D. Antónia Xavier de Lencastre, filha de Tomás Botelho de Távora, terceiro Conde de S. Miguel, e gentil-homem da Câmara que foi do Senhor Infante D. António.
No mesmo dia se celebram os de D. Marcos de Noronha, filho primogénito do mesmo Conde D. Tomaz e de sua primeira mulher a Senhora D. Madalena de Castro, com a Senhora D. Maria Xavier de Lencastre, filha do mesmo Conde de S. Miguel, cujo filho primogénito Álvaro José Botelho de Távora, se recebeu juntamente no mesmo dia com a Senhora D. Luísa de Noronha, filha do mesmo Conde dos Arcos D. Tomaz de Noronha.
in Gazeta de Lisboa, 29 de novembro de 1731
Estrada Fonte Santa — Porto Brandão, década de 1960. Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa |
O senhor da Quinta da Torre. que era então o 5.° Conde dos Arcos. D. Tomaz de Noronha e Brito, nascido e baptizado em Caparica, viúvo da Condessa D. Madalena Bruna de Castro, filha dos Condes de Assumar, ajustara passer as segundas núpcias com D. Antónia Xavier de Lencastre, filha dos 3.° Condes de S. Miguel, Tomás Iosê Botelho e D. Iuliana de Lencastre (Unhão).
Seu filho e herdeiro D. Marcos Iosé de Noronha e Brito, de dezanove anos, capitão de cavalos. que veio a ser o 6.° Conde dos Arcos e Vice-Rei do Brasil, estava noivo de D. Maria Xavier de Lencastre. de vinte e um anos, filha dos já referidos 3.° Condes de S. Miguel.
Ainda um terceiro casamento se aprazara para esse dia entre as duas ilustres casas: o de D. Luisa do Pilar Noronha. de treze anos de idade, respectivamente filha e irmã dos dois mencionados D. Tomás e D. Marcos. com Álvaro Iosé Xavier Botelho de Távora, de vinte e três anos, filho herdeiro dos 3.° Condes de S. Miguel.
O primeiro casamento a celebrar-se foi o de Álvaro Iosé Xavier Botelho de Távora, filho herdeiro dos 3.° Condes de S. Miguel. Com D. Luísa de Pilar de Noronha. filhas dos 5.° Condes dos Arcos.
O cortejo saiu da Casa da Torre em direcção à ermidinha de S. Tomás de Aquino (hoje quase soterrada e em ruínas) onde se encontrava o cura da freguesia. o ilustrado padre lose António da Veiga (natural de Caparica) que presidiu à cerimónia.
Os très pares de noivos e convidados. seguiram depois para a residência do Conde de S. Miguel, que era entre o Monte e a Urraca.
Nesta ermidinha. quase desconhecida. baptizaram-se e casaram grandes vultos da nobre fidalguia portuguesa. (1)
Ermida de S. Tomás [Tomaz] de Aquino, Fonte(s) Santa(s), Caparica, década de 1970. Imagem: Divagando sobre Caparica |
(1) Correia, António, Divagando sobre Caparica: pedaços da sua história, Almada, edição do autor, 1973.
Artigo relacionado: Torre e Fonte Santa
Informação relacionada: SIPA
Sem comentários:
Enviar um comentário