O detalhe da pintura a óleo, 181? - Bailarico em Cacilhas da colecção do dr. José Coelho da Cunha, é primeiro referenciada pelo aguarelista Alberto de Souza e apresentada no livro que lhe é dedicado, edição do filho Fernando Souza, Alfacinhas, Os Lisboêtas do passado e do presente, Lisboa.
O mesmo detalhe aparece mais tarde referenciado por Alexandre Flores em Almada antiga e moderna (roteiro iconográfico, Freguesia de Cacilhas, Câmara Municipal de Almada, 1987) onde o autor identifica o começo da Rua Direita (actual Cândido dos Reis) e o Sítio da Lapa na imagem. Posteriormente, em Para uma História do Fado (edição Corda Seca e Público), Rui Vieira Nery recupera a mesma imagem e não adianta mais informação para além da avançada por Alberto de Souza.
Pela nossa parte, seria esclarecedor ter acesso ao quadro completo mas até hoje não nos foi possível encontrar mais referências sobre a pintura, então pertença do dr. José Coelho da Cunha.
Podemos adiantar com base na imagem que o festejo, o dito bailarico, tem lugar junto ao cruzeiro que existia no local mencionado por Alexandre Flores, e que a dança seria muito possivelmente do tipo Fandango ("teimas", como ainda hoje se diz em certa partes do Ribatejo).
Os barretes vermelhos indicam com forte probabilidade a profissão de catraeiros dos intervenientes. As demais profissões populares seriam tanoeiros e calafates. O boné de pala, a cartola e os sapatos de polimento indicam uma data posterior à década de 1810 proposta por Alberto de Souza.
Em fundo vemos o detalhe do velho torreão/miradouro de Cacilhas e o velame das embarcações acostadas ao pontal. No largo e nas sacadas dos edifícios as famílias, demais moradores e visitantes assistem ao evento. Junto à entrada da Caza de Pasto uma mulher vende laranjas.
Não sabemos se se trata de uma feira, ou de um mercado, dos festejos de S. João, ou outros, relacionados com a procissão de Nossa Senhora do Bom Sucesso, ou mesmo da celebração da vitória das forças liberais sobre os miguelistas.
As classes populares estão no primeiro plano, os rostos têm expressão, trata-se de uma pintura de costumes, documental, do período romântico. Conhecemos outras da década de 1830, dentro da linha iniciada pelos artistas francófonos emigrantes da revolução francesa (Nöel, Delerive, L'Évêque) ou mesmo anterior (Pillement). Até obtermos melhor informação vamos atribui-la a A. E. Hoffman, soldado ao serviço do exército liberal, e datá-la c. 1835.
Com a mesma representatividade, Liberalismo/Romantismo (o anúncio do Setembrismo talvez), de A. E. Hoffman usámos Saltimbancos/Largo do Corpo Santo para ilustrar Almeida Garrett por Bulhão Pato: o jantar ao poeta.
De igual modo, recorremos a A. E. Hoffman, Batalha de Ponte Ferreira (detalhes) de 1835, para compor a dinâmica num dos artigos sobre a Batalha da Cova da Piedade — 23 de julho de 1833. Poder-se-iam evocar outros quadros do mesmo autor, Feira das Bestas no Campo Grande (c. 1833, Museu de Lisboa) e Antigo Mercado da Praça da Figueira (EGEAC, Museu de Lisboa) este último também não claramente atribuído.
Hoje, exceptuando o panorama de Luiz Gonzaga Pereira (se quisermos), o eco do tambor que se repete e uma quase imperceptível melodia da gaita de foles, do Bailarico em Cacilhas, nada resta.
Bailarico em Cacilhas, possível original de A. E. Hoffman, c. 1835. Alberto de Souza, Alfacinhas, Os Lisboêtas do passado e do presente, Lisboa, edição de Fernando Souza. |
O mesmo detalhe aparece mais tarde referenciado por Alexandre Flores em Almada antiga e moderna (roteiro iconográfico, Freguesia de Cacilhas, Câmara Municipal de Almada, 1987) onde o autor identifica o começo da Rua Direita (actual Cândido dos Reis) e o Sítio da Lapa na imagem. Posteriormente, em Para uma História do Fado (edição Corda Seca e Público), Rui Vieira Nery recupera a mesma imagem e não adianta mais informação para além da avançada por Alberto de Souza.
Pela nossa parte, seria esclarecedor ter acesso ao quadro completo mas até hoje não nos foi possível encontrar mais referências sobre a pintura, então pertença do dr. José Coelho da Cunha.
Podemos adiantar com base na imagem que o festejo, o dito bailarico, tem lugar junto ao cruzeiro que existia no local mencionado por Alexandre Flores, e que a dança seria muito possivelmente do tipo Fandango ("teimas", como ainda hoje se diz em certa partes do Ribatejo).
Caza de Pasto, Bailarico em Cacilhas (detalhe), possível original de A. E. Hoffman, c. 1835. Alberto de Souza, Alfacinhas, Os Lisboêtas do passado e do presente, Lisboa, edição de Fernando Souza. |
Os barretes vermelhos indicam com forte probabilidade a profissão de catraeiros dos intervenientes. As demais profissões populares seriam tanoeiros e calafates. O boné de pala, a cartola e os sapatos de polimento indicam uma data posterior à década de 1810 proposta por Alberto de Souza.
Em fundo vemos o detalhe do velho torreão/miradouro de Cacilhas e o velame das embarcações acostadas ao pontal. No largo e nas sacadas dos edifícios as famílias, demais moradores e visitantes assistem ao evento. Junto à entrada da Caza de Pasto uma mulher vende laranjas.
Não sabemos se se trata de uma feira, ou de um mercado, dos festejos de S. João, ou outros, relacionados com a procissão de Nossa Senhora do Bom Sucesso, ou mesmo da celebração da vitória das forças liberais sobre os miguelistas.
As classes populares estão no primeiro plano, os rostos têm expressão, trata-se de uma pintura de costumes, documental, do período romântico. Conhecemos outras da década de 1830, dentro da linha iniciada pelos artistas francófonos emigrantes da revolução francesa (Nöel, Delerive, L'Évêque) ou mesmo anterior (Pillement). Até obtermos melhor informação vamos atribui-la a A. E. Hoffman, soldado ao serviço do exército liberal, e datá-la c. 1835.
Com a mesma representatividade, Liberalismo/Romantismo (o anúncio do Setembrismo talvez), de A. E. Hoffman usámos Saltimbancos/Largo do Corpo Santo para ilustrar Almeida Garrett por Bulhão Pato: o jantar ao poeta.
Lisboa, Largo do Corpo Santo, A. E. Hoffman, c. 1833. Museu de Lisboa |
De igual modo, recorremos a A. E. Hoffman, Batalha de Ponte Ferreira (detalhes) de 1835, para compor a dinâmica num dos artigos sobre a Batalha da Cova da Piedade — 23 de julho de 1833. Poder-se-iam evocar outros quadros do mesmo autor, Feira das Bestas no Campo Grande (c. 1833, Museu de Lisboa) e Antigo Mercado da Praça da Figueira (EGEAC, Museu de Lisboa) este último também não claramente atribuído.
Caza de Pasto, Bailarico em Cacilhas (detalhe), possível original de A. E. Hoffman, c. 1835. Alberto de Souza, Alfacinhas, Os Lisboêtas do passado e do presente, Lisboa, edição de Fernando Souza. |
Hoje, exceptuando o panorama de Luiz Gonzaga Pereira (se quisermos), o eco do tambor que se repete e uma quase imperceptível melodia da gaita de foles, do Bailarico em Cacilhas, nada resta.
Esboços de Paizages d'Mediterraneo e Lisboa, 28. Cacilhas, Luiz Gonzaga Pereira, 1809. Museu de Lisboa |
Rui Granadeiro, 1 de agosto de 2022
Artigos relacionados:
Almada e Val de Piedade no diário de Dorothy Quillinan
Batalha da Cova da Piedade — 23 de julho de 1833
Almeida Garrett por Bulhão Pato: o jantar ao poeta
etc.
Leitura relacionada:
O Pharol n° 25, A Lapa - Um recanto de Cacilhas, 2014
O Pharol, n° 27, Os Bailes em Cacilhas, 2015
Sem comentários:
Enviar um comentário