Chapelle anglaise à Lisbonne, Celestine Brelaz (Lenoir), c. 1830. Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal |
Tu queres que eu conte um sonho que tive
Não sei se acordado, não sei se a dormir?
Foi todo singelo, foi todo innocente:
Tu córas, sorriste, tens medo d'ouvir?
Palais d'Ajuda, Celestine Brelaz (Lenoir), c. 1830. Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal |
Não córes, escuta, não fujas de mim,
Que o sonho foi sonho de casta paixão:
Já crês, não duvídas, verás como é lindo
O sonho innocente do meu coração:
Quai de Sodre, Celestine Brelaz (Lenoir), c. 1830. Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal |
Eu via em teus labios um meigo sorriso,
Em tens olhos negros um terno mirar,
Teu seio de neve a arfar docemente,
Sentia nas faces o teu respirar.
Palais de Necessidades, Celestine Brelaz (Lenoir), c. 1830. Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal |
E tu não fallavas, mas eu entendia;
E tu não fallavas, mas eu bem ouvi!
Amor! na minh'alma a voz me dizia,
E um beijo na fronte não sei se o senti.
Vue de Lisbonne prise de Alfeite, Celestine Brelaz (Lenoir), c. 1830. Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal |
Já vês que o meu sonho foi sonho innocente;
O resto eu te conto; como has de gostar!
É todo singelo, de amores somente;
Verás que ao ouvil-o não has de córar.
Vue de S. Pedro d`Alcantara, Celestine Brelaz (Lenoir), c. 1830. Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal |
Depois apertando teu corpo flexivel,
Cingindo teu collo no braço a tremer,
Ouvi uma falla, e o que ella dizia
Agora acordado não posso eu dizer.
Promenade Publique, Celestine Brelaz (Lenoir), c. 1830. Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal |
Não posso contar-te, só pude sentil-a;
Não posso contar-t'a senão a sonhar:
No sonho innocente, no sonho d'amores,
Do qual, duvidosa, julgavas córar.
Place du Commerce prise du Tage, Celestine Brelaz (Lenoir), c. 1830. Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal |
Não posso contar-t'a, nem sei se acordado
O que ella dizia se póde entender;
Eu sei que sonhando, pensei que era sonho,
E agora acordado a não posso esquecer.
Interieur de l`Eglise de Belem, Celestine Brelaz (Lenoir), c. 1830. Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal |
Mas tu porque escondes a face córada?
Não tem nada o sonho que faça córar,
É todo singelo, é todo innocente;
Que importa um abraço, se é dado a sonhar?
Tour de Belem, Celestine Brelaz (Lenoir), c. 1830. Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal |
Mas tu não te escondas, que eu fico em silencio;
Não quero offender-te a casta isenção;
Não torno a contar-te depois de acordado
O sonho innocente do meu coração. (1)
(1) Bulhão Pato, janeiro de 1847
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